Renascença

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Dedos finos e frágeis
Se entregam às pinceladas
Fortes e cansadas
De um pincel lustroso.

Mãos ágeis e perdidas
Correm pelas suas memórias,
Entre seus sonhos e pavores,
Encontrando a melhor inspiração.

Desenhou um banquete qualquer,
Então um lar fúnebre qualquer,
Um rio que entre as montanhas cortava,
E a ida da tão falada alma.

Contornou os males do mundo,
Fez deles sua magnum opus.
Construiu um mortuário em poucos dias,
Fez dele sua morada imaginária.

Caçou em meio aos pesadelos,
Estruturou o retrato da tragédia,
Era, encarnada, a própria fadiga.
Retratou a família.

Se entregou à realidade do dia a dia,
Traçou seus traços em plena agonia.
Então decidiu cortar os laços,
E se esvaiu do retrato.

Viu que o único sangue que valia a pena
Era o que fora derramado
Para ter certeza que estava saudável,
Então usou-o como tinta.

Replicou as denúncias,
Pintou-as em vermelho,
Fez delas sua vingança,
Seu V de Vontade.

Foi taxado de pintor renegado,
Artista do tipo que vive dopado,
Jovem cheio de ideias, deturpado,
Aquele que fora tirado do quadro.






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