Capítulo 2

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Quando acabei de ler algumas páginas do que estava lendo, fechei o livro, me levantei devagar, para não atrapalhar o Gato que estava dormindo aconchegado em uma das extremidades do meu cobertor, e coloquei-o de volta na cabeceira da cama. Ainda era madrugada, mas como meu sono tinha ido embora junto com minha vontade de ler, resolvi que iria dar uma caminhada pelo jardim do Palácio Rosa. Fui até o guarda roupa e peguei minha capa de chuva amarela, estava suficientemente frio e nublado poderia acabar caindo uma chuva daquelas. Quando coloquei o pé para fora do quarto ouvi um miado baixinho.

- Oh Gato, me desculpe. Eu te acordei?

O Gato se espreguiçou em cima do sofá perto da janela e fez que não com a cabeça. Logo ele apareceu na minha frente e inclinou a cabeça para o lado e fez cara de como se estivesse confuso.

- Vou dar um passeio pelo jardim para ver como estão as tulipas, tomar um ar puro e dar uma caminhada, quer vir?

O Gato se espreguiçou novamente mas assentiu, fomos em direção a porta da casa.

- Gato, espere. Tenho que de algum modo avisar minha mãe caso ela acorde pra comer algo de noite, sabe como ela é, não é?

O Gato sentou perto da porta e assentiu mais uma vez. Peguei um pedaço de papel do caderno de receitas que estava na bancada do lado da pia e escrevi um bilhete claro e breve.

"Querida Mamãe,

Caso esteja me procurando, decidi sair para dar um passeio e tomar um ar puro, estou no jardim.

- Coraline♡"

Coloquei o bilhete sobre a mesa, coloquei minhas galochas que estavam perto da porta e sai, o Gato vindo logo do meu lado. Assim que cheguei no jardim, sentei nas escadas e suspirei.

- Gato... Eu andei pensando, será que realmente dá pra ver as estrelas no fundo do poço?

O Gato olhou para mim com certa curiosidade, mas deu de ombros e se deitou no meu colo.

- Seu gatinho folgado! - falei esboçando um sorriso.

O Gato parecia estar cansado, mas era o único que me ouvia sem julgar, ele sabia de tudo que eu tinha passado no Outro Mundo, e sabia que o que eu falava não eram somente sonhos, afinal ele tinha me ajudado à escapar da Outra Casa.

- Desculpa estar te acordando tanto hoje, Gato. É porque o pesadelo de hoje realmente mexeu com minha cabeça...

O Gato levantou a patinha e tocou no meu braço, estava tudo bem, ele sabia que o que eu tinha vivido tinha sido algo horrível, por mais que eu gostasse de implicar com ele antes, depois que ele me ajudou comecei a ficar mais próxima dele. Depois que ele colocou a patinha no meu braço, ouvi um barulho de porta se abrindo, peguei a primeira coisa que estava do meu lado para me defender, era uma pá. Quando me virei e vi, era a mamãe.

- Acho melhor você abaixar essa pá, mocinha.

Abaixei a pá e dei um suspiro de alívio.

- O que está fazendo aí a essa hora da madrugada? - ela me perguntou.

Essa frase não me era estranha, eu quase consegui ouvi-la responder.

"- Chegou bem na hora do jantar, meu amor.

- Você não é minha mãe! A minha mãe não tem esses bo-bo...

- Botões? Você gostou? Eu sou sua Outra Mãe bobinha, agora vá avisar para o seu Outro Pai que o jantar está pronto."

- Coraline? Terra chamando Coraline, para onde você foi agora? Deu para ver que você não estava aqui comigo. - ouvi minha mãe dizer.

- Desculpa mãe, são só os pesadelos. Lembra da Outra Casa? Tive pesadelo com ela de novo.

Minha mãe revirou os olhos.

- De novo? Coraline, você está muito sonhadora esses dias, são os seus livros não são? Precisa colocar os pés no chão, nem que seja por um momento.

Minha mãe sabia da história toda, e mesmo assim afirmava que tudo aquilo não passava de um pesadelo. Cruzei os braços mas fiquei calada, sabia que tentar argumentar com ela de que aquilo tudo tinha sido real não daria em nada.

- Vou voltar para o quarto, não demore muito aí fora, sim?

Assenti, voltei a sentar nas escadas e fechei os olhos, tentando ouvir tudo que estava acontecendo ao redor.

Dollhouse - Dreams are dangerousOnde histórias criam vida. Descubra agora