Alazão

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Entreguei a ti um alazão de peito nu,
Crina solta aos quatro ventos
Dançando como um breve lampejo
De bons e memoráveis momentos.

Tu aceitou como se fosse pedido teu,
Contou a ele mil e uma histórias.
Observou-lhe os dentes, mal sabia eu.
Também descobri que tu vivia de pescarias.

Quebrou-lhe a pata,
Lhe feriu o tornozelo,
Lhe cortou a crina,
Mas disse que estaria ali
No dia seguinte
Para reparar-lhe,
Como se máquina fosse.

Bradou mentiras,
Ignorou-lhe a tosse.
Cantou-lhe sobre cantos,
Sobre cantos que passou,
Sobre precipícios,
Dos quais quase despencou.
Calou-lhe em meio aos relinchos.

Lhe ofereceu a maçã,
Pecou junto a ele.
Viveram no Éden,
Como se fosse seu próprio Jardim,
E, então, você o largou lá.
Vestiu-lhe antolhos
E pintou o desgaste rotineiro
Bem à sua frente.

Demorou para dar tempo ao tempo
E para o alazão perceber que
Os antolhos eram pura ilusão,
Assim como o respeito
Que ele ainda regava por ti
E por um fim sem resolução.



A Necrose da EmoçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora