• a letter to calum •

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Quando você é jovem as pessoas assumem que você não sabe sobre nada. Eu achava que idade não significava experiência, como muitas pessoas acreditavam. Tinha plena noção de que ainda sabia muito pouco da minha vida no auge dos meus vinte e um anos. Mas, eu já havia passado por muita coisa.

Havia me decepcionado; quebrado a cara; acreditado nas pessoas; deixado de acreditar nas pessoas. Havia restaurado minha fé e descoberto que o mundo ainda pode ser um bom lugar. Havia chegado ao ponto de não sentir nada. Eu havia quase perdido a pessoa que eu mais amava no mundo; havia abraçado responsabilidades que não eram minhas com apenas dezenove anos. Havia preenchido o papel de filha, irmã, mãe, amiga, conselheira, namorada. Havia afastado de mim uma das pessoas que eu mais amava no mundo.

Em um dia, eu entrei em um elevador e te vi usando aquela camisa amarela, enquanto mexia em seu celular de última geração. No outro, eu estava te beijando enquanto usava meus coturnos de salto em uma calçada com paralelepípedos, depois do show de uma das minhas bandas favoritas. Em um dia, estávamos vivendo o melhor de nossas vidas dentro do seu carro, depois daquela festa de Halloween, enquanto você borrava o batom escuro que eu usava. No outro, estávamos no meu quarto, discutindo políticas e filosofias de vida como se fossemos as pessoas mais experientes do mundo.

Quando você é jovem, você acha que não conhece nada. Mas, eu te conhecia. Dançando em seus jeans escuros da Levi's, na sua sala de estar; ou com suas mãos sobre a minha cintura, bêbado no meio da rua, enquanto me declarava músicas de infinitas bandas que nós amávamos. Eu te conhecia. Com as suas mãos fortes e tatuadas por debaixo do meu suéter enquanto trocávamos beijos em seu sofá. Aqueles beijos curavam qualquer ferida.

Quando te conheci, eu não acreditava em mais nada. E, quando eu senti como se fosse um velho cardigã embaixo da cama de alguém, você me vestiu e me disse que eu era sua favorita. Quando eu me conformei de que o amor não era pra mim, você fez questão de me provar que eu estava errada. Quando eu achei que em algum momento tudo iria dar errado, você esteve ao meu lado pra me lembrar de que estava tudo dando certo. Tudo estava dando muito mais do que certo.

Eu achava que não conhecia nada. Mas, eu te conhecia. Brincando de esconde-esconde nos corredores de um supermercado, até que nós dois fomos parar em uma adega e eu senti suas mãos na minha cintura pela primeira vez. Queria ter te beijado. Eu sempre queria ter te beijado. Se soubesse que toda aquela merda iria acontecer, teria feito muitas outras vezes.

Você me deu seus finais de semana, me deu seus horários livres entre aulas de cálculo e projetos de quebrar a cabeça, me deu suas férias de inverno. Você me aqueceu naquelas noites de inverno. Da melhor maneira possível.

Você me ensinou o que era intensidade num momento em que eu levava uma vida monótona. Você me fez sentir enquanto tudo o que eu fazia era criar paranóias. Fez com que eu me sentisse viva numa fase da minha vida em que eu não sentia absolutamente nada. Éramos uma vez em vinte vidas. Eu viveria quantas vidas fosse preciso se fosse para te encontrar novamente.

Beijos em seu carro. Toques apressados. Eu por cima do seu corpo quente enquanto me perguntava como alguém podia alternar perfeitamente entre a visão de um anjo e de um pecador. Nossos divertimentos em bares no centro da cidade; na área de fumantes, porque você sentia prazer em queimar seus pulmões como se fossem fotos de um amor antigo. Então, nos beijávamos e eu sentia seu gosto de tabaco. Acho que de alguma maneira acabei me viciando também. Afinal, aquilo era tudo o que eu precisava. Você era tudo o que eu precisava.

Você desenhou estrelas em volta das minhas cicatrizes. Mas, agora eu estou sangrando.

Então, eu te pergunto: do que adiantou você me levar ao paraíso, se no final das contas eu iria acabar no inferno?

coffee & tea • c.t.hOnde histórias criam vida. Descubra agora