Morfeu

43 12 78
                                    

Venha cá, nos meus sonhos,
Ideias esquecidas que não me largam;
Destinos guardados, totais estranhos,
Que, em meus devaneios, as esperanças me alargam.

Nas leves brumas que eu inventava,
Sei que se escondias, encolhido.
Nas leves falácias que tu inventavas,
Sei que caía, completamente coagido.

Jurei te amar, com olhos marejados,
Sobre e sob as arquibancadas,
Antes e depois dos terraços,
No escuro, nas paredes e nas fantasias.

Venha cá, nos meus devaneios.
Sempre soubeste que sonho acordado,
Pensando em mim, em ti,
Vivendo um futuro forjado.

Mas, mal sabes que ainda sinto por ti,
Um pouco aqui, um pouco alí.
Regando emoções fortíssimas,
Que desabariam em um só piscar.

Estas ilustrações baratas,
Que são completamente satisfatórias,
Poderiam ser nossas,
De carne e osso, um afresco vivo.

Venha cá, nos meus pesadelos,
Um completo breu incoerente,
Solitário e sorrateiro,
Tomando forma no exterior.

Como o canto de uma sereia,
Me afundando aos poucos,
Absorto em poréns e no que seria
Se tu me quisesses mais um pouco.

Minhas lágrimas cristalizadas são lindas, não são?
Talvez este tenha sido o motivo
De teres estocado tantas para ti,
Como um egoísta colecionando bibelôs, sem mais emoção.

Venha cá, acorde para a vida!
Tudo acabou, e não adianta insistir.
Os sonhos, os devaneios,
Todos se foram, até mesmo os pesadelos.

Há mais preocupações ao meu redor,
Mas tu sempre retornas.
Me mistura os pensamentos,
E, como um mero tolo, caio em teus encantos.

O que há de vir é tão incerto,
Mas tu não poderias estar lá, em meu futuro.
Certo? Poderias? Ainda nas brumas?
Ainda com falácias? Ainda tão confuso?

Mas, apesar de tudo,
Saiba que, se esta saudade matasse,
Eu estaria a sete palmos de ti,
Se tu viesses a comparecer.

A Necrose da EmoçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora