Capítulo 20

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De repente, ela surgiu. O sol já começava a nascer, iluminando cada rachadura e prédio da rua em tons de cinza e revelando toda a sujeira de São Paulo, que se acumulava nos botecos, puteiros e bueiros. A Rua Augusta amanhecia junto com o dia, tomada por sua insônia usual e centenas de pessoas que se recusavam a ir para casa. Inclusive nós.

Vi a Dani descer do seu carro do lado oposto da rua e deslizar entre o trânsito na direção do Santa Augusta. Fiquei em pé, para que ela me visse no meio daquela pequena aglomeração, com um cigarro quase acabado na mão. Ela sorriu para mim e eu fingi que não notei, ainda de longe. Eu continuava com raiva dela, evidentemente, mas não queria ficar nem um segundo a mais sozinha naquela sarjeta enquanto o Noah praticamente comia a Heyoon na minha frente. Argh.

Hora da vingança.

Assim que a Dani chegou do nosso lado da rua, coloquei meu braço ao redor da sua cintura e a apresentei rapidamente para os demais. Sem cerimônias. A Heyoon me olhou e virou a cara, amarga, na mesma hora. Já o Lamar moveu-se um pouco mais para cima na sarjeta, encarando as pernas magníficas da Dani. Nos sentamos no meio do grupo. Comentei qualquer coisa idiota que me veio à mente e, logo na primeira frase, me confundi e troquei uma palavra por outra.

- Caralho – a Dani riu da minha cara – Cê tá realmente bêbada, hein?

A pergunta era quase retórica e, portanto, não merecia uma resposta da minha parte. Traguei mais uma vez o meu cigarro, jogando a bituca no chão, e olhei para a Dani, que ainda aguardava uma resposta minha.

- É... – resmunguei – Sorte a sua.

Então a puxei para perto de mim, num beijo quase sem querer. Eu estava completamente embriagada. Se você pode jogar seus joguinhos sujos comigo e depois me descartar, isso me dá direito de fazer o que eu bem entender contigo, não é? Pois bem. A Dani parecia não discordar. E daí para frente, exceto pelo que agora me falha à memória, nós não nos desgrudamos mais.

Parecíamos duas adolescentes, nos agarrando pela roupa e nos beijando insistentemente, bêbadas em uma calçada suja, montadas uma em cima da outra. Logo nos tornamos o sucesso de todos os passantes da Augusta – mas eu não estava ligando ou sequer ouvindo o que os outros diziam. Ia atacar a Dani com todas as minhas vontades e frustrações. O Noah comentou qualquer coisa a respeito, brincando comigo. Olha quem fala. Mas depois de um tempo, ele se viu obrigado a dar atenção para o nosso amigo, plantado ali de vela, largando um pouco a Heyoon de lado.

Parece que o jogo virou, não é mesmo?

Ah. Doce vingança. A cada beijo de tirar o fôlego que eu emendava na Dani, podia sentir a raiva da Heyoon na nossa direção. Frustrada com o fracasso do seu planinho de merda para me torturar a manhã toda. Agora era justo o contrário e eu estava adorando cada segundo daquilo. O único problema é que as minhas mãos...

...estavam na garota errada.

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Senti as pernas mornas da Dani encostando no meu corpo, uma de cada lado da minha cintura, enquanto eu afundava o rosto no travesseiro. Ela passou a mão lentamente pelas minhas costas, me tocando apenas com as pontinhas dos dedos e me arrepiando inteira. Tive vontade de me encolher, mas não me restava qualquer força para me mover. Estava acomodada, tranquila. Não queria mais sair dali.

Suas coxas deslizavam pela minha pele e as pontas do seu cabelo faziam curvas suaves em mim. Quando de repente, um beijo. Inesperado. Daqueles que talvez pudessem passar despercebidos, que quase não se fazem sentir de tão delicados. Era tudo gostoso.

- Quando foi... – ouvi a Dani perguntar baixinho, por cima do meu ombro – ...que cê fez essa?
- Hmm?! – murmurei, exausta, afundada no travesseiro.
- A tatuagem – ela explicou e eu senti seus dedos desenharem lentamente no alto das minhas costas, no mesmo lugar em que há pouco ela me beijara – Cê não tinha ela na última vez que te vi.
- Do que cê está falando... – eu murmurei impaciente, com uma preguiça enorme de conversar – Vem aqui... vem...

F*ckin' Siyoon (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora