Quarenta graus
Geralmente, Noah e Sina acordavam pela manhã com um nítido contraste de humor. Enquanto Noah acordava como se tivesse sido arrancado da cama por alguma força maligna, Sina parecia ter amanhecido na Terra dos Pôneis. Ele tomava café da manhã com os olhos quase fechados e um mau humor terrível, enquanto ela parecia feliz, disposta e cheia de energia.
Noah simplesmente não conseguia entender como é que uma pessoa que dorme menos de cinco horas por noite poderia acordar daquele jeito. Para o rapaz, aquilo era um mistério sobrenatural que ele ainda estava tentando decifrar.Ultimamente, entretanto, Noah estava percebendo que as coisas estavam meio diferentes. Não que ele estivesse acordando com mais disposição. A diferença estava em Sina, que embora continuasse com seu bom humor matinal, andava com um aspecto meio doentio e cansado nos últimos dias. A energia dela não era infinita, afinal de contas, pensou ele. Noah tentou aconselhá-la a diminuir aquele ritmo de vida maluco, mas tudo o que ela respondia de volta era “Nossa, melhor eu sair agora, antes que eu me atrase. Tenha um ótimo dia, a gente se vê mais tarde.”
Quando Noah chegou em casa certa tarde, esperou encontrar Sin se arrumando para ir à aula, como sempre acontecia naquele horário. No entanto, o rapaz se deparou com uma cena que simplesmente não parecia normal.
Ele sabia que Sina nunca parava pra descansar durante o dia. Nunca. E agora, lá estava ela, deitada no sofá, olhos fechados, coberta por um edredom que normalmente só poderia ser utilizado em uma noite muito, muito fria de inverno. Vê-la deitada no sofá com aquele edredom, às duas horas de uma tarde quente, fez com que Noah tivesse certeza de alguma coisa estava muito errada.
Ele se aproximou da garota e a encarou durante alguns segundos. Sina estava com uma leve expressão de incômodo ou de dor, mergulhada em um sono inquieto. Olhando bem para ela, Noah teve a impressão que ela estava tendo um pesadelo horrível. A garota tremia embaixo do cobertor, e aquilo era sem dúvida preocupante, pensou Noah. Ele precisava urgentemente saber o que estava acontecendo ali. Ela devia estar doente. Só podia ser isso.
– Sina... - ele a chamou, mas tudo o que obteve em resposta foi um gemido.
Tentou chamar o nome dela pela segunda vez, dessa vez um pouco mais alto. Foi inútil: Sina continuava com os olhos fechados, tremendo como se estivesse enfrentando uma nevasca no Pólo Norte.
Noah já estava ficando angustiado quando a chamou pela terceira vez, sacudindo os ombros dela.
– Sina... Você precisa acordar.
Dessa vez ela finalmente reagiu, olhando para ele com os olhos arregalados.
– Ah, meu Deus. São quantas horas? Eu estou atrasada, não estou?
– Calma. Fica aí, relaxa. Para de se preocupar tanto. Eu só queria saber se você está se sentindo...
– São quantas horas? - ela insistiu, interrompendo-o - Fala logo!
Noah suspirou.
– São duas horas da tarde.
– Droga. Droga droga droga droga. Estou atrasada! - ela resmungou, pulando do sofá. Ao se levantar de forma exageradamente rápida e brusca, Sina ficou tão tonta que teria caído no chão se Noah não a tivesse segurado.
– Sina! Sina, você está bem? - o rapaz perguntou, preocupado. Mal tinha terminado de falar e chegou à conclusão de que sua pergunta era desnecessária, já que estava bastante claro o fato de que ela não estava nada bem. Só de ficar perto dela era possível perceber que ela estava anormalmente quente.
A garota se desvencilhou rapidamente dos braços dele.
– Estou bem. Na verdade, vou ficar bem se conseguir chegar no horário.
Sina já estava indo apressadamente até o quarto para trocar de roupa, mas Noah a segurou pelo braço.
– Espera aí, Senhorita-Coelho-Branco-da-Alice. - ele se aproximou e colocou a mão direita sobre a testa dela. Ficou horrorizado ao sentir uma temperatura altíssima.
– Ah, meu Deus. Sina, você está queimando de febre. Cadê aquele seu termômetro?
– Deve estar na gaveta da cozinha, sei lá. - disse ela, aproveitando para correr até o quarto. Precisava se arrumar em menos de quinze minutos.
Noah começou a revirar as gavetas de forma ruidosa e rápida. Quando finalmente encontrou o termômetro, Sina já tinha reaparecido na sala com outra roupa, colocando de forma apressada o brinco que faltava na orelha direita.
Aquele termômetro era um aparelho bastante prático: bastava inseri-lo no ouvido por um segundo e ele fazia a medição instantaneamente. Mesmo assim, Noah quase teve que obrigá-la a medir a temperatura.
– Depois eu é que sou infantil - resmungou o rapaz, indignado com a relutância dela em usar o termômetro.
Ele olhou para a temperatura que apareceu no visor do aparelho e disse a si mesmo para manter a calma.
– Tudo bem, Sina, vou te levar ao hospital e você vai ficar bem, certo? - disse ele, já começando a procurar a chave do carro.
– Como assim, hospital? Eu tenho que ir pra aula. E, francamente, seria muita frescura ir ao hospital só porque...
Ele olhou para Sina quase sem acreditar no que ela estava dizendo.
– Você está com mais de quarenta graus de febre.
– E isso por acaso é motivo pra perder tempo indo ao hospital? Qualquer pessoa normal só tomaria um comprimido e pronto. E é isso o que eu vou fazer.
– Sin, você sabe que não está na menor condição de ir pra aula hoje.
Ela revirou os olhos, enquanto abria o armário da cozinha. Encontrou a caixa de remédios e a vasculhou apressadamente até encontrar uma cartela de comprimidos. Noah lhe ofereceu um copo de água e ela engoliu o remédio em meio segundo. Sina deu mais uma olhada no relógio, pegou a bolsa e abriu a porta do apartamento.
– Ei, onde você está indo? Volta aqui! - Noah a chamou, alarmado.
Ela já estava do lado de fora, apertando repetidamente o botão do elevador. Noah pegou as chaves do carro que estavam na bancada e saiu atrás dela, correndo.
A porta do elevador abriu e Sin entrou rapidamente. Começou a apertar o botão de fechamento da porta, torcendo para que Noah não a alcançasse.
Ele a alcançou. Sina suspirou ao vê-lo entrar no elevador, desanimada. Sabia que teria que ouvir as insistências de Noah.
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.........................⭐ Deixem a estrelinha ⭐
Xoxo Anny 🥂
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SOB O MESMO TETO - Noart
Fiksi Penggemar[concluída] Sina e Noah se conhecem desde a infância e nunca se deram bem. Ironicamente, os dois são aprovados na mesma universidade e descobrem que terão que dividir o mesmo apartamento. Enquanto Sina acha que a convivência deles vai desencadear um...