- Tenha cuidado - minha mãe me instruiu, enquanto eu arrumava rapidamente minha bolsa em cima da mesa da sala. Revirei ou olhos, internamente condenando a forma como ela me tratava como uma criança, embora eu já tivesse meus 20 anos de idade e estivesse indo para a faculdade.
- Vou fazer exatamente o que venho feito faz 20 anos - respondi, exausta de repetir pacientemente que nunca fiz algo que me colocasse em risco. Eu não costumava agir grossa assim, por isso minha mãe ignorou, talvez compreendendo que eu havia passado a noite acordada com ansiedade para meu primeiro dia na faculdade de Letras.
- Aliás, o Thomas ligou para mim. Disse que havia ligado para você, mas que não atendeu. Quer conversar. - ela falou, pacientemente.
- Mãe, eu estou ansiosa. Estressada. Por favor, apenas me deseje um ótimo dia e pare de me deixar na expectativa de coisas ruins e falando de pessoas que não me interessam. Se eu não atendi às ligações dele nem respondi às mensagens, já passei uma mensagem clara - respondi, terminando de jogar meu fichário, meu livro preferido do momento, o Corte de Espinhos e Rosas e meu estojo cheio de canetas dentro da bolsa e indo engolir um pedaço de pão com café puro na cozinha. Não estava nem perto de chegar atrasada, ainda faltavam 2 horas e 30 minutos para começar minha aula na faculdade que ficava à meia hora de distância. Acontece que eu desisti de cair no sono às 05:00 da manhã e não consegui esperar para minha aula que começava às 08:30.
- Charlotte, é só uma faculdade - ela falou, como tantas outras vezes - não precisa ficar assim, vai se acostumar.
- Tudo bem mãe, eu sei que isso não significa merda nenhuma, é apenas uma faculdade que eu tive que estudar como uma louca para entrar, mas tenho o direito de ficar ansiosa com isso - enfiei o resto do pão na minha boca, peguei a minha bolsa na sala e fui em direção à porta antes que aquela conversa gerasse uma enorme discussão e eu já começasse meu dia de mau humor por conta da mania da minha mãe ansiar ajudar e acabar piorando tudo - tchau.
- Não vai esperar seu pai e sua irmã acordarem para dizer um "tchau"? - ela perguntou, me lembrando mas entrelinhas que eles se acordavam às 06:30 para trabalhar.
- Mãe, vou explodir. Preciso ir agora, descobrir logo onde serão minhas salas e tudo mais - disse, abrindo a porta e saindo em dispara em direção ao jardim que ficava em frente da casa, não fornecendo tempo para discussões. Ela odiava quando me estressava e aí me estressava ainda mais. E eu não costumava sair de brigas quando entrava nelas.
Fui até a faculdade andando, para sentir um pouco de ar puro, me acalmar um pouco e até mesmo passar o tempo. Não queria começar dando a impressão de louca, chegando 2 horas adiantada, mas não iria conseguir ficar esperando em casa. Embora estivesse elétrica, meus olhos estavam pesados e cansados, por conta da noite anterior madrugando.
Quando finalmente cheguei, olhei meu celular e meu coração disparou: 7 chamadas da minha mãe, 5 do meu pai e 3 da minha irmã mais velha. Porra, já haviam se passado 1 hora desde que saí de casa. Isso que dá ficar distraída olhando o jardim dos outros.
Olhei para minha faculdade, admirando a construção bem arquitetada e bonita. Sabia que não deveria me encantar por muito tempo com o exterior dela, porque aí provavelmente chegaria atrasada para minha aula, que ainda nem sabia em que sala era. Mas resolvi tirar uma foto e encaminhar para a minha família:Quando entrei na faculdade, depois de fiscal na porta perguntar onde estava meu documento com a minha inscrição e ele ter me informado a sala onde poderia encontrar meu coordenador de curso para ele me fornecer as orientações, vi uma verdadeira avalanche. Nos corredores que dariam até a sala onde poderia encontrar meu orientador, estavam uma multidão de pessoas de todas as idades, com todos os tamanhos e expressões.
- Meu Deus - falei para mim mesma, não parando de andar. No entanto, seria bem difícil passar entre todos.
- Novata, é? - uma menina de cabelos pretos e curtos baixinha falou ao meu lado. Ela usava uma calça de couro preta e uma jaqueta militar.
- Sim - respondi, ainda a observando. Eu gostava de observar pessoas, mas tinha medo de parecer uma psicopata alucinadas algumas vezes, então dei um sorriso para quebrar o clima sério.
- Também sou. Cara, aqui cheira a sovaco - ela brincou, devolvendo o sorriso. Fiquei impressionada com a extrovertividade da garota, porque não seria capaz de chegar brincando assim. Gostei dela.
- Cheira mesmo. Nunca vi tanta gente em um lugar só... - concordei, rindo também.
- Qual é o seu nome?
- Charlotte. Qual é o seu?
- Que nome bonito! O meu nome é Alice - ela falou, arrumando seus cabelos lisos. Não fez muita diferença, porque eles já estavam bonitos e alinhados antes.
- O seu também é. Lembro de Alice no País das Maravilhas, amo o filme e os livros - falei, me encolhendo por pensar que talvez fosse um gosto muito infantil.
- Gosto também. Só não amo porque não gosto do autor, acho ele um pouco perturbado. Homem estranho, aquele Lewis Carroll. E esse nem é o nome de verdade dele. Na verdade, é Charles Dodgson.
- Dizem que ele fazia muitas pinturas de crianças e que era pedófilo...mas procuro ficar mais na obra do que no autor.
Afinal, um autor de Alice no País das Maravilhas não poderia ser normal - rimos juntas, até que lembrei que precisava procurar meu coordenador - preciso procurar o coordenador do curso.- Você é de qual curso?
- Letras.
- Nós precisamos procurar.
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Prof Daddy
RomanceDepois de ter acabado o namoro com seu ex-namorado, Thomas, Charlotte saiu completamente destruída e com um único objetivo: entrar na faculdade de Letras, seu maior sonho. Mas não esperava que encontraria muitas surpresas, e entre elas, o simpático...