33- De Novo

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Gilbert
Talvez eu tenha sido um babaca.
E a parte mais engraçada é que o idiota aqui só foi perceber isso depois de mais de uma hora andando sem rumo.

Quando você está na parte mais turística de Roma, é muito normal você sair andando e esbarrar em um ponto turístico, e eu acabei me deparando com o Panteão, onde eu finalmente me coloquei em sã consciência.

Ela me perguntou o que diabos eu estava fazendo, e agora eu sei que a resposta correta é "merda". É, e eu percebi tudo isso olhando para a enorme cúpula do panteão.

O mais interessante dessa meia esfera, é que se ela não possuísse os relevos em sua estrutura, e o furo no seu topo que me fazia sentir o quente Sol queimar na minha pele, cairia por causa do peso do mármore, o que me fez lembrar da ruiva. É estranho, eu sei.

Por que eu lembraria dela vendo isso?

Talvez seja pelo muito tempo que passamos juntos, mas eu tinha uma plena certeza que se ela o visse, iria falar que é exatamente assim que os humanos funcionam. Sem os buracos que temos que enfrentar, cairíamos.

Se fosse qualquer outra situação, ela diria que foi apenas mais um desses buracos, mas dessa vez fui eu que tive que falar isso para mim mesmo.

Quem diria que o menino que havia perdido a fé no amor estaria falando hoje em dia sem muitas regalias que ama uma garota que conheceu há pouco mais de um mês. "Cego de amor", nunca fez tanto sentido quanto antes, se bem que eu não sei se posso culpar o amor pelas minhas besteiras.

Foi uma proposta totalmente política, e ela sabe da mesma forma que eu sei.

Eu não estava pensando nela, ou no amor que eu sinto por ela, mas sim na política. Eu não posso mentir, eu de fato estava fazendo isso. Me contradizendo.

Tudo o que eu disse foi contra tudo o que ela lutou (e deixou bem claro que lutou) durante a sua vida inteira. A questão em jogo, era que se ela aceitasse, estaria basicamente aceitando o erro do sistema, ou um pouco pior, estaria fazendo parte do sistema, e ela nunca faria isso, e eu também não vou fazer isso mais.

A partir deste momento, eu não vou mais me contradizer, não vou mais pensar em nada relacionado a realeza ou a Alemanha. Vou viver a vida do meu jeito, e encontrar um jeito para viver ela do nosso jeito. Meu e da Anne apenas, mas antes eu precisava me desculpar.

Como esperado, a praça estava lotada de gente tentando se aproximar da bela Fonte di Trevi, e seria muito complicado encontrar qualquer pessoa no meio daquela bagunça, menos uma ruiva.

Já era começo de noite, e o céu ainda estava começando a misturar o laranja com o azul, já que nessa época do ano escurece mais tarde por aqui, mas, mesmo com a luz solar possibilitando uma boa visão do
local, os cabelos cor de fogo que eu reconheço de longe, chamaram os meus olhos ao seu encontro como se fossem dois imãs, e me pareceu que toda a luz estava sendo emitida dela, e não de alguma estrela qualquer.

Ela mexia na bolsa e não viu quando eu comecei a me aproximar, mas eu vi quando ela se virou com os olhos fechados e jogou duas moedas que brilharam à frente da segunda estatua que levava consigo espigas de milho.

—Gastando duas moedas em superstições ruivinha? -pergunto quando o azul do mar volta a iluminar o meu campo de visão-

—Pessoas desesperadas realizam ações desesperadas.

—E pessoas burras realizam ações burras -eu completo ficando à frente dela que inclina um pouco a cabeça e concorda com as sobrancelhas- É uma bela fonte.

Road Trip - Shirbert e Anne with an E Onde histórias criam vida. Descubra agora