Kara ON
Oito meses. Apenas mais um mês e terei meu filho em meus braços para poder abraça-lo, beija-lo e cuida-lo. Oito meses que eu realmente pensei que não iriam para frente depois de tudo o que eu passei durante as três primeiras inseminações. Quando eu e Lena perdemos o primeiro bebê, eu não perdi a esperança pois era a primeira vez, e por mais que tenha ficado deprimida eu acreditava que daria certo.
Assim que terminamos a faculdade, compramos uma casa. Logo em seguida eu comecei a trabalhar na CatCo e um ano depois me tornei sócia da revista.
Quando eu e Lena fizemos quatro anos de casadas, decidimos que já estávamos prontas para o próximo passo: aumentar a família.
Fomos na primeira consulta e a médica que nos atendeu foi bastante otimista, já que eu tinha uma saúde ótima e cuidava muito bem da minha rotina de exercícios. Um mês depois fizemos a primeira inseminação e duas semanas depois o resultado POSITIVO no teste piscava como luzes no natal. Nossa felicidade foi tamanha que eu e Lena passamos dois dias inteiros viradas conversando sobre nomes, quarto e a adaptação da casa para receber uma criança. Colocamos uma portinha na escada, compramos protetores de tomadas e trocamos os moveis, substituindo-os por moveis mais seguros sem quinas para que não acontecesse acidentes, também trocamos o piso da casa por carpete com exeção da cozinha que ficou com o piso de madeira escuro. E assim fomos seguindo até o primeiro pré-natal e descobrimos que o óvulo estava alocado nas trompas e por minha saúde precisaria tira-lo. Mesmo devastada eu aceitei depois de muita relutância fazer o procedimento, com lágrimas nos olhos eu sai daquele consultório, mas não tinha perdido as esperanças que eu ainda seria mãe. Mas não foi bem assim que aconteceu.
As outras duas foram devastadoras tanto para mim, quanto para meu casamento que desmoronou completamente com esses dois abortos.
Me lembro até hoje que eu fiz a segunda tentativa e quando descobri que tinha dado certo começamos a arrumar tudo para a chegada de nosso filho, mas isso mudou quando fiz três meses. Recordo de acordar com dores em um dia e quando fui tomar meu banho para seguir até a CatCo vi que não era uma dor qualquer. O sangue escorria por minhas pernas e eu paralisei, acordando somente quando ouço a voz de Lena desesperada segurando-me enquanto lentamente eu caia, enquanto sentia minhas lágrimas caírem se misturando com a água que caia no chuveiro.
O terceiro aborto aconteceu enquanto eu trabalhava. Eu e Andrea estávamos na sala de Cat, estávamos decidindo a próxima capa para a revista. Quando terminamos e me levantei com o objetivo de voltar a minha sala.
Ainda no meio da sala de Cat aquela dor insuportável veio novamente e quando senti algo escorrer por minha perna, eu tive a certeza que estava perdendo meu bebê, e mesmo com a ajuda de Cat e Andrea para me levarem ao hospital não conseguiram salvar meu filho. Ali, naquele momento, foi que eu perdi minhas esperanças. Meu casamento foi para o fundo do poço já que eu e Lena nos afundamos em trabalho e começamos a nos afastar, creio que ela se sentia culpada, e eu me sentia uma inútil de não poder dar um filho a mulher que eu amava. Eu tinha certeza que se aquela situação continuasse ela pediria o divorcio, e quando em uma certa noite ela disse que precisava conversar seriamente comigo eu tive medo e a palavra DIVORCIO martelou na minha mente como um martelo em uma bigorna. "Vamos tentar uma última vez e salvar a nossa família", foram as palavras que ouvi naquela noite com varias outras de motivação que me fizeram tentar uma última vez.
Logo que acordamos fomos ao consultório e fizemos todos os exames necessários, Lena estava entusiasmada, diferente de mim que estava completamente sem nenhuma esperança que aquilo daria certo. Duas semanas depois descobrimos que a inseminação havia dado certo. Lena ficou eufórica, já eu estava me preparando para o próximo aborto, pois eu realmente não achava que aquilo daria certo, coisa que graças a Rao não aconteceu.
Quando eu fiz três meses, foi quando eu tive a certeza que eu teria meu filho, que ele não iria embora como os outros foram. Eu comecei a ter minhas esperanças novamente até chegar onde estou neste exato momento. Completando meus oito meses de gestação com meu filho saudável e forte, que chegará em um mês para trazer a luz em nossas vidas.
Eu tenho medo, mas não vou deixar que esse medo abale essa alegria que eu e Lena estávamos sentindo.
A insegurança sempre existe, principalmente quando alguém que você ama é ameaçada. Mas eu entendi que quando algo que você ama é ameaçado, você tem que ser mais persistente ainda em defender aquilo.
Eu tenho uma família, mãe, irmã, um filho e amigos que estão sempre ao meu lado, me apoiando e me dando suporte em momentos difíceis.
Mesmo todos eles terem lutado ao meu lado, Lena foi a que mais lutou para que o "nós" desse certo. Foi ela que me pediu em namoro, foi ela que me pediu em casamento, e foi ela que em nenhum momento perdeu as esperanças de que poderíamos ter uma família da maneira em que sonhávamos.
Foi ela que lutou pelo o que eu as vezes quase desisti, e além de lutar, me fez ter forças para lutar ao lado dela.
Ela é minha esposa.
Ela é mãe do meu filho.
Ela é minha melhor amiga.
Ela é, e sempre será o grande e único amor da minha vida.
Eu luto por ela, eu defendo ela, eu apoio ela, eu enxugo suas lágrimas, eu participo de seus sorrisos.
Por ela eu faço tudo.
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Parece que alguém ama a Kara não é meismo? E parece que alguém ama a Lena.
Já que ontem teve o ponto de vista da Lena, porque não o de Kara não é meismo? Achei que vocês mereciam saber o que ela passou também, já que em algum momento ela perdeu as esperanças. Na verdade esse capitulo fala muito sobre as esperanças de ambas, uma desistiu mais a outra lutou.
E é assim que nós devemos fazer, ter a esperança de que tudo o que esta se passando agora no Brasil vai passar e vamos ter nossas vidas mesmo que mudadas ainda vamos ter a liberdade que tanto almejamos.
Beijos, e até o próximo cap.
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Amor Sem Gênero
RomanceÀs vezes o amor é o que você mais quer na sua vida, às vezes é o que mais te machuca, e às vezes é o único que você precisa para ser realmente feliz. O que aconteceria se a pessoa que você ama é a pessoa que você mais teme. E se a pessoa que você ma...