32- Santa Inês

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Anne (🤔)
—"Poderíamos juntar a Alemanha e a França" -falo debochada imitando a voz dele, enquanto ando em volta da fonte e penso por que Gilbert Blythe não poderia simplesmente usar aquela irritante cabecinha bonita para pensar em vez de ficar perguntando coisas... coisas, sem cabimento!- Mas será que eu estou sendo injusta com ele? -me pergunto com a voz mais baixa e calma ao mesmo tempo que uma tempestade de confusão nada calma e baixa se instaura dentro do meu ser- Não, não estou, não é? Ou estou?

Levanto o meu rosto tomado por dúvida e me deparo com a Igreja de Santa Inês que impressionantemente não está tão lotada, o que faz com que eu me sinta tentada a entrar, e os iluministas que me perdoem, mas é nela que irei buscar luz.

Coloco os meus pés no local e talvez seja por causa do silêncio pacífico que havia em seu interior, ou até mesmo por causa das pinturas esplêndidas que guiaram os meus olhos até o teto onde se encontravam as causadoras de um forte arrepio nascido no meu calcanhar e terminado subindo a minha espinha, porém, não posso negar que foi a falta do calor do Sol na minha suada pele que contribuiu para um suspiro aliviado.

Me sentei na primeira fileira e observei cuidadosamente as imagens esculpidas em mármore que combinavam com os detalhes típicos do barroco, o que fez com que eu me sentisse tentada a passar a mão em cada curva e relevo, mas me contenho e apenas me aproximo da escultura da própria Santa no meio do fogo.

—Você também passou por muita coisa, e acabou morrendo para defender o que acreditava não é? -aqueles que passavam por ali provavelmente me acharam louca por estar conversando com uma estátua, mas me senti obrigada a bater um papo, no que mais parecia um monólogo- Acho que só você vai entender que não foi orgulho.

Não sou religiosa fervorosa, mas essa santa em específico sempre me chamou a atenção por causa da sua persistência.

Acreditava tanto na sua fé, que se recusou a casar com o filho do prefeito, em uma época em que tal coisa não era nem sequer pensada. Foi exposta nua na própria Praça de Navona, mas, no que chamam de milagre divino, o seu cabelo cresceu e cobriu o seu corpo, que alguns tentaram tocar, mas todos foram arrebatados por uma luz fortíssima que os matou. Tentaram a queimar, mas as chamas se voltaram para os guardas, e a sua curta vida de treze anos só chegou ao fim quando fora decapitada. Tudo por causa de suas crenças.

Saio da igreja com essa mentalidade, e olho que haviam se passado apenas... quarenta minutos. Quando nós mais queremos que o tempo passe rápido, mais devagar ele passa, e quando queremos que ele passe devagar, mais rápido ele passa. Talvez essa seja a magia da vida. Aprender a viver no meio de decepções.

Olho para os lados e vejo as pessoas nem com tanto calor quanto eu que clamava por encontrar algum lugar onde eu possa parar de suar novamente, o que me faz pensar que ir para a Praça Di Trevi não era a melhor ideia agora, então aproveito para ir comprar algumas coisas na farmácia.

Andava pelos corredores com uma cesta vermelha com algumas coisas dentro enquanto procuro o corredor dos absorventes que eu lembrei que haviam acabado e que infelizmente se fariam necessários daqui há uns dois dias, então pego dois pacotes pequenos que iriam sair mais barato do que um grande.

A farmácia parecia mais um mercado do que qualquer coisa, e eu senti o meu estômago ainda cheio pedir para eu comprar só um chocolate, mas me perco e acabo parando em frente à uma prateleira que me deu calafrios. Respiro fundo recapitulando tudo o que aconteceu, e chego a pavorosa conclusão que só iria descobrir se tentasse.

Pego todos os itens rapidamente, e me dirijo nervosa até a doce moça que cuidava de um dos caixas e me chamou gentilmente ao perceber que eu não falava a sua língua.

Road Trip - Shirbert e Anne with an E Onde histórias criam vida. Descubra agora