Capítulo 20

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Meus olhos sintilam serpertiando pelas folhas do papel  avelhantado; à cada toque pude sentir uma certa emoção emanar-se e estremeci quando uma rajada de vento misteriosa sobrevoou o lugar o qual estava, virando, dobrando e o fazendo o diário cair ao chão. O livro, ainda aberto,  estava amostra num extenso texto escrito a punho; aproximo-me e pego o livro em mãos e ouso a ler.

14 de abril

Robert novamente veio atrás de nós e sua esposa começara a se incomodar de tal modo que ameaçara até mesmo a minha pequena Esther.
Suas visitas frequentes, importunas e maliciosas com o intuito de tomá-la como sua, apenas para suprir o seu prazer horrendo, aumentara ainda mais a minha ira.
Como ousaria tocar em minha pequena Esther que é a única lembrança que tenho da minha amada?
E novamente ele veio nos ver com suas propostas indecentes.
Tendo uma mulher linda como a Calista, ainda olhara para outras e prometia amor a suas amantes.
Mas chegou um dia que fora o catilho para fazer o que fiz, e eu não aguentei.

Eu almejava terminar de ler de uma vez, mas a minha atenção fora desviada quando uma pequena folha se desvencilhou das outras e caiu ao chão. Um pequeno desenho de um homem e uma jovem estava contido neste papel. A moça muito linda com seus cabelos longos e ondulados, mas sem cor, uma vez que estava totalmente em preto e branco.
O homem, muito ajeitoso, com suas feições cansadas, mas de certa forma parecia um pouco com a bela jovem aparentando ser o seu pai.

— Esther Wilkins e Bartolomeu Wilkins. — leio o que estava escrito no inverso da folha quando peguei-a.

Diversos questionamentos surgem em minha mente, um deles, a possível suspeita de Esther ser na verdade filha do misterioso homem.
Havia mais informações e eu queria obtê-las, mas a atmosfera solene e misteriosa que pairava naquele momento fora encoberta com sensações de pavor e medo conjuntas com tremores vindos do chão sob meus pés.

— O que está acontecendo? — gritei.

As paredes do lugar começaram a derreter e se esfarelar em pó.
Em desespero, pego os meus pertences juntamente com o diário e coloquei-me para fora daquele lugar que diante dos meus olhos sumira assim como aparecera, de relance.
Meu coração em pulsação constante fazera com que buscasse fôlego, mas não o encontrasse; tentava me acalmar, mas o mesmo não acontecia.
Entre minha tamanha confusão mental lembro-me de Jully e de onde havia a deixado.
Sem barulho e sem sinal algum, o vilarejo tomado por cinzas apresentava.
Guardo o diário em minhas vestes e empunho a espada em mãos, preparada para qualquer indício daqueles monstros.
Vou até o lugar o qual deixei Jully e tudo estava aparentemente normal... Normal demais.
Notara que estava de noite, então não tinha certeza de quanto tempo estive fora, apenas me preocupava com seu estado, uma vez que estava ferida e temia encontrá-la morta ou desfacelida.
Aproximo-me do caixote e lentamente o abro, mas para minha terrível surpresa, ela não estava lá, nem ao menos o seu corpo.

— Ajude-me, Chloe! — uma voz feminina ecoavam pela mata.

Por um momento, eu tinha total convicção que aquela voz se tratava de um grito de socorro emitido por Jully, então avancei.

— Estou aqui! — ela continuou.

Estava tão silencioso que eu pudera escutar os galhos das árvores secas se quebrando de baixo dos meus pés.
E então, hesitei a prosseguir.
Lembrara que uma vez foi me dito que os Wendigos conseguiam imitar a voz das pessoas próximas a sua presa designada.

— Eu sei que são vocês! — gritei.

E nuvens tempestuosas começaram a marcar o céu.

— De tal modo tão esperta. — diz desta vez imitando a voz de Antony.

— Eu ordeno que pare!

— Ordena!? — debocha.

E dos arbustos foi surgindo o líder deles, logo atrás apareceu os outros e Jully totalmente ferida. Seus dedos das mãos e pés foram brutalmente arrancados e sua face aparentemente esmurrada.

— Por que vocês fizeram isso com ela? Ela não tem ligação alguma com esta história. — me exaltei.

— Todos que tentarem ajudar qualquer descendente da Calista merece morrer. — o líder diz.

— Apenas pelo fato dela ter cometido um erro? Sei que ela os feriu, mas sua geração não merece passar pela mesma coisa sempre.

Ele se virou e aparentou pensar por um momento, em seguida retornou com seus dentes e olhos vermelhos a mostra.

— Você não sabe de toda a história e vê apenas o lado miserável da sua família. Eu quero vingança e esta eu terei. — ele diz e levanta unicamente uma garra.

Jully se contorcia de dor a medida que o monstro se aproximava dela.

— Não toque nela! — gritei e apontei a espada para sua garganta.

— Você acha mesmo que isso pode me matar? Posso ser até ferido, mas não morto, pois isso de certa forma já estou. — gargalha genuinamente.

Com minha insistência em proteger Jully e a ventania que se alastrava, movera bruscamente minhas vestes e o diário caíra, revelando o desenho de Esther e Bartolomeu.
A criatura que antes almejava a morte de Jully, relutou e recuou quando seus olhos fulminantes e assustadores foram de encontro a imagem.
Seus olhar transparecia tristeza e saudade. Em um movimento letárgico curvou-se e abaixou a cabeça em direção ao desenho.
Sua ira cessou-se quando observou a bela jovem.

— Aonde você conseguiu isso? — ele pergunta.

— Não lhe interessa! — respondo de maneira grossa recuperando o diário e o desenho.

Sua expressão calma é tomada novamente por uma ira descomunal. Seus olhos penetravam até mesmo a mais dura alma e seu ranger de dentes assustava até mesmo o mais cético.
Pergunto-me o porquê de uma mudança tão repentina.
Talvez esse monstro sentiu algo ao ver aquela pobre jovem? Amor, saudade? Mas sou distraída novamente quando os outros Wendigos começaram a rasgar a pele de Jully.
Seus gritos de dor agonizante despertara algo dentro de mim e a luz de meus olhos emanou-se para minha espada que agora brilhava flamejante.

— Parem! — gritei e avancei sobre eles, os mesmos se esquivaram e a soltaram.

— Estou ficando boa nisso! — pensei orgulhosa.

Eu sabia que essa luz não podia matá-los, apenas afugentá-los, mas ter essa energia concentrada em um único ponto e não dispersa a mil direções, estaria mais forte, e assim me sentia.
Corajosamente, lancei diversos golpes no ar que os assustaram, devido a lembrança do fogo em sua vida passada.

— Maldita! — esbravejou.

Foram se afastando e sumindo por entre a escuridão nortuna, restando apenas Jully jogada no chão e sangrando muito.
Corri a seu encontro para ampará-la.

— Calma! Eu estou aqui. — digo tentando estancar alguns de seus ferimentos. — Você vai ficar bem.

—Não vou! — ela retruca quase sem voz.

Seus gritos sobrevoavam a folhagem de tal maneira que os dois reinos poderiam escutar.
As nuvens tempestuosas carregadas, começara a permitir que a água descesse sob o céu e lavasse o sangue que escorria dos grandes ferimentos em seu corpo quase sem vida.

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⏰ Última atualização: Sep 15, 2020 ⏰

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