18- Grito Silencioso

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Narradora
Gilbert e Anne finalmente conseguiam conversar naturalmente com os seus amigos sobre estarem apaixonados, porque já haviam aceitado o fato, mas ainda não conseguiam conversar um com o outro sobre.

Blythe usava o seu humor como defesa e Anne a sua seriedade como escudo, mas quando se tratava da agora conhecida "paixão", as coisas muitas vezes se invertiam.

Gilbert tratava a ruiva com carinho, em muitas situações era tímido e o seu humor só era usado quando ele estivesse se sentindo de fato a vontade. Já Shirley teve a sua casca finalmente quebrada e se sentia confortável em ser cem por cento ela mesma em todas as ocasiões. Se permitiu experimentar pensamentos que antes ela reprimia pelo teor de "errado" que tinham, mas também tinha se tornado mais alegre e os seus sorrisos e risos esquentavam o coração de Gilbert.

Os dois sabiam exatamente o que tinham feito bêbados naquela madrugada. Talvez alguma intervenção divina ocorreu para que eles se lembrassem depois de tanta bebida, mas de fato nenhum detalhe fugia de suas mentes e ambos não ousaram tocar no assunto em nenhum momento da ida para a bela capital da Áustria.

Ambos calharam a saber que o outro também lembrava, mas seguiram se falando como se tudo tivesse sido apenas um borrão, mesmo que as cenas que se passaram naquela noite fossem extremamente claras em suas cabeças que insistiam em voltar sempre para elas.

Anne pensava em como Gilbert havia dito aquelas palavras em um tom tão embriagado, mas tão delicioso de se ouvir e que faziam com que ela quisesse escutar o garoto falando todo dia que queria a beijar, enquanto Blythe pensava na serenidade nos olhos da ruiva quando ela disse que queria estar sóbria para lembrar do beijo, e no toque de seus dedos nos lábios dele que pagaria para ouvir ela chamando ele de amor de novo.

Um pedaço dos momentos que arrepiavam Anne, completavam as lembranças de Gilbert, mas no final eles só conseguiam pensar em uma coisa:

Queria que não tivesse sido por causa da bebida

Individualmente eles sabiam que tudo dito e feito não era consequência do álcool, que a bebida apenas foi uma ponte para que tais ações ocorressem. Mas achavam que o outro de fato estava sem os seus sentidos apurados o suficiente, e tudo isso martelava na cabeça de Gilbert que dirigia e na de Anne que lia um livro enorme de capa dura deitada desconcentrada no banco de trás, até que o garoto limpou a sua voz com uma tossida e se botou a falar.

—Eu sei que você não gosta, mas eu vou parar aqui para ir no banheiro, porque realmente não tá dando mais pra aguentar -diz enquanto estaciona o carro em frente a um bar cheio de homens velhos e barrigudos bêbados, fazendo com que a Cuthbert se levantasse com uma cara não tão boa-

—Quantas vezes eu vou ter que te falar que eu não gosto que você pare nesses lugares? Você que tivesse ido no banheiro antes da gente sair do estacionamento ou fizesse na lata! -profere com seu queixo apoiado no banco da frente emburrada-

—Desculpa, desculpa, eu realmente sei que você não gosta, mas eu prometo que vou rapidinho -fala tirando o cinto e pegando a chave rapidamente, e dando um beijo na cabeça de Anne que revira os olhos quando ele fecha a porta do carro e escuta um barulhinho de ferro batendo em algo, provavelmente Blythe guardando a chave do carro-

A ruiva não tinha nenhum problema com o cheiro do álcool ou coisa do tipo, além do mais já havia bebido muito mais do que alguns homens que passavam andando bêbados. O seu problema era com os caras, principalmente os mais velhos, que a encaravam do lado de fora do vidro com um olhar malicioso ou que batiam na janela assobiando.

Road Trip - Shirbert e Anne with an E Onde histórias criam vida. Descubra agora