Capítulo 3

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Não sabia por que estava tão irritada, mas de repente sentia que havia feito uma besteira muito grande. Acendi um cigarro e tentei não me preocupar. Em vão. A minha cabeça estava cheia de pensamentos sobre a porra da Heyoon e como tínhamos ficado próximas nos últimos meses. E como pude interpretar as coisas de forma tão equivocada – estou tão errada assim?  

Nunca tinha me enganado antes. Não desse jeito. O que porra ela tinha que me confundia tanto?Chega.Não interessa, me forcei a esquecer, não importa se eu estou certa ou errada sobre ela. É uma péssima ideia. Péssima. Eu sabia que não podia dar em cima da garota do Noah, o que me perturbava era o quanto eu não conseguia evitar.Desci a rua impaciente e nervosa, fumando compulsivamente e judiando dos meus lábios, que eu mordia entre uma tragada e outra. Estou exagerando, pensei, é só uma garota. Vai passar. Só uma garota – argh. Por que diabos eu fui gostar de garotas? Homens são mais fáceis, tão mais simples. Óbvios. Já as garotas são de uma complexidade infernal e, infelizmente para mim, viciantes pra porra.Garotas. Garotas. Garotas. 

Era tudo o que vinha na minha cabeça enquanto eu descia a Frei Caneca. Isso e a boca da Heyoon. Ela é hétero, eu insistia mentalmente. Mas quanto mais eu tentava não pensar em mulher alguma, mais a minha cabeça se enchia com cada pedacinho que eu adorava nela. Desgraça. Eu estava prestes a enlouquecer. De repente, parei de andar e respirei fundo. Estava em uma esquina e a senhora ao meu lado me olhava esquisito, como se eu fosse uma descontrolada. Ótimo, estou assustando velhinhas agora. Olhei em volta e vi que havia descido mais do que imaginava, já estava quase no buraco sujo da Rua Augusta que segue o final da Frei Caneca e o sol indicava impiedosamente que já passava de meio dia.Merda. Vou ter que subir tudo de novo nesse calor insuportável!

O pessimismo e um desânimo preguiçoso – resultante da minha vida como uma paulistana sedentária – afastaram meus pensamentos inapropriados por um instante, mas eles logo voltaram, empurrando mais um cigarro para dentro da minha boca. Preciso esquecer isso, concluí. E precisava esquecer naquele segundo. Analisei rapidamente as minhas opções, peguei o celular e, após minha segunda ligação, subi no primeiro táxi que parou.- Perdizes, por favor.Eu não tinha dinheiro para aquilo. Digo, não para o que eu estava prestes a cometer. Uma fuga desnecessária e custosa para o apartamento de um casinho semi-fixo que não tinha culpa de nada naquela história. E que eu provavelmente ia acabar machucando. Eu poderia pensar em um milhão de maneiras de gastar melhor o meu restrito dinheirinho – mas se enrolar nas pernas de uma garota era a melhor forma de tirar a boca e todo o resto de outra da minha cabeça. Foda-se, é uma emergência, contestou o meu ego gigantesco, justificando aquele táxi injustificável.Perdizes, baby, aqui vou eu.

F*ckin' Siyoon (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora