Capítulo 36

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Despensa


Sina ficou totalmente surpresa ao ver o quanto Noah estava mais paciente e gentil com as crianças. Claro, ele ainda se irritava bastante, às vezes. Mesmo assim, dava pra ver que, no fundo, ele estava se divertindo e gostando de ajudar os pequenos.

As crianças estavam sentadas nas mesas, brincando com massa de modelar. Noah estava supervisionando a atividade, brincando junto com elas e discutindo com um menino de seis anos:

– É claro que parece um elefante. - disse Noah, exibindo sua estranha escultura feita de massinha.

– Não parece não. - o garotinho discordou enfaticamente.

– Você não entende nada de arte moderna, Lukinhas. Isso aqui é uma obra prima. - brincou Daniel.

Enquanto organizava os brinquedos que estavam espalhados pela sala, Sina pensava no quanto as coisas tinham mudado. Depois do dia em que ela tinha obrigado Noah a ajudá-la com as crianças, achou que ele nunca mais, sob nenhuma circunstância, iria querer voltar àquela creche. Sina quase não acreditou quando viu Noah acordar cedo no sábado de manhã e dizer:

– Eu vou com você, pra te ajudar com as crianças de novo. Você não merece ter que enfrentar aqueles mini monstros sozinha.

Ela não precisou nem pedir. Nem tinha tocado no assunto, e ele, de livre e espontânea vontade, decidiu ir com ela para a creche. Inacreditável.

Mas naquela manhã, Sina sentia que estava com um enorme problema em suas mãos. Olhou para Hina, que não tinha falado uma palavra desde que chegou, e que nem sequer estava tentando modelar alguma coisa com a massinha.

Sina suspirou. Odiava aquele sentimento de impotência. Já tinha tentado fazer Hina contar para ela o que estava acontecendo várias vezes, mas a menina estava determinada a não dizer nada. Sina não sabia como ajudar. O pai de Hina certamente não estava disposto a colaborar. Talvez ele estivesse por trás de tudo. Sina precisava arranjar um jeito de descobrir.

E precisava ser rápido, porque Hina estava piorando a cada dia. Sina se lembrava do quanto ela gostava de falar e de brincar com os coleguinhas, algum tempo atrás. Agora, Hina parecia ter medo até de se mover. Naquele dia, por exemplo, a menina se recusara a falar com qualquer um sobre qualquer coisa.

Sina estava tão preocupada com a situação que, naquele dia, decidiu que tomaria uma medida drástica.

A garota ficou esperando a hora exata em que Heyoon, a meia-irmã de Hina, viria para buscá-la. Assim que a adolescente apareceu, Sina não esperou um segundo antes de ir até ela e dizer:

– Eu preciso muito falar com você. Se importaria de entrar e…

– Agora não dá. - respondeu Heyoon, secamente.

– Isso é importante. É sobre a sua irmã.

Heyoon ficou calada por alguns segundos, apenas mascando seu chiclete com bastante força. Parecia incomodada.

– Eu já disse que agora não dá. Chama a Hina logo, por favor. A gente tem que ir pra casa.

Sina a encarou com determinação, do modo mais firme e intimidador que conseguiu.

– Ah, tenho certeza de que um minuto a mais ou a menos não vai fazer tanta diferença pra você. Eu não aceito um “não” como resposta.

Heyoon revirou os olhos e seguiu Sina pelo corredor principal da creche. Enquanto isso, Sina pensava sobre onde elas poderiam conversar. Precisava ser um lugar reservado, onde pudessem ficar completamente sozinhas… E então Sina só pôde pensar em um lugar possível.

SOB O MESMO TETO - NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora