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Pensei que nada fosse mudar, mas mudou. Não somente entre nós dois, mas dentro de mim também. Eu não paro de pensar em Agatha, de relembrar aquela noite, e isso é assustador. Assustador porque eu nunca tinha sentido algo tão forte como o que estou sentindo agora, e também porque é justamente por ela. Por minha melhor amiga. Eu estou nutrindo sentimentos pela única pessoa que eu não deveria. Mas como se tem controle sobre isso?
Nos meses que tinham se seguido, nós continuamos normalmente nossa rotina junto com Vitória, ou pelo menos tentamos. Tanto eu quanto Agatha víamos que já não era a mesma coisa. Nossa relação não era natural como antes e isso me incomodava. Não era o que eu queria. Pra mim nossa amizade estava acima de tudo e constatar que nem isso era mais como antes me causava medo. Medo de isso se tornar tão estranho, que ela se afastasse de mim aos poucos.
- Cheguei, Moreira! – grito ao entrar no apartamento de Agatha. Ter uma cópia da chave facilitava muito.
- Entra aqui no quarto da Vitória! – ela grita de volta e logo me encaminho pra lá.
Encontro Agatha tentando colocar o biquíni em Vitória. É domingo e será a primeira vez que levaremos nossa pequena para a praia. Tinha sido uma forma que eu tinha encontrado de nos divertirmos com ela, e consequentemente, tentar trazer de volta a cumplicidade e sintonia que tínhamos antes das coisas começarem a ficar estranhas entre nós dois.
- Espera, deixa que eu te ajudo. – eu digo, me aproximando das duas.
Agatha agradece a minha ajuda. Vitória nos seus 6 meses de vida, já é muito sapeca e mal para quieta. Sofremos para arrumá-la, Agatha principalmente. Eu tinha os meus artifícios pra mantê-la quieta e colaborativa. Funcionava na maioria das vezes e Agatha sempre ficava indignada com isso. Eu sempre ria da forma incrédula que ela me encarava quando eu conseguia algo com nossa filha enquanto ela já tinha tentado mil formas de conseguir.
- Como você consegue? – ela me pergunta ao me ver acabar de colocar o biquíni em Vitória, e como sempre, eu a deixo sem resposta. Eu gosto que ela precise de mim. Não quero perder isso também.
Vamos para uma praia mais distante. A que ficava perto do nosso prédio trazia lembranças demais e eu não queria trazê-las para minha mente, e acredito que Agatha também não. Depois de um trajeto um pouco longo, chegamos na praia e logo procuramos um lugar tranquilo para ficar com Vitória. Ainda é cedo, mas a praia já está cheia.
Tenho que lidar com Agatha desfilando pela praia de biquíni e chamando a atenção de todos. Eu sei bem o quanto estas curvas dela são capazes de fazer qualquer homem se perder. Eu já havia me perdido uma vez, afinal. Não julgava quem se deixasse encantar. Mas não precisam ficar babando na minha cara, precisam? Nem mesmo ver que ela estava comigo e Vitória fazia com que deixassem de olhar. Não que isso significasse alguma coisa, mas estarmos os três ali juntos, poderia passar a imagem de que éramos uma família. Mas nem mesmo isso parece intimidar os homens.
Mas apesar disso, nossa manhã foi perfeita. Nossa Vitória tinha adorado o mar e todo o tempo em que brincamos na areia, ela havia adorado. Voltamos pra casa e depois de descansar um pouco, volto a passar no apartamento de Agatha para levá-las pra almoçar. Vamos a um restaurante próximo de onde moramos e que eu e Agatha sempre gostamos de ir. Enquanto esperamos nossos pedidos, eu observo Agatha dar a mamadeira para Vitória. É uma cena maravilhosa de ver. Eu adoro observá-las, nunca me canso. As duas são perfeitas juntas. Completamente lindas. Minhas duas meninas, minha família.
Meu coração erra uma batida ao constatar que eu havia sido descuidado e tinha feito o que não deveria. Eu tinha me apaixonado por Agatha. Uma única noite e ela tinha me pego de jeito. Ou talvez ela viesse ganhando espaço no meu coração ao longo desses quatro anos de forma tão silenciosa, que eu não havia notado. Era mais provável que fosse isso. Agatha levanta sua cabeça e seu olhar encontra o meu. A forma como eu a encaro provavelmente a incomoda, já que ela levanta-se da mesa e parece querer sair correndo daqui.
- Vou trocar a fralda da Vitória. – ela diz apenas, antes de pegar a bolsa com as coisas de Vitória e caminhar em direção ao banheiro.
Eu tenho que parar com isso. Parar de vê-la de uma forma que não dá, parar de demonstrar que ela me atrai. Eu tinha acabado de ter a resposta que eu já previa. Ela não tinha saído da mesa para trocar a fralda de Vitória. Não tinha nem uma hora que ela havia feito isso. Ela queria apenas sair de perto de mim. Ela tinha notado a mudança, e por sua reação, não estava disposta a voltar ao assunto daquela noite e das consequências dela. Eu preciso sufocar o que estava começando a sentir por ela se eu quisesse manter ela e Vitória perto de mim. Como se fosse um sinal dos céus, meu celular toca e eu vejo o nome de Daniela no visor.
- Oi Daniela, como vai? – falo assim que atendo.
- Oi Rodrigo. – ela me cumprimenta. – Você está livre hoje à noite? – me pergunta. – É que faço aniversário amanhã e resolvi comemorar hoje. Estou te convidando pra vir pro meu apartamento. Vai ser um jantar pra poucos, só alguns amigos e um pessoal do hospital.
Daniela e eu nos dávamos cada vez melhor. Ainda rolava algo vez ou outra, mas com menos frequência depois da minha noite com Agatha. Mas ela poderia ser um bom caminho para eu deixar de lado esses sentimentos que estava desenvolvendo por minha melhor amiga. Afinal eu tinha que partir de algum lugar, não é? E tem de ser antes que seja tarde. Daniela parece gostar de mim, nos entendemos bem. E agora ela estava me convidando para uma festa na sua casa, e se era para poucos, é porque ela me considerava especial. Por que não ir e ver no que isso daria? Não estava perdendo nada.
- Claro, pode contar comigo. – respondo.
Quando finalizo a ligação, Agatha volta com Vitória. Logo depois dela, o garçom chega com nossos pedidos. Comemos em silêncio, Agatha está calada e eu prefiro não puxar assunto. E foi assim no restaurante e durante todo o nosso trajeto até em casa. Ajudo Agatha a tirar Vitória do carro e depois de dar um último beijo na minha pequena, a entrego para a mãe.
- Até amanhã. – eu digo, voltando para o meu lugar no carro.
- Pra onde você vai? – Agatha me pergunta ao me ver entrar no carro. – Você não vai jantar lá em casa? É domingo. – ela me lembra, embora não seja preciso. Eu jamais esquecia. Meus domingos sempre foram pra ela, mas até eu mesmo sei que depois desse almoço seria melhor ficar longe.
- Não vai dar. Vou no shopping comprar um presente pra Daniela. – respondo. – É aniversário dela e ela me convidou pra jantar.
- Bom jantar então. – ela diz, antes de me dar as costas e se encaminhar para dentro do prédio sem nem se despedir direito, parecendo irritada.