– E cadê o resto do filme? A parte dois? – Thiago me perguntou indignado. Para ser justa, ele não derramou nem uma lagrimazinha enquanto assistíamos ao longa.
– Acaba assim, eles não ficam juntos – comentei. Eu ainda ficava arrasada com o final de La La Land toda vez que assistia, mas no fundo eu entendo que não faria sentido de outro jeito.
Estávamos sentados na sala de cinema da casa dele, um ambiente com paredes escuras, um sofá enorme e uma televisão gigante. Em algum momento ele tinha colocado um braço ao redor do meu ombro, e eu havia deitado em seu peito. Eu estava começando a entender as personagens de livros obcecadas com cheiro, porque o perfume dele era maravilhoso. Agradeci a mim mesma mentalmente por ter escolhido um filme que já vi, pois quando ele começou a brincar com meu cabelo, eu parei de prestar atenção.
– Se essa é sua ideia de filme que deixa as pessoas felizes, nossa, não quero nem ver quando você quiser dirigir um filme triste – ele comentou. Fiquei feliz porque ele já estava me imaginando como diretora.
– Você tem que ver a mensagem além do final. Mia e Sebastian foram necessários um na vida do outro, para que pudessem alcançar seus sonhos, mesmo que na hora que isso estava acontecendo eles tenham tido que se separar. O filme mostra que você pode amar muito uma pessoa, que ela pode ser essencial na sua trajetória, mas que não precisam ficar juntos no final, que não podemos ter tudo, e ali eles teriam que sacrificar um amor ou a carreira dos sonhos. E tá tudo bem, a vida é assim. Tem outras críticas e homenagens também, mas escolhi pelo romance.
– Faz sentido, mas… Queria um final feliz para eles.
– Porém concorda que não foi um romance brega? Embora eu ame romances bregas, venci a aposta, né? – Falei, não podendo conter um sorriso.
– Venceu – ele soltou o ar dramaticamente. – O que você quer em troca?
O tom que ele colocou na última frase me fez arrepiar inteira, de um jeito bom.
– E quais são minhas opções? – Provoquei.
– Eu estou disposto a deixar você fazer o que quiser comigo… – ele sussurrou no meu ouvido, provocante, e foi como se me incendiasse por dentro.
Me inclinei e o beijei, e foi maravilhoso. Ah, eu estava ferrada. Ele estava me ensinando uma língua secreta que eu não conseguiria falar com mais ninguém.
🍇🍇🍇
A TV exibia paisagens lindas em seu modo de descanso, era quase como olhar através de uma janela enquanto estávamos deitados no tapete felpudo da sala há não sei quanto tempo. Eu estava cansada e saciada de um jeito feliz, e o silêncio não era constrangedor. Pensei em como era bom me sentir finalmente… completa. Eu poderia estar sendo precipitada, possivelmente estava, mas ali, naquele momento, nada disso importava. Eu queria mais, queria de novo, era como uma droga.
– Quer beber alguma coisa? – Thiago perguntou, virando de lado para me encarar.
– Aceito uma água, por favor.
Ele se levantou para ir buscar, apenas de cueca, mas eu não era tão desprovida de vergonha assim para andar nua na casa dos outros, então me vesti e fui ao banheiro antes de encontra-lo na cozinha. Que, por sinal, era enorme e estava impecavelmente limpa. O meu copo com água já estava na bancada e Thiago estava tirando várias vasilinhas coloridas da geladeira.
– Rosa me acha incapaz de fazer comida para minha própria sobrevivência, então sempre deixa porções prontas para mim. Espero que não se importe de comermos algo congelado – ele falou.
– Claro que não!
Enquanto ele colocava a comida no microondas e a cozinha se enchia com um aroma maravilhoso de comida, me explicou que Rosa trabalhava ali desde que ele era apenas um garoto, e que quando a mãe dele estava viajando, ela ficava excessivamente protetora.
– Mas supondo que você precisasse fazer alguma comida na hora, você conseguiria? – Perguntei. É claro que é muito bom ter tudo pronto, mas todos deveriam saber o básico para sobrevivência.
– Nada que um tutorial do youtube não resolva, eu acho – ele riu, eu também. O ravioli estava realmente muito bom, e eu também não iria para a cozinha se tivesse algo pronto assim sempre.
Levei um susto ao olhar o relógio da cozinha. Passava de meia noite e eu tinha perdido completamente a noção do tempo. Thiago seguiu meu olhar.
– Quer dormir aqui? Eu posso te levar em casa, sem problemas, mas está tarde. E eu posso abrir um vinho pra gente... – ofereceu. Pensei… Eu nunca fui boa com isso de ir devagar, e pelo visto não iria começar agora. Eu já tinha me ferrado algumas vezes, mas não é essa a graça da vida? Uma das melhores sensações não é quando seu coração está completamente curado e pronto para se jogar na próxima aventura? O meu estava indo por esse caminho… Não que eu fosse entregar meu coração para ele, não que ele fosse parti-lo, mas ele tinha aquela cara de mocinho que arruína sua vida.
– Tenho dois quartos de hóspedes – ele continuou, entendendo errado a minha demora em responder.
– É sério? – Perguntei, incrédula. Depois de tudo. Ok, o tudo consistia em dois encontros bem rápidos, mas…
– Ah vai saber né… – ele riu.
– Eu fico. Até porque se você tem dois quartos de hóspedes, deve ter uma escova de dentes extra pra me emprestar.
– Devo ter.
Subimos para o quarto e o segundo andar da casa era ainda mais bonito, e como estávamos em um condomínio um pouco afastado da cidade, as estrelas brilhavam com uma força maior. Comecei a cantarolar City of Stars, que ficava na minha cabeça sempre que eu assistia ao filme. Thiago me abraçou e ficamos um tempo olhando a cidade da sacada, com as luzes parecendo estrelas brilhando apenas para nós, assim como na noite do ano novo. Onde eu estava me metendo? Parecia tão certo, mas ao mesmo tempo algo me dizia que estava bom demais para ser verdade. Decidi ignorar, por enquanto, e aproveitar o momento. Mas eu iria descobrir da pior forma que ignorar minha intuição era uma das piores coisas que eu poderia fazer.
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Illicit Affairs [Projeto Folklore] - COMPLETO
RomanceQuando Cecília se muda para a pitoresca cidadezinha de Ciclanto, no sul do país, tudo que ela queria era recomeçar. Mas sendo essa cidade conhecida como a Verona brasileira, lar de famílias rivais e muita intriga, ela já deveria imaginar que confusõ...