A gente se protege

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(...)

- Eu vou com você.

A voz absurdamente suave em seus ouvidos fez seu coração parar alguns milésimos de segundo, apertou a mala de mão tão forte que suas unhas cravaram em sua pele. Não é possível.

- Marcela. - fechou os olhos antes de encara-la.

- Você não vai fazer o que quiser de mim desse jeito, eu vou com você. - se enfiou atrás da morena na fila de embarque.

Mordeu os lábios e preferiu não brigar com ela ali no meio de todo mundo e assentiu com a cabeça concordando com aquela loucura. O que falaria para todo mundo? Se bem que Marcela era querida por todos e não teria problema de levá-la até o ES para conhecer sua família mas não era o momento, não agora, não depois de tudo.

Se acomodaram nas poltronas do avião e por sorte não ficaram juntas mas próximas, sentia o olhar de Marcela incessante sobre si e isso estava incomodando.

- Para de olhar pra mim. - falou quase sussurrando com a cara mais fechada do mundo.

Marcela deu de ombros como se não estivesse fazendo nada e continuou a encarando com um sorriso descarado nos lábios, gostava de irritar a morena e fazer isso naquele momento era muito melhor do que xinga-lá que era o verdadeiro desejo.

Não sabia muito bem porque estava indo para Vitória, poderia ajeitar as coisas da forma que queria ou pelo menos poderiam esquecer e serem amigas mas de algum jeito tinha que trazer aquele furacão novamente para sua vida porque sem ela nada fazia sentido.

- Agora você que está olhando pra mim. - arqueou as sobrancelhas provocando.

- Não estou. - apoiou a cabeça no assento da frente para enxergar melhor a médica.

- Licença. - tossiu para chamar atenção. - Você gostaria de sentar aqui? - um homem de aparentemente 50 anos perguntou a loira.

- NÃO . - Gizelly disse rápido.

- SIM. - sorrindo Marcela se levantou e trocou de lugar com o homem o agradecendo pela gentileza.

- Te odeio. - bufou se recostando colocando o fone.

Ok, nem ela mesma acreditava nisso e talvez se pensasse bastante mas bastante mesmo chegasse a acreditar pelo menos por um mísero segundo que pudesse viver sem sentir aquele cheiro que agora invadia devagar suas narinas com o perfume doce dela.

Os olhos não se desgrudaram da janela, as casas e prédios tão pequenos lá embaixo, as nuvens cortando o sol que estava na sua cor laranja indicando o final de tarde, os carros quase minúsculos que se não forçasse a vista não conseguia vê-los. Isso martelou sua cabeça, ela era como os carros e Marcela como o avião, se sentia tão pequena aos sentimentos que estavam dentro dela, não sabia falar sobre isso mas era exatamente assim, pequena, se sentia quase invisível.

Não era difícil admitir amar uma mulher, era difícil amar Marcela, ela simplesmente bagunçou toda sua vida que acreditou durante 28 anos estar "feita", feita de que? De pó, porque a loira veio e chutou tudo para o ar sem pedir licença e agora está aqui fazendo me sentir um carro de tão pequeno.

Quando se deu conta já estavam aterrissando no aeroporto de Vitória-ES, o voo foi tranquilo e sem nenhuma turbulência o que fez Gizelly agradecer pois se não teria que grudar em Marcela e essa cena seria no mínimo ridícula demais para ela passar em público.

- Vou pedir um uber. - A médica disse próximo a porta de saída para o estacionamento.

- Porque? A Tabata esta de carro. - apontou para o veículo preto estacionado logo à frente.

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