Capítulo 11

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Há dez meses – foi quando nos conhecemos. Eu estava saindo do trampo na Vila Madalena, onde atualmente sou assistente e escrava pessoal de um fotógrafo folgado pra caralho, quando liguei para ver onde o Noah estava e ele sugeriu que eu passasse no Starbucks da Alameda Santos para conhecer a garota com quem ele andava saindo.- Claro – eu respondi, acendendo um cigarro a caminho do metrô.Idiota. Completamente despreparada para o caos que estava por vir na minha vida.Peguei a linha Verde desavisada. Assim que cheguei, avistei ele de longe – estava sentado numa das poltronas do Starbucks, ao lado de uma morena. Hmm. Lembro de vê-la sentada com as pernas sobre a poltrona, meio afundada no encosto e largada, cheia das tatuagens. Fui imediatamente com a cara dela. Ele nos apresentou, empolgado, tagarelando qualquer coisa na tentativa de impressioná-la enquanto eu fingia ouvir, ignorando cada palavra que saía da sua boca e sem tirar os olhos da Heyoon. Que mulher linda, pensei.


E tá. Não me entendam mal: eu nunca pretendi me apaixonar. Nem por ela – aliás, muito menos por ela – e nem por ninguém. Só a ideia de trair os meus anos de amizade com Noah já me embrulhava o estômago. Argh. Também nunca fui de me interessar muito por garotas héteros, mas a Heyoon tinha alguma coisa diferente. Não sei. Me senti atraída por ela desde o instante em que a conheci e o sentimento só piorou com o tempo.


Em que diabos eu fui me meter. A partir daquele dia, passei a encontrá-la o tempo todo. Sempre com o Noah. Nós tínhamos o mesmo tipo de humor, os mesmos interesses. Nossa lista de favoritos era assustadoramente idêntica. A mina era foda. Tudo o que ela fazia me dava vontade de estar do seu lado. E eu gostava de cada segundo. De como ela me xingava depois de cada piada ruim que saía da minha boca, de como nos tratávamos com a intimidade de quem se conhece há anos. Como ela virava na minha direção e cochichava "o homem da casa está falando", em deboche, sempre que discordava de algo que Noah estava dizendo. Gostava do sorriso dela. E de como nós ríamos juntas, até a barriga doer. E acima de tudo, das vezes em que sentávamos os três juntos na sala para ver TV e as mãos dela me faziam cafuné. Desgraça. Heyoon frequentava o nosso apartamento quase diariamente. As nossas conversas duravam horas e horas e eu tinha vontade de beijá-la cada vez que ficávamos sozinhas. Ou incrivelmente bêbadas – mas nunca fiz nada. Nunca nem insinuei.Isto é, até o último sábado.


Meses depois de nos conhecermos, quando se tornou realmente insuportável, liguei para um dos meus melhores amigos e admiti. Eram 3 da manhã. Tive que descer para a rua com o celular – assim o Noah não ouviria nada – e estava um frio desgraçado. Heyoon havia passado o dia inteiro lá, andando só de camiseta pela casa e sendo maravilhosa em cada maldito passo que dava. Como eu odiava aquilo. Lá pelas 7 da noite, Noah desceu até a Roosevelt onde um amigo estava comemorando o aniversário e Heyoon quis ficar. Era pra ser só uma passada, mas ele demorou e acabamos passando a noite inteira juntas.


Nunca ri tanto. Estávamos fumando um, engolidas pelo sofá, e tendo a conversa mais idiota sensacional sobre os patos no Ibirapuera quando Noah finalmente voltou. Já era quase meia noite. Lembro de estar totalmente chapada e ficar olhando ela se levantar e ir até a porta para beijar ele. Me senti desconfortável, foi estranho. Como se o meu estômago se contorcesse – ou era o meu coração que apertava? Para. Só para. Não queria me sentir assim. Já tinha visto eles juntos um milhão de vezes, mas por algum motivo não conseguia desviar o olhar. Sentia a minha respiração pesar. Incomodada. E era tão besta – Heyoon colocou os braços nos ombros dele e eles se abraçaram, num beijo rápido. Ela sorriu. Não foi nada demais. Não foi nada.Foi insuportável.


E claro, eu fiquei absolutamente transtornada depois. O sentimento parecia me consumir por dentro. Me tranquei no meu quarto pelas horas seguintes, inquieta, incapaz de admitir para mim mesma o quanto gostava da porra dela. Fumei um cigarro atrás do outro, apreensiva. Sentia uma vontade tonta de chorar. E foi quando percebi que não conseguia mais evitar o buraco em que eu havia me enfiado.


- E-eu acho que estou apaixonada... – confessei para o Josh, assim que ele atendeu ao telefone – ...eu não o que fazer, e-eu...Estava tremendo de frio, sentada na porra da sarjeta da Frei Caneca, e chorando todo o meu coração, tentando não falar alto com medo de encarar a verdade.- O que aconteceu? Você tá bem!?!Josh soava extremamente preocupado, assustado pelo horário e pela minha voz do outro lado da linha. Acho que nunca me senti tão insegura. Me arrependia a cada palavra que saía da minha boca.- E-eu tô apaixonada p... pela Heyoon.É. O mal estava feito.

F*ckin' Siyoon (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora