Capítulo 3 - Just one single glance

75 16 20
                                    

A varanda era muito bonita, ainda mais naquele momento toda iluminada por cortinas feitas de pequenas luzes. O hall de entrada da casa transformado em salão de festas também estava deslumbrante, e se eu fechasse os olhos e ignorasse as luzes coloridas e as músicas bem brasileiras que a DJ tocava, poderia me sentir num baile dos romances de época. Mas eu não estava num baile de época, estava encharcada de vinho e tinha um cara muito bonito me olhando com uma expressão preocupada, depois de eu ter trombado nele! Ele deveria estar com raiva, e eu deveria pedir desculpas. Mas minha mente estava confusa, então tudo que eu disse foi:

— Você não está de branco. É uma festa de ano novo! — soei mais indignada do que eu planejava. Ele estava de calça jeans escura e uma camisa bordô de mangas compridas, os primeiros botões estavam abertos e eu tentei não olhar para os músculos da pele bronzeada de sol que se destacavam ali. 

— Quando você cresce em festas cheias de vinho tinto, acaba percebendo que usar branco não é uma escolha lá muito inteligente — ele respondeu erguendo uma sobrancelha e apontando para a parte molhada da camisa. Eu ri. 

— Desculpa. Eu não olhei para onde estava indo, só queria um pouco de ar fresco — senti como se devesse me explicar para aquele estranho. Fiquei nas pontas dos pés procurando minha prima, mas ela tinha desaparecido na multidão. 

— Não tem problema, de verdade — ele respondeu. Olhou para cima passando a mão no cabelo, como se estivesse refletindo sobre alguma coisa.

— No que está pensando? — Perguntei. No fundo da minha mente, uma voz me avisou que não era da minha conta. Eu devia ir embora, procurar Bia e Hugo, e talvez arranjar uma taça nova e algum estranho aleatório pra beijar à meia noite. Mas eu também estava poética, com aquele véu que o álcool cria entre a realidade e o começo da embriaguez me dizendo que era o destino. Para minha sorte, ele pareceu achar graça da minha pergunta. 

— Em nada específico... — respondeu, simplesmente. Pelo menos ele não disse que não era da minha conta. 

Neste momento, a música parou e a voz da DJ ecoou pela festa avisando que faltavam apenas dois minutos para a virada do ano, e que a chuva de fogos poderia ser vista da varanda dos fundos.

Como estávamos parados na porta, as pessoas começaram a passar por nós para garantir uma vista privilegiada, e alguém na pressa acabou esbarrando em mim, me fazendo cair nos braços daquele estranho. De novo.

— Ainda bem que não reabastecemos essa taça, né? — Ele falou, se aproximando do meu ouvido para que eu pudesse ouvir por cima do barulho. — Sei que nos conhecemos agora, e eu nem sei seu nome, mas conheço um lugar onde podemos ver os fogos com mais privacidade. Quer ir comigo?

— Quero — ele pegou minha mão para chegarmos no tal lugar. Era arriscado e era loucura ir atrás de um cara desconhecido, mas era o fim de um ano e o começo de outro. Era o recomeço da minha vida e eu queria me aventurar, viver novas experiências e deixar os traumas do passado para trás. 

Entramos no salão enquanto as pessoas saíam, atravessando aquele mar de pessoas, subimos uma escada e chegamos numa porta que estava vigiada por um segurança, que nos deixou passar ao ver a pulseira VIP que o rapaz mostrou pra ele. 

A porta dava para uma sacada no segundo andar, onde eu finalmente consegui o ar fresco que tanto queria. A visão era fenomenal, vinhedos iam quase a perder de vista, e acima de nós as estrelas brilhavam e as luzes da cidade ao longe encontravam o brilho do céu, dando a impressão de alguém tinha polvilhado glitter em toda a paisagem. 

Estava menos barulhento ali em cima, mas ainda podíamos ouvir os sons que vinham do salão, e eu ainda estava distraída com a paisagem quando a contagem regressiva pelo novo ano começou. 

Dez… nove… 

– Qual seu nome? – Ele me perguntou. 

– Cecília, e o seu? 

Oito… sete… 

– Thiago. Você veio sozinha? 

– Vim com a minha prima e uns amigos. E você? 

Seis… cinco… 

– Helena é minha prima, então você poderia dizer que estou numa festa de família. 

– Ah, por isso a pulseira vip – concluí em voz alta, mesmo que fosse óbvio. Thiago estava chegando mais perto, e eu estava gostando disso. 

Quatro… três…

– Ser um Martinelli tem lá suas vantagens, às vezes. 

– Só às vezes? 

– Só às vezes. 

Dois… um… 

– FELIZ ANO NOVO! 

Neste momento, ouvimos a festa inteira gritar em uníssono, e um som que parecia centenas garrafas de champanhe estourando.  O céu se iluminou com vários fogos de artifício, de todas as cores, um mais lindo que o outro. 

– Uau. Isso é lindo, obrigada – eu falei, sem tirar os olhos do espetáculo a minha frente. 

– De nada. Pelo que? – ele respondeu rindo, parecendo que estava bem atrás de mim, me fazendo sentir um formigamento no corpo inteiro.

– Por me trazer até aqui – eu não queria tirar os olhos do céu para olhar pra ele, mas senti suas mãos em minha cintura. Acho que eu suspirei. 

Ele se inclinou e sussurrou no meu ouvido que o prazer tinha sido dele. E então, eu me virei e permiti que nossos lábios se encontrassem. E enquanto os fogos de artifício explodiam iluminando o céu, dentro de mim era como se mais fogos explodissem, em cores que eu nunca tinha visto com outra pessoa. 

Illicit Affairs [Projeto Folklore] - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora