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As festas de fim de ano tiveram um significado todo especial pra mim

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As festas de fim de ano tiveram um significado todo especial pra mim. Vitória tinha chegado para completar a nossa alegria. Todo o sentimento que sempre se tem no final de cada ano veio muito mais forte dessa vez pelo fato de eu ter me tornado pai. Ter filhos não era uma prioridade na minha vida. Não que eu nunca tivesse desejado, mas meu trabalho consumia grande parte do meu tempo e até então eu nunca tinha tido nenhum relacionamento duradouro ou forte o suficiente para despertar em mim a vontade de construir uma vida e uma família com alguém. Mas então Vitória chegou. Como um presente inesperado, ela foi ganhando espaço no meu coração em tempo recorde, onde agora ela ocupa por inteiro. Era muito boa a sensação de ter alguém que depende de você, de ser um exemplo para um filho. Eu tinha meus pais como modelo, os amava e era grato por todo o amor e educação que me deram. Queria fazer o mesmo por Vitória e queria que ela me visse da mesma forma que eu via os meus pais.

Cada vez a expectativa crescia mais. Era praticamente certo que Agatha e eu ficaríamos com ela, mas enquanto a notícia oficial não chegava, nós dois ainda ficávamos naquela espera angustiante. Agatha não via a hora de ter seu nome como mãe de Vitória em sua certidão de nascimento. E eu, embora não pudesse ser um pai no papel, já era de todo coração, e não via a hora de cumprir o meu papel de forma real, sem dúvidas ou medo de que alguém a tirasse de nós.

E é encarando o porta retrato com uma foto que eu tinha revelado de nós três juntos no Natal que eu lamento por não estar em casa neste momento. É meu aniversário e tudo o que eu queria era não estar de plantão. Eu não sou adepto de grandes comemorações, muito menos faço questão de ter que dar plantão, mas é o meu primeiro aniversário com Vitória e dessa vez merecia ser comemorado de forma especial. Meus pais até tinham ficado aqui com Felipe para comemorarmos todos juntos, mas eu não contava com uma mudança na escala de médicos e eu precisar passar todo meu dia de aniversário dentro do hospital. A comemoração teria que ficar pro dia seguinte. Batidas na porta me tiram dos meus pensamentos e eu volto a colocar a foto sobre a minha mesa, permitindo que a pessoa do outro lado da porta entre.

- Atrapalho? – Daniela pergunta ao entrar parcialmente em meu consultório.

- Não, só estava descansando um pouco. – respondo. – Algum problema?

- Não, apenas queria a sua companhia para um café. Pode ser? – ela me pergunta enquanto sorri.

- Claro. – respondo depois de olhar as horas. Eu tenho tempo até meu próximo horário de monitoração dos meus pacientes.

Deixo que ela tome a frente enquanto a sigo. Daniela era nova no hospital, mas sua competência e alegria já tinham ganho a simpatia de muitos ali, inclusive a minha. Nos dávamos muito bem, dentro do hospital, como fora também. Tínhamos boas conversas, eu quase sempre dava uma carona pra ela e uma vez havia rolado alguns beijos. Nada demais, apenas duas pessoas que tiveram vontade e não se reprimiram em ceder. Nossa conversa acabou sendo interrompida por outros colegas, que traziam um bolo junto com eles e começavam a cantar parabéns, chamando a atenção de todos à nossa volta.

- É seu aniversário? – ela me pergunta, surpresa. – Por que não me falou nada?

- Ele não gosta muito de comemorar. Mas todo ano quebramos essa regra mesmo assim! – Guilhermina, uma das recepcionistas mais antigas do hospital e por quem eu tinha um carinho enorme, responde por mim.

- Parabéns! – Daniela me abraça. – Fico devendo um presente. – ela sussurra antes de me soltar e me lança um olhar sugestivo. Não tenho tempo de reagir, com todos se aproximando de mim para me cumprimentar, embora eu já tivesse recebido os parabéns de cada um deles ali mais cedo.

- Venha querido, parta o bolo. – Guilhermina me chama, entregando-me uma faca. – Não esqueça de fazer um pedido.

Eu rio enquanto pego a faca de suas mãos. Guilhermina tratava a todos ali de forma carinhosa. Ela me tinha como um filho e eu a tinha como uma mãe. Ela muitas vezes falava comigo como se eu fosse uma criança, como nesse momento, pedindo que eu fizesse um pedido antes de partir o bolo. A última vez em que eu tinha feito isso havia sido ainda na minha infância. Com o tempo eu fui perdendo a crença nessas coisas e apenas cortava o bolo sem delongas, mas dessa vez eu fiz diferente. Eu realmente desejei algo. Eu peço internamente para que Vitória fizesse de mim um pai, que Agatha e eu conseguíssemos ficar com ela. Só então eu parto o bolo, sob aplausos animados de todos.

O meu plantão seguiu sem grandes acontecimentos, até chegar ao fim. Já é dia quando reúno meus pertences para voltar pra casa. Daniela tinha me pedido uma carona, mas desta vez eu havia negado. Ela demoraria um pouco mais ali no hospital e tudo o que eu queria era chegar em casa, descansar e estar disposto para o almoço em família que eu teria como comemoração atrasada do meu aniversário. Depois de pegar todas as minhas coisas, finalmente tomo o rumo de casa.

Antes mesmo de ir para o meu apartamento, paro no de Agatha. Eu queria ver Vitória e combinar com Agatha o horário do almoço. Mas ela não estava em casa, tinha saído para fazer algumas compras. Então fico matando as saudades da minha filhota enquanto Ivone, a babá que Agatha e eu tínhamos contratado, faz uma mamadeira para ela. Acabo subindo para o meu apartamento pouco tempo depois. Estava muito cansado. Meus pais estão na sala e recebo um abraço de cada um deles assim que chego, indo depois para o meu quarto, onde encontro Felipe ainda dormindo na minha cama. Ele sempre se aproveitava dela quando eu estava de plantão. Acabo tomando o rumo do quarto que estava sendo ocupado pelos meus pais e apago ali mesmo. Quando acordo, já estava no horário de almoço. Tomo um banho, coloco uma roupa e ao chegar na sala, todos já me esperavam. Agatha também está aqui com Vitória e logo vem até mim.

- Fui no seu apartamento hoje mais cedo, mas você não estava. – eu digo enquanto sou abraçado por ela, aproveitando para sentir o conforto e a sensação de casa que isso sempre me dava.

- Sim, fui comprar o seu presente. – ela responde, me estendendo o embrulho que ela tinha em mãos.

- Você sabe que não precisa disso.

- E você sabe que eu nunca obedeço. Anda, abre!

Atendo ao seu pedido e logo depois de ver o que ela havia me comprado, minha mãe nos chama para a mesa. O cheiro da comida estava divino. Minha mãe ama cozinhar e tudo o que ela fazia era de comer rezando. Comemos em um clima animado enquanto falamos todos ao mesmo tempo. O celular de Agatha toca e ela se levanta para atender. Algum tempo depois, ela volta para a mesa, com os olhos marejados.

- Aconteceu alguma coisa? – pergunto, preocupado. Ela apenas nega com a cabeça, enquanto morde seu lábio inferior. Logo um sorriso enorme toma conta de seu rosto, me deixando confuso e extremamente curioso. – E então?

- Era a Bianca. – ela começa a falar e logo o meu coração começa a bater mais forte. – O processo de adoção chegou ao fim. Nós vamos ficar com a Vitória! – Agatha diz, em meio a sorrisos e lágrimas.

- É sério? – eu pergunto, sem reação. Tinha esperado tanto por isso que agora que a confirmação vinha, parecia até irreal.

- É oficial! Ela é nossa!

E contrariando tudo o que eu pensava, meu pedido de aniversário tinha sido atendido.

O Elo Entre Nós DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora