Capítulo 19

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Com a morte de Jackson enfim e totalmente estava livre do meu casamento arranjado; mas é deveras triste a maneira a qual consegui essa façanha, além de pensar constantemente na guerra que foi travada contra o reino do norte a qual não seria nada fácil, uma vez que o nosso reino estava em declínio. As criaturas ainda estão a espreita na mata e se preparando para atacar; meus olhos fixos permanecem nos rastros de luzes que estavam na floresta.
Eu tinha medo ao imaginar que estes pudessem desaparecer e jamais os encontraria novamente, então visto uma roupa adequada, pego uma espada e verifico se todos estavam dormindo.
Vejo Antony e Cassius totalmente desacordados do lado de fora do meu quarto provavelmente estavam tentando me proteger.

— Não faça isso, Chloe. — escuto a voz de Antony.

Meu coração congela e eu deixo a minha espada cair fazendo um barulho estrondoso; e então me viro lentamente em sua direção.

— Ainda está dormindo? — questiono-me.

E para minha surpresa estava. Suas feições mudavam constantemente em sinal de preocupação e outrora medo, talvez estivesse tendo um pesadelo.
Aproximo-me dele e toco em seu rosto para tranquilizá-lo e assim o fez esboçando um sorriso meigo, mas sou tomada por um constrangimento quando me lembro de suas palavras anteriores.
Deixo-os e sigo até a saída... Havia cidadãos por todo o castelo e todos estavam dormindo.
Do lado de fora a escuridão reina assim como todas as noites, e logo me arrependo de ter decidido sair sozinha, mas não queria ser um empecilho que devesse ser salva a todo momento por alguém; eu mesma quero me salvar.
Cuidadosamente continuo a caminhar e desta vez não uso vestido para me atrapalhar; até chegar onde as luzes começavam e apenas as encontro novamente quando toco na chave em meu pescoço, então permaneço assim.
Em uma das mãos empunho a espada de maneira confiante... Confiança esta que se acaba quando observo resquícios de sangue nas árvores e marcas de garras; no chão um sangue já seco.

— Eles passaram por aqui. — penso.

E então eu sigo o sangue pelo chão, desviando-me do caminho certo; meus passos cessaram-se quando os vejo carregando os corpos das pessoas mortas da noite anterior enquanto conversavam entre si.

— Eu ainda vou matar aquela princesa. — o líder diz. — Nós teremos nossa vingança.

— Mas se a matarmos, não sumiremos?

— Não importa! Eu não vou descansar enquanto quaisquer raça da Calista estiver viva; não depois de tudo o que me fez. — mostra as presas. — Você está discutindo comigo? — pega o outro pelo pescoço.

— Jamais! — diz falhando.

Pergunto-me o que mais Calista tenha feito, mas apesar que eu pense tanto em uma resposta  distancio-me ainda mais da  solução.
A cena do carregamento dos corpos apenas me fez lembrar dos que estavam empilhados em seu covil, algo medonho.

— Está sentindo isso? — o Wendigo começa a farejar.

— Sim!

Pude ver os seus olhos vermelhos encarando o local onde estava escondida e meu espanto foi o estopim para que começassem a me perseguir.
Adentrando a floresta escura estou novamente segurando a chave em minhas mãos que mostrara o caminho que eu realmente teria que ter ido desde o início, mas não o fiz.
O som de galhos sendo pisoteados fazia sincronia com o balançar das folhas; o vento e o frio consumia até mesmo a minha alma.
Pensamentos enlouquecedores apenas atrapalhava a minha fuga.
Fugindo eu estava até que me esbarro em algo, ou melhor, alguém.

— Me desculpa! Eu vim da fronteira norte, por favor! Não me mande embora; eu fugi. — uma senhora já um pouco idosa diz.

— Depois conversamos; venha comigo depressa. — seguro em seu braços e juntas começamos a correr.

Corríamos tão depressa que nossos corações quase não podiam aguentar o nosso ritmo.
Desviamos de galhos e pedras, mas a senhora estava cansada e não aguentava mais correr.

— Vá sem mim. — ela diz.

— Não posso! Você não entende. Há monstros nessa floresta! Você tem que prosseguir comigo.

Tentava a fazer persistir a qualquer custo enquanto ao longe conseguia ouvi-los se aproximando. A expressão da senhora era de dor e eu apenas pude perceber o que a fazera parar depois que levantou um pouco o seu vestido revelando uma grande ferida de espada em sua perna.

— Quem lhe fez isso? — pergunto incrédula.

— O rei Hector! — pausa. — Eu roubei um pouco de alimento, pois estava faminta e meu castigo fora este; por isso fugi.

— Eu lamento senhora.

— Jully... O meu nome é Jully. — ela diz.

Eu não podia deixá-la sozinha para morrer aqui, pois este seria o seu destino se o fizesse desta maneira.

— Então vamos ficar juntas! Se você ficar, eu fico também. — digo.

— Não seria prudente, você disse que há monstros aqui. Eu já estou perto da morte, esta ferida em minha perna irá me matar, mas você é jovem e tem muito o que viver. — deixa uma lágrima cair. — Qual o seu nome menina?

— Ninguém merece morrer assim e eu sou Chloe Collins.

E então todas aquelas criaturas já estavam em nossa frente; seus dentes, suas garras e seus olhos fulminantes planavam sobre nós furiosamente.

— Não podemos ficar aqui! — Jully diz.

— Você me fala isso agora? — pergunto de maneira irônica.

Ela logo se apoia em mim para se levantar; eu sentia... Ela queria viver.
De maneira lenta continuamos a nos afastar e as luzes nos mostrava o caminho a percorrer que por sorte não estava longe.
Ao chegar no vilarejo do qual a minha mãe havia mencionado, realmente apenas restara cinzas e entulhos por toda parte. Era horrível imaginar que ali pessoas morreram queimadas com muita dor e agonia... Completamente sozinhas.
Coloquei Jully sentada em uma pedra e comecei a procurar desesperadamente um local o qual pudéssemos nos esconder.
Um raio de esperança entra em meu coração quando vejo  as luzes iluminaram um arbusto logo a frente.
Ao averiguar de perto, era uma porta secreta que eu logo a abri com a chave.
Trago Jully para perto e tento colocá-lo para dentro do local, mas eu passei e entrei, mas ela não.
Puxava o seu braço com toda a força, mas uma barreira invisível a impedia de entrar, talvez estivesse relacionado ao fato de eu ser a única a poder fazer isso, devido estar relacionada  a esta maldição que me rodeia.

— O que faremos? — ela pergunta.

E as criaturas começaram a se aproximar ainda mais.
Em pânico saio e  procuro um lugar para que ela pudesse se esconder até que eu terminasse de fazer o que deveria.
Encontro apenas um caixote velho, mas era o melhor que havia.

— Fique aqui em silêncio. Seja como for não faça barulho. Eu irei vir te buscar. — digo enquanto ela começa a entrar.

Cubro o caixote com algumas folhas e corro para passagem secreta; fora o tempo restante que eu tive até os Wendigos se aproximarem.
Antes que eu pudesse estar totalmente do lado de dentro, um deles agarra o meu colete que estava usando; mas depressa eu o corto com a minha espada. A última coisa que pude escutar foi:

— Você vai me pagar! — ri de maneira macabra.

Neste momento quase sem fôlego estou em um local um pouco parecido com uma biblioteca que se mesclava com um quarto.
Era totalmente estranho o fato de existir uma passagem secreta e ainda mais peculiar a maneira que se abriu.
Meus pensamentos eram voltadas para o vilarejo e Jully. Eu mal a conhecia, mas sentia pena dela e almejava que ficasse bem.
Começo a averiguar aquele local que era velho e cheio de poeira.

— Por que eu deveria vir até aqui, mãe? — tento encontrar um motivo.

Até que os meus olhos vão de encontro a um livro que estava sobre uma pequena mesa.
Aproximo-me para vê-lo melhor e o seu título intrigava-me.

— O diário de Bartolomeu Wilkins! — leio em voz alta. — Quem seria este homem ? É por causa desse livro que vim até aqui? — pergunto-me.

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