"ESTOU RACHANDO"*
O barulho do trem passando pelos trilhos era vagamente comum.
Chegava a ser engraçado para Lene.
A loira encarava Sirius algumas vezes. Ele, por sua vez, não desgrudava os olhos da garota, era como se ele a secasse por inteira apenas com um olhar.
Lene ria ao lembrar do beijo roubado. Como tinha sido algo do calor do momento, como tinha sido instantâneo.
"Mas que diabos significa "instantâneo"? Nada é instantâneo. Arroz instantâneo leva cinco minutos, pudim instantâneo uma hora. Duvido que um beijo daqueles pareça instantâneo", pensa rindo.
A garota ria às vezes sozinha. Seus pensamentos eram engraçados.
Variavam de trilhos a livros.
Lene amava ler, sentia que eles eram capazes de tirar sua cabeça do mundo, de a levar pra outra realidade.
E ela amava isso.
— Perdeu alguma coisa? — Lily grita para Sirius — Você não para de nos encarar.
— Também sentirei saudades, ruiva — Ele se vira e sorri de lado.
Que diabos. Aquele sorriso seria capaz de por fim a guerra e curar o câncer. Não era possível ignorar.
— O que é isso? — Marlene diz depois de um tempo.
Ela estava variando os olhares dos livro para o céu enquanto o trem andava. Mas algo como um vulto preto a chamou atenção.
— Não sei.. — Lily diz se inclinando para ver. — Talvez sejam..
Lily é interrompida por um grito vindo do fundo do vagão.
— Ela está desmaiada — Outra pessoa grita — Não, morta!
Marlene no momento levanta de sua cadeira e vê seus amigos vindo atrás.
Os vagões de passageiros comportavam compartimentos acionados por um corredor, permitindo que cada compartimento funcione como um palco independente dentro do trem maior mas ao mesmo tempo permitia o contato entre eles.
Quando Lene chegou ao vagão final ela se assustou com cena. Coleen Finger estava deitada no chão, a garota não sabia ao certo se ela estava inconsciente ou morta.
Um vulto surge atrás de Dedalus Diggle, que tentava ajudar a garota de vestes amarelas da lufa lufa.
— Começou — O vulto fala ao tomar forma. Era Travers. Lene já havia o visto nos jornais. Sabia que o cara era um dos aliados de aquele-que-não-pode-ser-nomeado - só de pensar nisso a garota sente náuseas. — Mobilicorpos — Grita o comensal ao passo que Coleen sobrevoava. — Flipendo — A garota cai no chão, se contorcendo de dor.
Travers some no exato momento que Minerva Mcgonagall manda todos sairem do caminho e corre até a lufana no chão. Lene e os outros alunos ao redor tremiam de medo, esse havia sido seu primeiro contato com a guerra.
Ela sabia que não seria o último.
— Mar.. — A voz de Sirius ecoa atrás dela e a loira corre para abraça-lo.
O Black era bem alto então ela se encaixava bem ali. Era aconchegante. Era calmo, era bom.
Lene tremia por inteiro. Seu coração disparava e ela sabia que a crise de ansiedade estava próxima.
Era como se seu coração fosse pular para fora do peito. Como se todo o ar do mundo não fosse suficiente para seu pulmão. Parecia que ela ia surtar.
Lene sai andando para longe do furdunço, se soltando de Sirius.
— Preciso sair — Ela grita se aproximando de uma das portas.
— Que? — Ele exclama — Estamos literalmente no meio do nada — Sirius se referia a posição do trem, que estava longe do seu destino final. — Além de que acabamos de ver um...
— Um comensal? — Ela grita sentindo as lágrimas começarem a descer. Seu corpo parecia se acelerar cada vez mais — Vai, fala!
— Sim Lene — Ele diz segurando a mão da garota — Mas vai ficar tudo bem. Coleen está viva.
— Por hora! — Marlene grita — Agora estamos vivos mas amanhã não estaremos — A garota começa a passar as mãos pelos seus cabelos — Tá tudo errado Black!
— Calma — Ele diz.
— Não tem como! — Bufa — É humanamente impossível ficar calma quando o mundo começa a desabar
— Não vai desabar.
— Como você sabe?. Ò grande sabichão — Mckinnon diz grossa, sentindo as lágrimas quentes descerem de seus olhos. Ela cerrava seus punhos tão forte que sentia sua circulação parar.
— Eu acredito — Sirius diz antes de a abraçar novamente — Vamos ficar bem — O garoto diz a encarando.
Lene chorava em seu moletom. Ela não sabia porque Sirius a aguentava, mas pressentia que não ia durar muito tempo. Ninguém aguentaria tanto tempo com sua mente quebrada.
— Desculpa — Ela diz ainda de olhos fechados.
— Por que?
— Por deixar você me ver quebrando — Suspira — Estou muito rachada, Black.
— Tudo tem concerto — Sorri otimista.
— Não quando o vaso está vazio.
Verão.
As férias de verão eram tão bonitas nos livros. Por que as de Lene não podiam ser assim?.
Ela queria estar velejando com canoas no Caribe ou estar surfando em algum país tropical, talvez até estivesse brincando na neve com um boneco. Tudo isso poderia estar acontecendo.
Mas não estava.
Não porque Voldemort ganhava força suficiente para matar milhares de trouxas todos os dias.
Lene não tinha respostas do St.Mungus e acreditava que a culpa era de Slughorn, que a reprovou por falta.
"Um absurdo", pensa bufando.
— Marlene — Sua mãe a grita — A coruja chegou. As suas cartas estão na mesa.
Esse era o único momento empolgante do dia de Lene. Ler as cartas de seus amigos era gratificante, principalmente as de um amigo especial, as de Sirius.
A loira desce as escadas correndo e começa a jogar as cartas de seu pai e de seus irmãos no chão, caçando seu nome no referente.
"Hospital St.Mungus"
Não. Não era possível.
"Hospital St.Mungus"
Lê de novo.
"A convocamos para o segundo semestre de estágios do ano de 1980"
Lene dava pulos de alegria, ela já havia lido a mesma carta quase quarenta vezes.
"Alvos Dumbledore"
Lê em seguida.
"O que ele quer", pensa confusa.
Não tinha nenhuma escrita, apenas um endereço e uma data, hoje.
Nada fazia sentido na cabeça de Marlene.
A garota tentava entender o que estava acontecendo quando escuta batidas na porta que tocavam quase como um ritmo musical.
— Estou indo — A Mckinnon grita para sua mãe antes de paralisar. Lily estava ali, na sua frente.
— Vamos? — A ruiva diz — Já está atrasada.
*
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Visions - Blackinnon.
Hayran Kurgu[CONCLUÍDA] 𝐕𝐈𝐒𝐈𝐎𝐍𝐒 | Onde Marlene Mckinnon sabe que sua morte está próxima e mesmo assim encontra um motivo para viver. Onde Sirius Black se apaixona por Mckinnon, a garota estranha da grifinória, que o faz desistir de morrer.