Capitulo UM: Fugitiva

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Eu estava correndo pelos corredores do palácio, eram 00:00. O relógio soou alto abaixo de mim, a troca dos guardas seria feito em breve, eu tinha que me apressar. Todas as noites, eram iguais, eu corria escondida no palácio somente para fazer aquilo que mais amava: pesquisas. Em meu reino, princesas só ficam sentadas engordando e sendo paparicadas, não porque são das realezas, mas, porque, não tem outra utilidade além de esperar crescer e se casar com um nojento, imundo e estúpido rei que vai lhe maltratar todos os dias da sua inútil vida. Esse era o meu destino, a minha sentença, e ninguém estava ligando para isso, exceto claro, a mim mesma, todas as noites, eu saia 00:00 para fazer minhas pesquisas, e isso, me lembrava deque, eu não prestava apenas para proteger o meu povo, mas, eu tinha algo além do que realizar, uma esperança do meu futuro ser diferente de minha própria mãe. Cruzei o corredor do meu quarto, em busca do meu refúgio, com caneta e caderneta na bolsa, e um capuz na cabeça, empurrei o quadro para o lado, e deu-se uma passagem, um buraco feito sob medida, como ele fora feito? Eu não sei. Mas, eu sei que ele é extremamente útil para mim, e certamente, foi para alguém algum dia. Entrei pelo buraco, e fui desligando até a passagem dar ao lado de fora, a noite estava perfeita para a pesquisa, a noite estrelada, a luz do luar, em cima. 

E
o som da coruja pela floresta, densa, escura, fria, não questionava o porquê de o Rei Olavo ter proibido a passear por essa floresta, mas eu sabia, e eu não estava nem aí. O vento frio tomou conta de mim, bagunçando os meus cachos e o meu penteado real, eu soltei o penteado que prendia o meu cabelo, e guardei a coroa brilhante e ramificada na minha bolsa. Aqui, eu não era a princesa e única herdeira do trono, condicionada a viver essa vida inútil. Aqui, eu poderia ser apenas uma garota, jovem, sonhadora e que tem um belo futuro pela frente. Vesti novamente o capuz, e rezei para que não houvesse ninguém naquela noite, eu caminhei pela trilha da floresta, já com a minha caderneta e caneta nas mãos, escrevendo os movimentos das árvores, os formatos diferentes das folhas, e os sons que somente um belo apreciador saberia. Caminhando distraída pela floresta, fui apenas ouvindo os sons dos meus passos, até chegar no meio da floresta e sentir um cheiro forte. O cheiro ardeu as minhas narinas, e eu achei aquilo estranho. Peguei a faca de punho na botina e fui me aproximando.

"-Lenhadores." - sussurrei caminhando lentamente e me escondendo entre os arbustos.

O cheiro ficou mais forte, e ardeu cada vez mais, e ao invés do cheiro, ouvi sons de tambores, graves e fortes que ecoavam pela floresta inteira, e mais a frente, surgiu uma luz dourada, e eu percebi que não eram lenhadores, e sim, os guerreiros. A cada passo que eu dava, gerava medo e curiosidade em mim, jamais havia visto um guerreiro de perto, e ficava pensando no que eles estavam fazendo ali.
A cada avanço, os sons de tambores se transformaram em música, e nitidamente, percebi que havia mais de um deles ali no meio da floresta.
A música ficou mais intensa, pude ouvir os sons das vozes cantando em uma língua que eu jamais havia conhecido, ou, ouvido, e junto com os tambores, vinham palmas e batida de pés e chacoalhes e pandeiros, automaticamente, eu abaixei as mãos mas permaneci segurando a faca, afinal, eu iria me proteger custe o que custar. Me aproximando, me escondi atrás de uns arbustos, e fique ali observando cada movimento.

A cena era intrigante: Milhares de guerreiros seminus, estavam rodando e batendo pés em volta de uma fogueira, de um lado na esquerda, havia outros guerreiros de aparência mais velha batendo os tambores na mesma sintonia, e na direita, eu vi um homem de e idade com uma enorme barba branca, sem vestimenta como os outros, exceto por um pano que cubra suas partes, ele parecia ser o ancião do grupo, em sua pele estava desenhadas marcas pretas, com desenhos de diversos formatos. As marcas, pareciam ter sido feitas com pincéis finos e bem caprichadas, e ao lado do ancião, havia um homem, mais jovem, aparentemente da minha idade, esse homem era forte, e musculoso, e também havia marcas no corpo, mas não iguais ao do ancião. O Ancião, estava cochichando em seu ouvido, ele fazia gestos com as mãos como se estivesse explicando alguma coisa, o rapaz, estava comum desagrado em seu olhar, como se, já estivesse ouvindo aquela história mais de uma vez, mas, mesmo tendo aquela mensagem em seu olhar, ele apenas concordava com a cabeça. A música cessou, e o ancião deu um passo à frente, abrindo os braços, ele falava em uma língua que eu não compreendia, até que o rapaz pegou uma Espada, e o meu coração gelou.

Será que não era um ritual? uma matança?
E se ele iria matar aquelas pessoas?
Mesmo com a sensação de querer sair correndo dali, ainda sim, tive curiosidade.

O rapaz, pegou a Espada e passou em uma tigela que continha um liquido preto, a ponta da Espada foi erguida e os rapazes formaram rapidamente em uma linha, um do lado do outro, e o rapaz segurando a Espada, foi na direção do primeiro guerreiro da fila, e falou alguma coisa que não dava para ouvir. E então, com a ponta da espada, desenhou no corpo do primeiro rapaz, que não gesticulou nenhum momento que sentira dor, para mim, parecia que ele estava preparado para tudo aquilo, e um por um, o rapaz foi passando aquela Espada, no corpo dos guerreiros em fila, ele fazia apenas um movimento, um único desenho no corpo daqueles rapazes. Assim que todos foram riscados, a música retornou, e eu assustada olhei no relógio, eram 01:30, eu precisava ir embora. Precisava correr.

Certamente, o guarda estava indo ao meu quarto, e ao seu lado Augustine, como todas as noites, ela fazia aquela visita. Então, apressada, dei as costas para aquele povo, e sai correndo pela trilha da floresta, assim, que cheguei na entrada secreta, eu olhei para trás, mas metade de mim ficou naquele lugar, mas, principalmente, aquele olhar daquele rapaz, e pelo olhar tedioso que ele dera aquele ancião, como se, ele estivesse tentando fugir daquele momento.
Eu bem o entendia.

Então, entrei pela passagem secreta, tirei a capa assim que os meus pés tocaram no chão, guardei na bolsa, e entrei pela porta do meu quarto, coloque a bolsa dentro do meu armário, e corri para o banheiro, assim que eu fechei a porta, ouvi uma batida forte na porta do meu quarto, peguei as botinas, e joguei dentro da cesta de lixo. 

A Espada Vermelha - Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora