Vinho azedo.

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-feel something - bea miller.

"QUERO FUGIR, SÓ ISSO"

*

      Os dias passavam mais rápido do que Lene queria. A garota mal ia nas aulas, mesmo estando no último semestre do último ano.

Do que importava aulas e estudos se seus dias eram tão contados. Do que adiantava sentar e estudar matérias que ela nunca ia precisar. Do que adiantava estar presente em um local se se sentisse vazia por dentro?.

De nada. Não adiantava de nada.

Por isso ela não ia mais.

— Marlene, querida — Madame Pomfrey fala assim que ela entra na sala — Chegou cedo.

— Sim, fui liberada antes — Mente. — Quais as novidades, chefe?

— Não sou sua chefe — A medibruxa diz, calma — E não tenho novidades, felizmente, as crianças estão se mantendo longe de encrencas.

— Que chato — Lene bufa — Queria um pouco de adrenalina hoje.

— E quando você não quer? — Rebate — Vá pegar um pano. Sua maior adrenalina vai ser limpar as teias de aranha das camas vazias.

— Que divertido — A loira ironiza rindo.

Lene amava a relação que tinha construído com Madame Pomfrey. Era calma e tranquila, como uma brisa de verão.

Nesse momento sua curiosidade estava absurda, sabia que na noite passada Dorcas e Sirius haviam saído e ainda não tinha notícias de nenhum dos dois.

Se bem que ela não receberia notícias vindas de Sirius, eles não eram bem "amigos".

Lily ultimamente havia se aproximado ainda mais dos marotos, ela saía todas as noites e os encontrava no salão comunal. Lene tinha um pouco de preguiça para ser sincera e, normalmente - quase sempre - estava cansada do estágio e só queria ver sua cama.



— Chefe? — A Mckinnon diz calma recolhendo suas coisas — Bem, eu vou indo..

— Claro querida — A medibruxa responde — Bom final de semana, juízo.

— Como se eu fosse fazer várias coisas — Lene bufa fechando a porta.

Marlene amava andar. Ela sentia que tudo faria sentido se ela andasse pra o lugar certo, na direção certa.

No fundo ela se convencia que a vida não era tão mágica assim, que, infelizmente, não teria um pote de ouro - e serotonina - a esperando no fim do túnel.

— Marlene? — Ela escuta uma voz vindo atrás dela, o que a faz pular de susto.

— Por Merlin, James — Marlene grita — Não me assuste assim.

— É.. Desculpa — O moreno mostra um sorriso amarelo — Onde vai?

— Fugir — Lene responde de imediato, grosseira.

— Vou com você — James Potter corre um pouco e para ao lado de Lene, que caminhava em direção ao jardim. — Cairia bem uma fuga agora..

— De onde você está fugindo, Pontas? — Marlene questiona — Das notas perfeitas ou das faculdades incríveis te oferecendo bolsas?

— Da família conservadora.

— Ãn? — Lene arregala os olhos — Como?

— Não vivo num castelo encantado, Lene — Ele rebate — Nem tudo é cor de rosa.

— Duvido — A garota bufa — O que sua família fez de tão ruim? Ofereceu pagar suas despesas? — Ela debocha — Pobre James, que difícil.

— Não é sobre eles. É sobre meu pai, apenas ele. E não é o que ele fez, é o que ele quer fazer — Os dois desciam as escadas e Lene apertava seu casaco com a intenção de se esquentar. — Ele me pressiona tanto, você não tem ideia. Para eles tudo seria perfeito se eu me casasse com uma sangue puro e administrasse os negócios.

— E o que você quer, garoto mimado? — A Mckinnon pergunta sincera — Você gosta disso, não?

— Não sei. Gosto, na verdade não gosto. Ou gosto. Não sei — Ele bufa — Não quero que alguém decida meu futuro por mim. Isso eu sei.

— Por que não?

— Isso é um interrogatório ou uma fuga, Mckinnon? — James diz claramente estressado — Achei que você iria me ajudar a desaparecer.

— Se você descobrir como fazer isso me conte — Lene responde encarando a floresta. — Quero ir para lá..

— Fazer o que exatamente? — O moreno pergunta.

— Buscar uma coisa, Potter — Marlene sorri de forma maliciosa — Você disse que queria fugir, então venha! — Ela puxa a mão do recém amigo e adentra correndo na floresta encantada.

Lene contava mentalmente as árvores tentando encontrar seu esconderijo secreto. No início do semestre ela e Lily tinham roubado algumas garrafas de vinho de sua casa e enterrado para usar em situações emergenciais.

      Para Marlene aquela era uma situação emergencial, ela não aguentava mais estar daquele jeito. Queria sentir alguma coisa. Não queria morrer, mas não queria viver daquela forma. Se sentindo esculachada por pressão e confusão interna. Sentindo sua cabeça a destruindo lentamente.

Aquilo claramente era uma emergência.

     — Me ajude! — Lene grita para James, se ajoelhando no chão e escavando a terra.

     — Lene, o que diabos é..

    — Achei! — A loira interrompe a bronca do amigo, tirando do chão uma garrafa de vinho rosé. — Saúde, garoto mimado! — Ela diz abrindo o recipiente e tomando um gole.

     — Como..? — O certinho do James pergunta.

     — Quer ou passa? — Encara o garoto que logo toma a garrafa de sua mão e a vira.

     — Por Merlin, Lene — Ele diz — Isso é horrível.

      — Não sou rica como você, Pontas — A menina retruca — Próxima vez você me compra um vinho.

     — Prometo que tenho um gosto melhor — Ele responde se sentando ao lado de Lene no chão.

      — Por que veio atrás de mim hoje, Potter? — Ela pergunta encarando o maroto.

     — Eu ia te pedir uma coisa sobre Lily mas você parecia tão distante, queria aprender a ser  sereno como você.

     — Quem dera eu realmente fosse serena por dentro. Não importa como eu aparento se estou apavorada internamente. — A garota fala dando um grande gole do vinho azedo — Vou morrer, sabia?

     — O que? — James exclama, preocupado.

     — Todos vamos, Potter. Um dia todos vamos morrer — Ela tenta reverter o assunto — Só acho que vou antes.

     — Por que acha isso? — Ele pergunta.

      — Porque sim — Retruca — Estamos aqui para fugir, e não para adentrar nos meus problemas. — Ela sorri

      — Por uma vida sem problemas — Ele estende a garrafa, propondo um brinde.

     James toma um gole e logo passa para Lene, que faz a mesma coisa.

     — Por uma vida sem vinhos azedos!

*

300 days before.

Visions - Blackinnon.Onde histórias criam vida. Descubra agora