Capítulo 14

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Como uma tempestade que se alastrava, o meu coração pulsava medo e tormento. Logo retiro a espada e destravo a porta da cabana; Cassius e Antony nos olham surpresos.
Meu pai que estava ferido logo é posto sobre uma cama improvisada de madeira e folhas.
Seu ferimento era grave, todavia, seu estado era estável após rasgar um pedaço de sua roupa e enfaixá-lo para que o sangue pudesse ser estancado; e assim o fez. Ao menos o curativo era durável até amanhã, pois partiríamos em seguida.

— É tão bom vê-lo, meu velho amigo. — Rei Arthur diz com a voz falha para Cassius.

Verifico o ferimento de Cassius e ele já estava bem; porém Antony ficara com cicatrizantes permanentes. A garra daquela fera havia feito alguns arranhões em seu rosto os quais foram em cheio em um de seus olhos cegando-o.

— Eu sinto muito! — passo uma das mãos em seu cabelo. — Se eu pudesse ter evitado... Eu faria. — suspiro.

Em uma expressão tranquila ele se aproxima ainda mais de mim e afaga a minha cabeça.

— Fico feliz que você esteja bem! — sorri.

Observo se todos os lugares acessíveis estão bloqueados para que nenhum Wendigo pudesse entrar e os quais não estavam; pego alguns materiais de madeira que havia no interior da cabana e faço algumas barricadas para a nossa proteção.
Sinto que devia contar-lhes sobre a estranha luz; Cassius e Antony não sabiam e eu temia por suas respostas.
Contei-lhes primeiramente sobre as vidas que perdemos no caminho até aqui e o quanto lamentava isso; e após mencionei a misteriosa luz e contei-lhes tudo que eu sabia.

— Há algo muito estranho acontecendo comigo! Quando eu estava encurralada, em perigo... Uma luz vermelha vinda de meus olhos afastou aquelas criaturas.

— Você tem certeza disso? — Antony pergunta boquiaberto.

E eu confirmo.

— Isso é loucura! — Cassius diz enquanto conserta sua postura.

Ele pensa em continuar a falar, mas é surpreendido pelo olhar de reprovação de meu pai e Antony.
Não o culpo por não acreditar; nem eu mesma realmente acredito no que houve.

— Sinto muito, eu não deveria ter me expressado desta maneira. — se desculpa.

— Não há problema, Cassius. Sei que é muito para absorver por uma noite.

Olho para meu pai e vejo que o mesmo está pensativo.

— O que houve? — pergunto-lhe.

Ele hesita em responder e respira de maneira pesada. Não queria pressioná-lo, pois agora não era o momento apesar de estar curiosa e intrigada sobre o que aquela criatura havia dito. " A menina dos olhos de fogo".

— Não precisa dizer se não se sente bem. — tranquilizo-o.

— Não se preocupe, eu irei dizer. Escondi isso de você por tanto tempo, não deveria ter feito dessa maneira. — posso ver um semblante triste em sua face.

Ele tenta se colocar em uma boa posição para conversar conosco, mas logo cai novamente na cama.

— Pai, melhor o senhor não dizer nada... Não por agora. — alerto-o.

O mesmo me repreende gentilmente e retorna a tentar ficar em sua posição desejada, desta vez com sucesso.
E então ele começa a falar.

— Há muito tempo... Mais especificamente quando conheci sua mãe, apaixonei-me profundamente. Naquela época ainda príncipe, Elize viu algo em mim que ninguém antes havia visto, amor. Tínhamos a sua idade. — respira. — Logo casamos, mas no dia do casamento Elize contou-me um de seus maiores segredos.

— O que? — dizemos em conjunto.

— Ela estava presa por uma maldição. Há séculos anteriormente uma ancestral de sua família, Calista, estava tomada por raiva. Em sua frente ela via apenas vingança e dor... Dor por ter perdido alguém que amava; um homem daquele vilarejo havia matado o seu grande amor, e em um impulso ateou fogo naquele pobre lugar perto daquela floresta.  — aponta para o lado de fora. — Havia pessoas boas e ruins, as boas queimaram e suas almas descansaram... As ruins queimaram e não conseguiram enxergar a luz, suas maldades as prenderam na terra e assim vagavam por esta floresta. São aquelas criaturas.

— Mas o que isso tem haver comigo? — começo a chorar e Antony me abraça.

— Como maldição, sua ancestral ficou interligada eternamente com aqueles monstros; seus olhos ganharam a cor do fogo, a mesma cor que ela viu aquelas pessoas queimarem até a morte.
A luz os assustavam e os afastavam por um tempo, mas a ira que habitava neles era mais forte.
Ela tinha dezoito anos quando tudo isso aconteceu; e desde então aquelas criaturas começaram a aparecer e a matar várias pessoas. Eles queriam vingança e isso perpetuou por um longo tempo. Até que sua ancestral morreu e as criaturas sumiram do mesmo jeito que apareceram; porém antes de Calista morrer deixou sua filha que posteriormente herdaria a maldição. E assim, anos após anos no décimo oitavo aniversário da herdeira da maldição, as criaturas voltam buscando vingança. E assim acontecera com sua mãe; eles a mataram — começa a chorar. — Mas nós tivemos você, então a maldição continua a ser passada.

— Como vossa majestade sabe de tudo isso? — Cassius pergunta desacreditado.

— Elize me contou aquela noite no nascimento de Chloe; alguns minutos antes das criaturas ter nos alcançado. Eu realmente tentei protegê-la, mas falhei e estou falhando com você, filha. — direciona seu olhar para mim.

Escondo os meus olhos embaixo de minhas mãos trêmulas. Minha mãe foi morta?
Começo a chorar descontroladamente com tanta informação e tamanha que era a minha dor. Aquelas criaturas eram pessoas? Eles querem vingança? Querem me matar?

— Tem que haver algum jeito de impedi-los! — Antony diz com os olhos lacrimejados.

Meu pai começa a ficar agitado e isso agrava o seu ferimento; tento ajudá-lo, mas o mesmo me impede.
O meu mundo estava se desmoronando gradativamente.

— Se houver, desconheço. — esmurra a madeira. — Tentei lhe proteger no castelo, mas temia que eles voltassem como aconteceu; eu fui tão ingênuo pensando que poderia protegê-la. — chora. — Perdoe-me, filha.

Cassius permanece quieto e estupefato.
Tento me acalmar e aproximo-me de meu pai.
Eu não sabia como essa história iria terminar, mas não posso ver o meu povo sofrendo.

— Não se culpe tanto! — abraço-o. Mas o senhor não tinha o direito de esconder isto de mim. — suspiro. — Mas lhe perdôo. Amo você, pai. — digo e ele sorri tomado por uma mistura de alegria e tristeza.

Eles querem me matar pelo motivo que dura há tantos anos; se eu pudesse ter feito diferente... Agora é muito tarde.

— Na biblioteca do castelo! Deve ter alguma informação. Talvez a rainha tivera deixado algo para a princesa. — diz Cassius.

— Eu havia encontrado um livro. — lembro-me do livro da biblioteca do dia anterior.

— Você tem razão! Iremos amanhã para o castelo quando o sol raiar. — dizemos em conjunto.

Após algumas horas todos estavam dormindo, menos eu.
Meus pensamentos viajam sobre as folhas daquela floresta.
Lembro de uma foto que havia visto de minha mãe há muito tempo... Se eu pudesse tê-la conhecido e se ela estivesse aqui, talvez soubesse como lidar com essa situação.
Não quero ficar sozinha, eu não sei como salvar o meu povo e não sei como me salvar; isso me assusta.

Liberta-meOnde histórias criam vida. Descubra agora