A varanda era muito bonita, ainda mais naquele momento toda iluminada por cortinas feitas de pequenas luzes. O hall de entrada da casa transformado em salão de festas também estava deslumbrante, e se eu fechasse os olhos e ignorasse as luzes coloridas e as músicas bem brasileiras que a DJ tocava, poderia me sentir num baile dos romances de época. Mas eu não estava num baile de época, estava encharcada de vinho e tinha um cara muito bonito me olhando com uma expressão preocupada, depois de eu ter trombado nele! Ele deveria estar com raiva, e eu deveria pedir desculpas. Mas minha mente estava confusa, então tudo que eu disse foi:
— Você não está de branco. É uma festa de ano novo! — soei mais indignada do que eu planejava. Ele estava de calça jeans escura e uma camisa bordô de mangas compridas, os primeiros botões estavam abertos e eu tentei não olhar para os músculos da pele bronzeada de sol que se destacavam ali.
— Quando você cresce em festas cheias de vinho tinto, acaba percebendo que usar branco não é uma escolha lá muito inteligente — ele respondeu erguendo uma sobrancelha e apontando para a parte molhada da camisa. Eu ri.
— Desculpa. Eu não olhei para onde estava indo, só queria um pouco de ar fresco — senti como se devesse me explicar para aquele estranho. Fiquei nas pontas dos pés procurando minha prima, mas ela tinha desaparecido na multidão.
— Não tem problema, de verdade — ele respondeu. Olhou para cima passando a mão no cabelo, como se estivesse refletindo sobre alguma coisa.
— No que está pensando? — Perguntei. No fundo da minha mente, uma voz me avisou que não era da minha conta. Eu devia ir embora, procurar Bia e Hugo, e talvez arranjar uma taça nova e algum estranho aleatório pra beijar à meia noite. Mas eu também estava poética, com aquele véu que o álcool cria entre a realidade e o começo da embriaguez me dizendo que era o destino. Para minha sorte, ele pareceu achar graça da minha pergunta.
— Em nada específico... — respondeu, simplesmente. Pelo menos ele não disse que não era da minha conta.
Neste momento, a música parou e a voz da DJ ecoou pela festa avisando que faltavam apenas dois minutos para a virada do ano, e que a chuva de fogos poderia ser vista da varanda dos fundos.
Como estávamos parados na porta, as pessoas começaram a passar por nós para garantir uma vista privilegiada, e alguém na pressa acabou esbarrando em mim, me fazendo cair nos braços daquele estranho. De novo.
— Ainda bem que não reabastecemos essa taça, né? — Ele falou, se aproximando do meu ouvido para que eu pudesse ouvir por cima do barulho. — Sei que nos conhecemos agora, e eu nem sei seu nome, mas conheço um lugar onde podemos ver os fogos com mais privacidade. Quer ir comigo?
— Quero — ele pegou minha mão para chegarmos no tal lugar. Era arriscado e era loucura ir atrás de um cara desconhecido, mas era o fim de um ano e o começo de outro. Era o recomeço da minha vida e eu queria me aventurar, viver novas experiências e deixar os traumas do passado para trás.
Entramos no salão enquanto as pessoas saíam, atravessando aquele mar de pessoas, subimos uma escada e chegamos numa porta que estava vigiada por um segurança, que nos deixou passar ao ver a pulseira VIP que o rapaz mostrou pra ele.
A porta dava para uma sacada no segundo andar, onde eu finalmente consegui o ar fresco que tanto queria. A visão era fenomenal, vinhedos iam quase a perder de vista, e acima de nós as estrelas brilhavam e as luzes da cidade ao longe encontravam o brilho do céu, dando a impressão de alguém tinha polvilhado glitter em toda a paisagem.
Estava menos barulhento ali em cima, mas ainda podíamos ouvir os sons que vinham do salão, e eu ainda estava distraída com a paisagem quando a contagem regressiva pelo novo ano começou.
Dez… nove…
– Qual seu nome? – Ele me perguntou.
– Cecília, e o seu?
Oito… sete…
– Thiago. Você veio sozinha?
– Vim com a minha prima e uns amigos. E você?
Seis… cinco…
– Helena é minha prima, então você poderia dizer que estou numa festa de família.
– Ah, por isso a pulseira vip – concluí em voz alta, mesmo que fosse óbvio. Thiago estava chegando mais perto, e eu estava gostando disso.
Quatro… três…
– Ser um Martinelli tem lá suas vantagens, às vezes.
– Só às vezes?
– Só às vezes.
Dois… um…
– FELIZ ANO NOVO!
Neste momento, ouvimos a festa inteira gritar em uníssono, e um som que parecia centenas garrafas de champanhe estourando. O céu se iluminou com vários fogos de artifício, de todas as cores, um mais lindo que o outro.
– Uau. Isso é lindo, obrigada – eu falei, sem tirar os olhos do espetáculo a minha frente.
– De nada. Pelo que? – ele respondeu rindo, parecendo que estava bem atrás de mim, me fazendo sentir um formigamento no corpo inteiro.
– Por me trazer até aqui – eu não queria tirar os olhos do céu para olhar pra ele, mas senti suas mãos em minha cintura. Acho que eu suspirei.
Ele se inclinou e sussurrou no meu ouvido que o prazer tinha sido dele. E então, eu me virei e permiti que nossos lábios se encontrassem. E enquanto os fogos de artifício explodiam iluminando o céu, dentro de mim era como se mais fogos explodissem, em cores que eu nunca tinha visto com outra pessoa.
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Illicit Affairs [Projeto Folklore] - COMPLETO
RomanceQuando Cecília se muda para a pitoresca cidadezinha de Ciclanto, no sul do país, tudo que ela queria era recomeçar. Mas sendo essa cidade conhecida como a Verona brasileira, lar de famílias rivais e muita intriga, ela já deveria imaginar que confusõ...