IV - O REI ESTÁ MORTO

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O chão parecia desfazer-se sob os pés de Regina; tudo tornava-se em trevas e medo, enquanto o cadáver do rei Henry esfriava em seus braços que já não aguentavam-lhe o peso.
O rei havia partido do mundo dos vivos sem ao menos tê-la revelado sua última vontade.
Entre gritos de pranto e dor, por ver os soldados carregando o cadáver de seu progenitor e melhor amigo, Regina apenas ajoelhou-se chorando enquanto Griphyus voltava para consolá-la envolvendo-a com grandes asas, enquanto em sua mente, via a imagem imóvel de um último que será em seu pai momentos antes da morte dele.

Entre gritos de pranto e dor, por ver os soldados carregando o cadáver de seu progenitor e melhor amigo, Regina apenas ajoelhou-se chorando enquanto Griphyus voltava para consolá-la envolvendo-a com grandes asas, enquanto em sua mente, via a image...

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De repente um vento muito forte atingiu o corpo do rei e os soldados que o carregavam, porém levando algumas folhas como que num redemoinho que tão rápido quanto surgiu, logo subiu em direção ao céu, desfazendo-se logo após.
Enquanto acompanhava os homens que levavam seu pai de volta ao palácio o mais rápido que podiam para não gerar alarde tão cedo, Regina de repente notou um pássaro preto e grande que parecia planar acima dela e de seu grifo, quando a mesma ave, um corvo, pareceu desequilibrar-se e desceu, batendo em alguns galhos e folhas duma conífera, caindo então, entre alguns arbustos ao lado de uma lagoa de águas límpidas que havia no jardim.
Tomada pela compaixão que sempre teve por seus amigos da floresta, apesar de agora ser uma grande guerreira tomara pela tristeza daquele instante, Regina não hesitou em correr até a beira da lagoa para socorrer o pobre pássaro.
Griphyus, por sua vez, já ia seguí-la, quando ela ordenou:
- Vá com eles, caro amigo! Eu volto logo. - Regina disse já embrenhando-se nos juncos.
O grifo então seguiu, os soldados que levavam o rei pelos fundos do castelo para que criados ou súditos não vissem o que houve, quando já com a água molhando-lhe os tornozelos, a princesa encontrou o corvo todo encharcado, com uma das asas quebrada, e caído sobre as folhas de uma grande vitória-régia escondida entre os juncos.
- Pobrezinho! - Regina disse estendendo-lhe as mãos. - Deixe-me ajudá-lo...
Porém; eis que ao pegar o pássaro, e olhar em seus grandes olhos negros e bulbosos, Regina teve uma estranhíssima surpresa:
O corvo; com uma voz ainda embargada falou as seguintes palavras:
- Minha jovem! Podes dizer-me onde estou?
- Mas o que... - Regina diz olhando para os lados e soltando a ave sobre a vitória-régia por um instante.
- Porque está tão triste teu semblante?
- Como? - a princesa diz tentando manter a sanidade, mas voltando a pegar o pássaro em suas mãos.
- Está mas terras de... - A princesa ainda questionava quando o corvo sussurrou:
- Por favor... Ajude-me!

. . .

Dias depois; enquanto a neve caía sobre o reino, numa noite fria na qual o inverno finalmente chegou, em algum lugar no subsolo da grande floresta que cercava o reino...
Um pequeno floco de neve vai adentrando as copas de árvores frondosas e passando pelos galhos e folhas é levado pelo vento até uma grande caverna escondida num rochedo no coração da floresta, caindo exatamente sobre uma mão pálida e enrugada com unhas pintadas de preto.

- Ordem! - Um homem velho de expressão rude, que veste uma longa capa azulada e sombria, grita batendo um bastão de metal no chão. - Ordem!
Ao redor dele, vários homens cujas vestes lembram a de magos, e druidas discutem em voz alta, ao redor de uma grande mesa de mármore branco, como se não chegassem a um acordo, quando o homem que tenta chamar a atenção deles toca com seu bastão na mesa que trinca ao meio fazendo com que todos os presentes naquela sala com paredes e teto de mármore, silenciem.
- Senhores! Por que tanto arrazoais sobre a jovem princesa?
- Lorde Urgannus, receamos que a princesa... - Um jovem druida diz ressabiado, mas logo é interrompido.
- Seja como a mãe dela? - O homem misterioso de voz grave e empostada questiona calmamente.
- Paciência; jovem Merlim. Não convoquei-vos de todas as terras deste império, para causar-vos problemas, e sim, para solucionarmos um em comum.
- Somos todos feitores da magia em sua forma benéfica, e não vetamos quaisquer criatura de usar os poderes mágicos que possua. - Duas magas disseram colocando suas varas de condão sobre a grande mesa de pedra.
- Todavia o domínio do Caos manifestou-se entre nós e deve ser contido, como dantes.
- E ele será! - Urgannus disse, seguro de suas palavras. - Como chefe deste conselho, eu vos trouxe para que orientem os magos deste reino junto a mim, e juntos, dissipemos todo o mal destas terras, como já havíamos planejado.
- Mas, senhor, - o jovem druida de nome Merlim questionou - Este plano realmente inclui banir todas as criaturas mágicas do Reino que não concordarem com os termos, para a Floresta Encantada?
- Um pequeno sacrifício pela salvação, meu jovem. - Urgannus disse tocando sobre a mesa, que se reconstruiu de imediato.
- Faremos com que a jovem princesa assine este decreto, - ele disse fazendo surgir um grande pergaminho sobre a mesa, à frente de todos. - proibindo quaisquer pessoas ou seres mágicos, exceto nós magos, de usar poderes mágicos ou especiais para executar todo tipo de atividade até que identifiquemos onde a Magia do Caos tem se manifestado.
- Embora praticamente já tenhamos a ideia de quem seja seu novo portador? - o jovem Merlim voltou a questionar.
- A impaciência leva à ruína, jovem Merlim.
- Perdoe-me, mestre! - o jovem druida desculpou-se reverenciando seu líder sombrio que prosseguiu:
- Tudo deu certo uma vez, meus caros amigos! - Urgannus disse confiante enquanto acenava para que todos estendessem suas varas e bastões mágicos para cima. - Então não falharemos desta vez.

Ao fim de seu discurso o mago estendeu seu bastão metálico para cima seguido de todos seus liderados, que lançaram feitiços ao céu na forma de poderosos raios de luz que atingiram as nuvens, enegrecendo-as e trazendo fortes chuvas que caíram sobre todo o reino, nos dias que se seguiram.

O velório do rei Henry comoveu a todos. Governantes de reinos distantes compareceram para prestar condolências e últimas homenagens.
Regina, sempre acompanhada de Griphyus agora parecia contida e simplesmente não entregou-se às lágrimas, apenas aceitando todos os pêsames e abraços que lhe foram oferecidos.
Seu imponente grifo negro e amigo, parecia sempre atento a tudo e todos no ambiente.
Regina não negou-se a abraçar até o mais simples de seus súditos, que chorava aos soluços pela morte de seu amado rei.
Já os magos da corte, embora também aparentassem grande comoção, pareciam mais preocupados em seguir e observar cada passo da princesa herdeira do que em ser gentis com o povo em luto.
O cortejo fúnebre seguiu até a praia; de onde arqueiros atiraram pequenas fênix de suas flechas, para que estas queimassem o corpo do rei, coberto por flores e lançado ao mar para que seu espírito se unisse à Gaia, o grande espírito da Mãe Natureza.

Foi então que Regina, observando tudo dum rochedo mais alto, deitou-se sobre o dorso de seu amigo Griphyus, para chorar amargamente.
E assim permaneceu, mesmo se dedicando em ajudar o pobre corvo que salvou na tarde em que seu pai deixou o mundos dos vivos.

Semanas após; talvez por respeito ao luto, o Conselho dos Sábios e Magos ainda evitava convocar a jovem princesa para coroá-la como a nova rainha, pedindo para que ela se prepare para assumir o legado de seu pai enquanto alguns membros do conselho a auxiliavam com formalidades e faziam conhecer todos os detalhes de acordos comerciais, alianças com outros povos, e regras de etiqueta.
Apesar de já ter conhecimento de muita coisa que seu próprio pai ensinara, Regina então permitiu-se aprender ainda mais sobre o reino que estava prestes a assumir.

Todavia; algo ainda a atormentava e frustrava: Não ter conseguido ouvir a última vontade de seu pai.
Porém; foi numa madrugada em que Regina perdera o sono, a pequena caixinha de música que sua mãe deixara como um presente de despedida começou a tocar.

Era alguma música semelhante à Dança da Fada de Açúcar, misturada com Lago dos Cisnes, com algum tipo de melodia celta mas que fez Regina dar um salto de sua cama, ao reconhecer que aquela era uma canção que sempre ouvia sua mãe cantarolar para que ela dormisse.
Intrigada ela foi até a pequena caixinha feita de ouro puro e refinado e que ao invés de uma bailarina, tinha um pequeno corvo, esculpido sobre a tampa.
Ao abrir a caixinha com todo cuidado, ela se deparou com uma pequena mensagem gravada ao lado da cordinhas da caixa música, que dizia:

- Derreta-me, eu sou a chave.

Intrigada com aquilo, ela já ia fechar a caixinha de música, quando o ambiente ao seu redor, modificou-se por completo, como se uma visão a levasse para dentro de um grande cofre cheio de tesouros, ao redor de um grande par de enormes portas feitas de ouro.

- Derreta-me, eu sou a chave? - Regina ainda sussurava, quando aquela visão dissipou-se e ela se viu de volta ao seu aposento, onde Griphyus dormia num grande tapete de pele de urso gigante.

- Tenho que levar esta caixa até a forja. - a princesa disse pegando uma bolsa feita com pele de animais e colocando a caixinha de música disse caminhando até seu fiel amigo:
- Griphyus! Ei, caro amigo, acorde. - Ela disse se ajoelhando-se perto do corpanzil do grifo. - Preciso que me leves até a forja dos cavaleiros do reino.
- Ahn... O quê? Regina? - O grifo respondeu ainda desnorteado. - Está certa disso, cara amiga?
- Sim, por favor. - Regina sussurou enquanto Griphyus levantava, espreguiçando-se. - Temos que ir agora!

[ UDG/F2 ] ORIGENS. Antes do "Espelho, Espelho Meu"Onde histórias criam vida. Descubra agora