Capítulo 13

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Reencontrar o meu pai após tanto tempo separados trazia-me uma certa paz para o meu coração que vivia em tormenta e caos decorrente a tudo que aconteceu.
A incerteza do futuro me assusta e temo pela vida das pessoas as quais amo.
Meu pai me olha como se eu ainda fosse sua pequena criança e talvez eu nunca havia deixado de ser.

— Onde esteve? — pergunta.

— Na floresta com dois amigos. — tranquilizo-o.

Conto-lhe sobre o porquê fugi, onde estive e com quem estive.
Seu sorriso é rezulente quando menciono que seu soldado e amigo, Cassius, estivera vivo todo esse tempo e conosco.
Seus olhos se iluminavam a medida que cada palavra saía pela minha boca, mas logo sua expressão alegre é tomada por uma sombria tristeza.

— Eu lhe causei isso tudo. —se culpa. —E queria obrigá-la a casar com o filho do Hector. Eu sinto tanto, Chloe. — chora. — Você não precisa fazer isso ou melhor eu também não quero que o faça.

Seguro suas mãos e dou-lhe um sorriso acolhedor.

— Já que o senhor está mencionando este assunto; gostaria que o príncipe Jackson retornasse para sua fronteira. Ele tratara Mérida de maneira errônea. — digo seriamente.

O rei Arthur logo olha para Mérida e para mim; é totalmente perceptível o seu arrependimento.
Sei que ele temia que isto causasse a queda do nosso reino, mas nessa situação, isto era o que menos importava.

— Irei fazer isso! — sorri.

Conversamos por horas e o povo se alegrou com o meu retorno.
Nunca notei que fosse tão querida.
Incessantemente questionava-me sobre aquele encontro na floresta e o porquê de meus olhos ficavam dessa maneira; lembro-me que tudo começara após meus dezoito anos e eu não compreendia o porquê.
A noite logo se aproximou e um aperto em meu peito é constante ao me recordar que havia deixado Antony e Cassius sozinhos naquela floresta cheia de Wendigos.

— Pai! Eu preciso voltar até a floresta; meus amigos precisam de mim.

Relutante tenta desviar o assunto e começa a andar de um lado até o outro do salão do trono; eu podia sentir que ele sabia de algo mais.

— Você sabe o que tem naquela floresta, não sabe? —fico em sua frente impedindo que continuasse a andar.

Nesse momento ele olha para a floresta; barulhos de animais e grunhidos são audíveis a distância.

— Pai! —chamo a sua atenção. — Não quero que me esconda nada.

Rei Arthur aproxima-se de mim e me abraça.

—Vamos buscar seus amigos; assim que retornarmos eu lhe digo tudo que precisa saber. — diz e eu confirmo.

Uma tropa é formada pelo rei; soldados muito bem armados e preparados. Mas ninguém realmente estaria pronto para os Wendigos que estavam na floresta.
Monto em um cavalo e meu pai em outro; e então adentramos a densa escuridão noturna.
O balançar das folhas sob o vento formava um tipo de canção assustadora em uivos seguidos.

— Se você os conhece, sabe que precisamos fazer silêncio, não sabe? — murmuro.

— Você está certa, mas não há o que fazer; eles não sabem. —refere-se aos soldados.

—O senhor não contou a eles? —grito, mas em seguida me arrependo.

Em um instante de adrenalina cometo uma falha que pode comprometer por inteiro a nossa missão. Rosnados são ouvidos há alguns metros de nós e os cavalos começam a se agitar. Tento acalmá-los e alerto as pessoas sobre o risco que estávamos correndo.

—Por que vocês não nos avisaram? — um soldado pergunta.

—Eu não posso morrer aqui! Eu tenho família... Uma esposa e dois filhos. — o outro começa a se desesperar.

—Ninguém vai morrer aqui, mas temos que fazer silêncio. —digo.

Eu realmente acreditei que as criaturas não haviam nos escutado, mas fora apenas equívoco meu. Por entre as sombras e névoas começam a surgir os terríveis olhos vermelhos.
Os cavalos os quais meu pai e eu estávamos, assustaram-se de tal maneira que relincharam de pavor e em um descuido, somos lançados no chão.
Os soldados se colocam em linha de frente, mas pude escutar os Wendigos gargalhando atrás das sombras.
Em frações de segundos um terço da nossa tropa é arrastada para névoa e seus gritos agoniantes de dor são ouvidos.
A chuva começara a cair neste instante e quase sem iluminação, nosso ataque se inicia.
Carrego comigo uma espada, não sei usá-la tão bem, mas não hesitarei em tentar.
Trovões iluminam a escuridão e todos nós finalmente conseguimos enxergar nossos alvos. Dentes pontiagudos e olhos vermelhos estão por toda parte e nossos homens começaram a cair, um por um.

—Fuja com a princesa, majestade! —um soldado diz antes de ter a sua garganta cortada.

Meu pai e eu começamos a correr em direção a cabana, mas o líder das criaturas nos interrompe.

— Não pensei que o veria novamente, rei Arthur. — arranha uma árvore para afiar suas garras. — Ao menos não depois do que eu fiz com sua esposa.

— Do que ele está falando pai? —arregalo os olhos.

— Não contou a ela? Não me impressiona, já que escondeu a herdeira de Elize por tanto tempo.

—Não escute o que ele está falando.

—Não se preocupe rei. Eu vou acabar com a herança da menina dos olhos de fogo. — direciona seu olhar a mim.

— Olhos de fogo? —questiono.

Sem que eu pudesse pensar direito, ele avança em minha direção. Suas garras a mostra estão preparadas para me perfurar; então com medo apenas fecho os meus olhos esperando a dor, mas ao invés de senti-la consigo escutar o grito de agonia do meu pai.

— Rei tolo! — debocha.

Rapidamente seguro o meu pai para que não caía ao chão; preciono seu ferimento que jorrava sangue.
A ideia de perdê-lo me assusta.

— Isso só aumentou minha vontade de matá-los. — o Wendigo diz.

A raiva que habitava em mim foi se misturando com o medo de perdê-lo; minhas mãos começam a formigar e o meu corpo inteiro arder. Eu sabia o que estava prestes a acontecer, mas eu não queria ferir o meu pai.
Então antes que a luz em meus olhos apareça por inteira afasto-lhe de perto de mim.

— Você não vai nos matar! —digo mais confiante.

Em instantes, a luz cor de fogo surge em meus olhos e um clarão enorme se alastra por todo lugar. Dessa vez jogara a criatura para bem longe e assim consigo colocar o braço do meu pai em volta do meu ombro e chegamos a cabana.
Éramos uma tropa, agora restara apenas meu pai e eu.
Infelizmente perdemos muitos e me entristecia o fato de ter que contar às suas famílias a tamanha perda que tivemos, mas nunca nos esqueceremos daqueles que lutaram bravamente.

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