38 • coincide

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— "Now I'm stuck in a handshake with someone that you used to love." —



A primeira semana desde quando Thomas foi embora foi embalada pelo meu choro durante todas as noites. Eu chorava quieta, evitando incomodar qualquer pessoa, e também porque não queria que vissem o quão triste eu estava a respeito daquilo.

Eu era apaixonada por ele. E acreditava que nunca encontraria alguém que gostasse de mim como ele gostava, que fosse combinar tanto comigo até em roupas que nós usávamos e bandas que costumávamos compartilhar entre si. Por muito tempo, fui dormir pedindo que ele voltasse pra mim, desejando que quando acordasse recebesse a notícia de que ele estava voltando para a Califórnia com sua família. Mas, aquilo nunca aconteceu.

Thomas amava Nova York, segundo suas publicações nas redes sociais. Eram poemas dedicados à cidade mais bonita do mundo. Ele parecia nem lembrar que um dia foi um garoto californiano que costumava amar a praia. Thomas Clarke mudou. Esqueceu suas origens quase tão rápido quanto se esqueceu de mim.

– Filha? – minha mãe sorriu, um pouco apreensiva. Sacudi minha cabeça, tentando processar o que estava acontecendo ali.

Thomas Clarke estava sentado em meu sofá, com suas roupas de rapaz nova-iorquino, um cachecol da cor ferrugem enrolado em seu pescoço, e seu velho e mesmo sorriso de sempre.

– O-oi – larguei o ar dos meus pulmões, alternando meu olhar entre Thomas, minha mãe, e Clarity, que descia as escadas correndo.

– Caramba! Como você mudou – Clarke vibrou no sofá, soando íntimo como costumava ser.

– O que aconteceu, Liv? Por que você tá imunda? – Clary disparou, rindo e fazendo todos rirem, bem como meu pai e os pais de Thomas, que vinham da cozinha.

Que porra estava acontecendo?

– Nós... – droga. Eu precisava ao menos parecer normal. – Nós fomos ao paintball, lembra? – encarei minha irmã.

– Ata – Clary deu de ombros, sentando-se ao lado de Thomas no sofá. Queria perguntar se alguém poderia me explicar o que estava acontecendo, mas minha garganta ainda estava fechada.

Então, apenas encarei minha mãe e meu pai sem entender muito bem.

– Nossa, Liv. Como você mudou! – Andrea, a mãe de Thomas, falou ao me fitar dos pés a cabeça. Nova York a favoreceu, e como.

– Os Clarke voltaram! – meu pai explicou.  

– Eu recebi uma proposta de transferência e dessa vez valeu a pena largarmos Nova York – Ryan respondeu, sorridente. Então, apenas sorri, afinal era aquilo que estava ao meu alcance.

– Que bom – assenti, alternando meu olhar entre todos eles.

Meu pai e Ryan se dirigiram para a cozinha com naturalidade, conversando algo sobre bolsa de valores, já que o pai de Thomas era empresário e entendia muito bem sobre aqueles assuntos. Andrea se sentou ao lado de Clarity, e começou a questioná-la sobre a escola, obtendo respostas de minha mãe e minha irmã.

Não era possível que só eu estava achando aquilo tudo um surto coletivo.

Thomas me encarou e sorriu, logo se camuflando no assunto de nossas mães.

– E você, Liv? Está estudando o que? – a morena de longos cabelos cacheados indagou, levando seu olhar curioso até mim. 

– Design – sorri, assentindo e evitando olhar para Thomas.

– Oh, que legal! – a mulher vibrou. – Onde você faz?

– Na FARTLA – respondi junto com Clarity. Sempre querendo falar por mim.

coffee & tea • c.t.hOnde histórias criam vida. Descubra agora