Epílogo

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4 meses depois - Carlos 

Cecília me disse que queria ir com calma, mas com ela nada era pacífico. Era como estar no meio de um furacão, cercado pela intensidade de viver ao lado daquela mulher que pensava depois de fazer, e pulava com tudo para só depois descobrir o que tinha lá embaixo. Estavam sendo alguns dos melhores meses da minha vida.

Naquele momento, estávamos em plena festa da colheita, onde tive a honra de presenciar um dos maiores barracos do ano passado. Este ano, tudo corria bem, na paz, e as pessoas pareciam felizes demais entupidas de vinho para se preocupar com qualquer coisa. Até mesmo a revelação da influencer Eliza Carvalho como novo rosto da nova safra da Alvorecer, a vinícola dos De Luca, depois de anos namorando um Martinelli,  não causou o mesmo burburinho que teria provocado em anos anteriores, com direito a arremesso de taças e guerra de rolhas. Helena e Ethan estavam finalmente guiando nossa cidade para a paz. 

Eu estava dividindo uma cerveja com Hugo, esperando Cecília e Bia voltarem da barraquinha de comidas típicas, e quando percebi elas se aproximarem meu coração acelerou. Tinha planejado aquele momento por semanas, mas fazer acontecer era bem diferente. 

Cecília estava encarando o celular com uma expressão curiosa, como se tivesse visto uma coisa absurda demais para ser verdade. 

– O que aconteceu? – Perguntei quando ela se aproximou. Ela balançou a cabeça, incrédula, antes de me explicar: 

– Nada, é que meu ex… – E ela não pôde mais conter o riso. Respirou fundo antes de continuar: – Ele fica criando umas contas falsas pra me encher o saco, sabe? Fica cada vez mais ridículo. No começo, eu achava meio assustador alguém me odiar tanto assim, mas agora que entendi eu só acho patético. 

– Quem? O Thiago? – Fiquei tão curioso que por um momento me esqueci dos meus planos para aquela noite. Até onde eu sabia, Thiago tinha se mudado para Porto Alegre, com a justificativa que lá tinha mais recursos para movimentar a parte jurídica da empresa. Minha opinião? Ele não conseguiu lidar com a própria bagunça.

– Não, pior ainda… – Cecília falou, um brilho divertido no olhar. – É o Guilherme, já faz mais de ano que terminamos e ele ainda está nessa.

– Não é fácil esquecer uma mulher como você, sabia? – Falei, olhando bem no fundo dos olhos dela, tentando entender sua alma. Aquela alma revolta e inconstante que eu jamais poderia apagar da minha memória. Cecília devolveu o olhar com tanta intensidade que eu precisei me controlar muito para não beijá-la contra uma parede qualquer até saciar aquela sede implacável que ela provocava em mim.

– Eu sei – ela respondeu, a voz rouca, sem romper o contato visual. Isso me incentivou a continuar. 

– Confia em mim? 

– Confio – e então a peguei pela mão, dando uma olhada discreta nas horas, e fomos andando até um chafariz que ficava na praça da rua de trás de festa. 

Quando chegamos, o relógio da igreja de pedra já estava batendo meia noite, e o show de fogos de artifício tinha começado, iluminando o céu em cores que eu nem sabia que existiam. Havia mais algumas pessoas na praça, mas em geral ela estava vazia quando aproveitei a distração de Cecília com os fogos e me ajoelhei, pegando sua mão. 

Ela olhou pra mim um pouco confusa, o rosto iluminado pelas luzes que explodiam atrás de nós. 

– Eu sei que você quer ir com calma – falei, meu coração prestes a sair pela boca, mas tinha ensaiado aquele discurso infinitas vezes diante do espelho. – Mas nestes últimos meses não consigo te tirar da cabeça. E sou vaidoso o suficiente para assumir que você também não para de pensar em mim, olha pra mim, né? – Eu ri, mas foi mais de nervoso. Continuei:   

– Eu não quero ficar com mais ninguém, não suporto sequer imaginar você nos braços de outro.

Respirei fundo, os olhos dela estavam brilhando ainda mais que o normal. 

– Então, Cecília Solares, você quer, por favor, me dar a honra de ser minha namorada? 

Alguns segundos se passaram sem que ela falasse nada. Cheguei a me questionar se aquilo não tinha sido um enorme erro. 

Até que ela caiu de joelhos na minha frente, segurando meu rosto nas mãos. 

– Eu achei que você nunca mais iria pedir – seu tom era ao mesmo tempo divertido e profundo, e eu senti aquelas palavras incendiaram a minha alma. – É claro que sim! 

E quando ela me beijou foi diferente, o mundo poderia acabar ao nosso redor que eu não iria perceber. Mesmo que estivéssemos no chão, no meio de uma praça pública. 

– O hotel fica a dois quarteirões daqui – consegui sussurrar, sem fôlego. 

– Ótimo, porque eu só comprei esse vestido pra você tirar – ela sussurrou se volta. 

Muito, muito obrigada a você que leu até aqui! Escrever essa história até o fim foi uma experiência incrível, e saber que vocês estavam comigo fez tudo valer a pena. Não é o fim, Cecília e Carlos continuam vivendo a vida deles, Thiago continua aprontando, Inez continua fofoqueira... Eles só pararam de dividir o que acontece com a gente.
E, ah, em breve eu espero trazer a história do Ethan e da Helena! Inspirada na música False God da Taylor Swift, pra gente conhecer mais de nossa Julieta e nosso Romeu favoritos ❤️

Illicit Affairs [Projeto Folklore] - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora