Capítulo 23

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Confissão

Hospitais sempre deixavam Noah aflito. Aquele silêncio. Aquelas enfermeiras de branco carregando bandejas cheias de injeções. Aqueles tubos de soro horríveis. A impressão que ele tinha é que tudo naquele lugar parecia colaborar para que o paciente ficasse ainda mais doente.

Pelo menos, ele tinha conseguido permissão para ficar com Sina no quarto. Isso melhorava um pouco a situação. Afinal, ficar esperando do lado de fora teria sido ainda mais desesperador e agonizante. Ali, ele podia pelo menos ficar ao lado dela, ver o que estava acontecendo. Noah queria que ela acordasse logo. No entanto, pelo que a enfermeira tinha contado, ainda ia demorar um pouco até isso acontecer, por causa das medicações que ela estava tomando.

Ele já estava ali há um bom tempo, sentado ao lado da cama dela, em silêncio. Enfermeiras apareciam ocasionalmente para verificar o estado da garota ou injetar mais medicamentos na veia dela. O silêncio era perturbador, mas ele definitivamente não queria ligar a televisão. Não iria conseguir assistir nada, mesmo. Noah se surpreendeu com o fato de que não conseguia parar de olhar para ela há horas. Aproximou ainda mais sua cadeira e apoiou a cabeça na cama, bem perto do rosto da garota. Observou detalhadamente a expressão vazia dela por longos segundos. Era tão estranho vê-la quieta e tranquila daquela forma. Finalmente, Sina parecia estar descansando um pouco daquela loucura que era sua vida.

Noah teve certeza de que, pelo menos naquele momento, ela tinha esquecido as responsabilidades, os horários, as preocupações. Parecia estar sonhando com o nada. E sonhar com o nada era uma coisa boa, especialmente para uma pessoa tão agitada como ela.

Mesmo assim, Noah sentia uma espécie de buraco dentro de si. Estava inquieto, preocupado e inexplicavelmente angustiado. Pensou em pegar na mão dela, mas desistiu imediatamente. Esse negócio de pegar na mão de uma pessoa que está em uma cama de hospital passava a incômoda ideia de que a pessoa em questão está à beira da morte. E esse, felizmente, não era o caso de Sina.

Começou a acariciar suavemente o cabelo dela, enquanto milhares de pensamentos o inquietavam. Então, ele olhou para a marca no braço dela. Lá estava aquela cicatriz, obrigando-o novamente a se lembrar de coisas que ele não queria.

Pela primeira vez, Noah tocou aquela marca que ficaria permanentemente fixada na pele dela. Passou os dedos suavemente sobre a cicatriz, se perguntando por que raios Sina nunca mencionava nada sobre aquela marca, nem sobre o incidente que a tinha originado. Ela parecia ter se esquecido completamente do que acontecera anos atrás. Mas como ela podia não se importar? Por que nunca tinha jogado na cara de Noah o fato de que ele podia ter impedido que aquilo acontecesse? Noah tinha plena certeza de que era o culpado por aquela cicatriz.

Para piorar, ele sabia que tinha sido um babaca, na época do colégio. Tinha feito, junto com seus colegas populares, todo o possível para infernizar a vida dela. Mas Sina, de alguma forma, conseguia  ser completamente inatingível. Ela era forte demais. Não importa o que Noah fizesse, parecia impossível deixá-la mal.

Para o rapaz, o mais revoltante era pensar que, apesar de tudo, ela ainda tinha decidido acalmá-lo durante uma tempestade, em vez de zoar com a cara dele. Ela tinha topado se juntar à armação de fingir ser a namorada dele, mesmo odiando a ideia. Tinha salvado a vida dele ao impedir que ele fosse esmagado por uma barra de ferro. Tinha conseguido aturar bravamente todas as suas manias e maus hábitos. E, curiosamente, quando aquele elevador pifou, foi ela quem olhou primeiro para ele e garantiu que tudo ia ficar bem.

O peso daquela dívida o oprimia. Noah achava que talvez fosse impossível pagá-la. Ele não conseguia entender o fato de que Sina claramente agia como se não houvesse nada para pagar. Depois de pensar melhor sobre isso, ele concluiu que só porque ela não estava cobrando nada não significava que a dívida não existisse.

SOB O MESMO TETO - NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora