Eu tinha levado o maior susto quando fui informado que Agatha estava no hospital. Achei que algo tivesse lhe acontecido. Jamais teria imaginado que ela viria até mim com uma recém-nascida nos braços. Bebê essa que ela havia encontrado no estacionamento do supermercado. Dentro de uma lata de lixo! O quão cruel isso podia ser? Não era o primeiro caso que nos deparávamos no hospital e infelizmente não seria o último, mas eu nunca conseguia entender os motivos de se fazer algo tão cruel com um pequeno ser que não tinha culpa de não ser desejado, ou das dificuldades que seus responsáveis enfrentassem. Por que uma lata de lixo? Por que algo tão sujo? Nenhum anjinho merecia. Nesse caso, uma anjinha. Uma menininha tão linda, que foi impossível eu não me apaixonar. Não era a primeira criança que eu cuidava, e também não tinha sido a primeira que eu tratara nessas condições, mas ela tinha me tocado de forma diferente. Não sei se era pelo fato de Agatha tê-la trazido até mim e tê-la me confiado, mas assim que pus os olhos nela, senti uma enorme necessidade de cuidar dela, de vê-la bem. E o que estivesse ao meu alcance para que ela se recuperasse, eu o faria.
- Nas condições em que ela foi encontrada, ainda corre risco de infecção. Isso somado à hipotermia e ao baixo peso, necessita que ela precise de mais cuidados. Mas se ela continuar respondendo bem como fez tão bravamente nesses primeiros instantes, não teremos com o que nos preocupar. – eu explico para a minha amiga enquanto conversamos na lanchonete.
- Espero que tudo corra bem. – ela me responde.
- Você parece ter ficado bem mexida com essa história não é? – observo. Agatha tremia quando chegara ao hospital, seu rosto apavorado. Vê-la daquela forma assustou o inferno fora de mim.
- E tem como não ficar, Rodrigo? Nem acreditei quando a encontrei. Essas coisas parecem tão irreais, até que acontecem com a gente. – suspira. – Sinto tanto por ela. Mal chegou à esse mundo e já está enfrentando grandes batalhas.
- Mas ela já tem mostrado uma personalidade bastante forte. – sorrio. – Tenho certeza que ela vai se recuperar bem e então vai poder crescer da forma como se deve.
- Por falar em crescer... precisamos comunicar à polícia. Eles precisam tomar as medidas necessárias quanto à esse abandono.
- Bem lembrado. Posso ir com você amanhã depois que eu sair daqui do hospital.
- Vai ser muito bom. – ela diz, segurando minha mão e ficamos em silêncio por algum tempo, no conforto que a presença um do outro sempre nos trazia, até que eu sou bipado.
- Precisam de mim. Vou ter que te deixar. – digo enquanto me levanto. – É melhor você ir pra casa descansar. – falo, e antes que ela abra a boca para dizer algo, eu a interrompo, já sabendo o que ela queria. – Não precisa se preocupar com a bebê, ela vai ficar bem. E eu estou aqui, não estou? Vou ficar de olho nela.
- Qualquer coisa você pode me ligar tá? A qualquer hora. – ela diz, levantando-se também.
- Claro que eu ligo. – prometo e recebo um abraço forte.
- Obrigada por tudo. Por cuidar dela.
- Não fiz mais do que a minha obrigação.
- Mesmo assim. Eu sabia que tinha que trazê-la até aqui. Você se importa com quem cuida, você tem amor pelo que faz. Sabia que você faria o seu melhor por ela. – ela diz por fim, suas palavras me emocionando.
Depois que nos despedimos, eu volto para as minhas obrigações enquanto a observo ir embora do hospital. O restante da noite e a madrugada são tranquilos, porém, não consigo dormir. Sempre que possível, ficava de olho naquela menininha. Ela continuava bem diante das circunstâncias e não foi preciso que eu ligasse para Agatha.
Ainda é cedo quando chego ao meu apartamento. Tomo um banho e procuro descansar. À tarde Agatha precisaria de mim e eu teria que estar disposto. No início da tarde a campainha toca e eu abro a porta, já sabendo que se tratava dela.
- Olá! – ela me sorri, enquanto entra no meu apartamento. – Você não me ligou.
- Não liguei porque não foi necessário. – justifico. – A menininha continua estável e tudo está correndo bem. Já almoçou? – pergunto.
- Acabei almoçando no caminho da construtora pra cá. E você?
- Já comi por aqui também. Então podemos ir até a delegacia?
Pergunto e ela apenas assente. Saímos do meu apartamento e vamos juntos no meu carro. Quando chegamos à delegacia, Agatha relata para a polícia sobre todo o acontecido enquanto eu comunico sobre o estado de saúde da menina. Após isso, cabia à eles investigarem o caso e tomarem as medidas necessárias quanto ao futuro dela. Já estávamos no carro voltando pra casa quando Agatha me faz um pedido.
- Podemos ir até o hospital visitá-la?
E como eu não sabia lhe negar coisa alguma, tomo o caminho do hospital. Consigo a permissão para que ela entre na UTI Neonatal junto comigo e ficamos por dez minutos ali com a bebê. Eu sorrio vendo Agatha interagir com ela, tocando-a pelo espaço disponível na incubadora. É claro o carinho e o cuidado imediato que Agatha desenvolveu por ela. E quando é a minha vez de interagir, sinto o meu coração bater mais forte no peito quando sua pequena mãozinha agarra-se à um dos meus dedos. É tão forte, que me sinto estranhamente abalado. Então, Agatha não era a única.
Eu também estava me apegando a essa bebê.