Dollhouse - Dreams are dangerous

Capítulo 6

Quando finalmente eu descongelei, dei um suspiro e coloquei a mão na cabeça.

- O que você quer dizer com mistério, Astoria? - falei enquanto sentava na sua frente.

Astoria riu e cruzou os braços.

- Ah Coraline, não ache que as lendas daqui não foram parar em Phoenix. São só 13 quilômetros.

- Vocês são de Phoenix? Então porque tem sotaque britânico?

- Nos mudamos pra Phoenix quando a vovó morreu, era a última pessoa viva da família da mamãe, eu tinha acabado de completar 11 anos, então não deu pra perder o sotaque e o costume ainda. Minha mãe não gosta muito de ir pra lá agora, ela diz que a essência de alegria de lá sumiu quando a vovó se foi. - Astoria disse encarando um ponto fixo.

- Sinto muito pela perda... - eu disse sem saber muito bem o que fazer.

- Sempre fui uma garota de poucos amigos, sabe? Então em Phoenix só tinha dois amigos, Levi e Ayla. Ayla sempre teve um talento imenso para fazer arte, cada traço que ela desenhava cada pincelada eram leves e precisas, sempre disse que queria ser artista plástica quando fosse maior. - ela disse enquanto descia da cama e começava a procurar algo dentro de uma das caixas que estavam do outro lado de sua cama.

Eu abracei meus joelhos e prestei atenção em cada coisinha que ela falava.

- Levi é um sonhador, sonha em ser piloto de avião, já viajou o mundo, e cada vez que ele chegava de uma de suas viagens ele tinha histórias incríveis pra contar. E foi em uma dessas viagens que ele acabou se hospedando no Palácio Rosa, já fazem 6 anos dessa viagem, ele veio aqui quando eu ainda morava na Inglaterra, mas teve uma noite de Halloween que resolvemos contar histórias assustadoras que tinham acontecido conosco. - Astoria disse enquanto pegava um álbum de fotos e estendia para mim, era uma foto dela com Ayla e Levi.

Ayla estava na esquerda com a mão na cintura e na outra estava um pincel, tinha longos cabelos pretos e os olhos verdes; Levi estava na direita sorrindo timidamente, tinha o cabelo castanho e olhos azuis acizentados; e bem no meio dos dois estava Astoria com um olho azul e outro verde, acenando alegremente para a câmera.

- Nessa noite de histórias assustadoras no Halloween, Levi contou que em uma de suas viagens tinha vindo para cá. Ele disse que o ar daqui era meio sinistro, que tinha uma portinha branca muito estranha no apartamento onde ele estava hospedado, ele abriu a porta por curiosidade do que poderia ter do outro lado, e achou só uma parede de tijolos, depois disso ele fechou a porta e mandou colocar um papel de parede novo para o dono da casa não reparar que alguém tinha mexido ali. Tempos depois ele descobriu que a casa não tinha dono, pois todos que se hospedavam ali tinham perdido alguém, diziam que muitas crianças que passaram por aquela porta, nunca mais voltaram. Sempre diziam para os pais que tinham estado num estranho novo mundo perfeito antes de desaparecerem, mas eles nunca acreditavam. Depois disso, todas as noites de Halloween eu pedia para Levi contar essa história, quando esse ano meu pai precisou pedir transferência no trabalho e fiquei animada quando soube que íamos nos hospedar aqui; finalmente iria descobrir se a história que Levi dizia era verdade. - Astoria falou e suspirou.

- Eles parecem ser muito legais. - eu disse enquanto devolvia o álbum de fotos para Astoria.

- Eles são. - ela disse enquanto guardava o álbum de fotos em uma gaveta.

Então Astoria sentou na minha frente e cruzou os braços.

- Já contei minha história, sua vez Coraline.

Respirei fundo, puxando o ar pelo nariz e soltando pela boca.

- Certo... O que quer saber primeiro? Minha vida não é tão interessante quanto a sua. - falei me encostando na cama dela.

- Sabe algo sobre a portinha? - Astoria me perguntou curiosa.

- Astoria, não sei se posso falar sobre isso sabe? E se quer saber, essa portinha não me traz boas lembranças.

Astoria se levantou bruscamente e colocou as mãos na cintura.

- Aha! Então é verdade, não é? Tudo que dizem sobre o estranho novo mundo perfeito?

Aquilo estava indo longe demais, decidi parar a conversa por ali.

- Olha Astoria, eu realmente não acho que seja uma boa hora para você saber o que tem detrás daquela porta. Eu nem deveria estar falando sobre isso, tenho que ir. - eu disse me levantando e pegando minha bolsa que estava no chão perto da porta.

- Não pode fingir que a portinha não existe para sempre, Coraline. Uma hora ou outra você vai acabar me contando, tenho certeza. - disse Astoria com o ar orgulhoso.

Depois disso ela me acompanhou até lá fora.

- Adeus, Coraline! Até amanhã, espero que tenha bons sonhos. - disse Astoria enquanto acenava para mim.

Assim que sai da casa dela, o Gato me acompanhou descendo as escadas e foi para casa comigo. Quando cheguei fui direto para o meu quarto, aquela conversa não fez bem para mim, e eu estava tão cansada que quando abri o livro para ler acabei dormindo ali mesmo no sofá perto da janela. O que eu não sabia era que o que me esperava naquela noite não era um pesadelo, mas sim um sonho um tanto estranho.