Griphyus já ruflava suas asas pousando às portas da forja, quando Regina saltou de seu dorso, correndo até as portas entreabertas daquele lugar onde seu pai, sempre a levava desde muito jovem, para ensinar-lhe a arte da guerra.
Com um aceno de mãos, a princesa guerreira ordenou a todos os guardas, e forjadores para que se retirassem dali até segunda ordem.
Pegando a caixinha de música feita de ouro refinado duma pequena bolsa que trazia à cintura, Regina voltou a abrí-la e ler a mensagem deixada ao lado das cordas que já se mexiam enquanto a música suave tocava:
- Derreta-me, eu sou a chave? - Regina ainda questionava quando uma voz masculina, porém muito grave e sombria ressoou no ambiente ao seu redor:
- Certamente a mais bela de todas tem a chave em suas mãos, mas deve forjá-la para encontrar seu grandioso destino.
- Quem disse isto? - A princesa gritou assustada, quando Griphyus, ao ouvir o grito, entrou na forja para ver se ela estava bem.
- Não se preocupe comigo, Griphyus.
Diga-me, Griphyus: ouvistes esta voz?
- Que voz, alteza? - o grifo indagou assustado, quando ela pegou a caixa de música e o mais depressa que pode lançou na fornalha para que todo o ouro derretesse.
- Eu... - Regina disse enquanto a caixinha de música perdia sua bela forma, liquefazendo-se com o calor intenso.
- Até mesmo para nós seres mágicos, ouvir vozes não é um bom sinal, cara Regina.
- Sei disto Griphyus, porém exijo que não contes isto a ninguém! - Regina implorou, receosa e ele ainda jurava guardar aquele segredo, quando algo surreal aconteceu:Ainda dentro da forja, a caixa de música literalmente tranformou-se numa chave feita de ouro maciço, porém que já não era mais afetada pelo calor.
- Mas que tipo de ardil é este? - Griphyus e Regina questionaram ao ver aquilo, quando a voz misteriosa disse aos ouvidos de Regina:
- A chave que abre todas as portas agora está às mãos da mais bela de todas. Encontrai o tesouro ocultado em meio a valiosos despojos guardados.
- Maldição! - Regina gritou dando um salto enquanto retirava aquela chave estranha da forja, jogando-a para cima e escorregando no chão de pedra por conta do susto.
- Regina, cuidado! - Griphyus gritou ao ver a chave ainda flamejante caindo sobre ela.
- Nãaaaao! - A princesa ainda gritava, temendo ser queimada pela chave que caía sobre ela, quando a mesma caiu sobre a palma de sua mão.
- REGINA! - o grifo gritou apavorado ao ver os respingos do ouro derretido queimarem o solo, porém teve uma intrigante surpresa ao abrir os olhos na direção de sua amiga.
- Mas... Como? - Regina disse levantando-se e fechando os dedos ao redor da chave de ouro, que simplesmente não queimou sua mão, nem causou-lhe qualquer dano, apesar de ainda estar quente.
- Impossível! - Alguns trabalhadores da forja e dois cavaleiros que estavam por perto, e que entraram ao ouvir os gritos, exclamaram ao ver Regina segurando a chave incandescente, como se fosse um mero pedregulho.
- Céus! - Os cavaleiros resmungaram entreolhando-se e saindo do local.
- Lorde Urgannus tem razão. - um cavaleiro ruivo disse colocando um elmo prateado, enquanto outro, negro e calvo concordou com ele:
- A princesa fez uso de magia ilícita para segurar o objeto antes mesmo que esfriasse, vi com estes olhos que a terra há de comer.
- Tal como a mãe, antes dela! - o outro ainda murmurava quando ele gritou enquanto ambos já cavalgavam na direção do palácio. - Precisamos avisar ao Conselho dos Magos.Enquanto isso, dentro da Forja, Regina ainda segurava a chave quando ela viu os homens assustados já correndo para fora da forja e seus olhos brilharam.
- Estes não se lembrarão de nada, porém dois cavaleiros irão denunciar-te àqueles que desejam mal à mais bela de todas. - a estranha voz grave ainda falava na mente de Regina, quando os olhos dos trabalhadores que já corriam lá fora também brilharam, tornando-se acinzentados por alguns instantes.
- O que está fazendo Regina? - Griphyus questionava assustado, quando ela disse.
- Eu não sei, caro amigo! - a princesa disse sentindo algo poderoso correr-lhe pelas veias.
- Mas realmente sinto que foi algo necessário. - Ela concluiu quando seus olhos voltaram ao normal e os trabalhadores da forja caíram inconscientes lá fora.
- Lembre apenas de nosso pacto. Nada do que vistes aqui, - Regina disse amarrando a chave a um colar em seu pescoço. - será dito a qualquer ser vivente.
- Tens a minha palavra, alteza.
- Vamos embora! - Regina ordenou guardando a chave em sua pequena bolsa. - Há mais dois que acabaram escapando.
- O que disse? - Griphyus questionou enquanto a princesa montava-lhe o dorso, já fora da forja e em meio aos trabalhadores ainda inconscientes.
- Não temos muito tempo Griphyus. Para meus aposentos, já!
O grifo negro então ruflou as asas levantando voo o mais rápido que pôde, quando os trabalhadores da forja finalmente acordaram, simplesmente sem saberem o que lhes aconteceu.. . .
Horas mais tarde; num quarto real com dezenas de metros quadrados e decoração luxuosa, de estilo tão gótico quanto ostentoso e bávaro...
- Regina... - Griphyus questionou apreensivo. - Como fizeste aquilo? A chave, seus olhos... O modo como eles brilharam, e...
- Acalme-se, caro amigo! - Regina disse tocando nas faces de seu amigo emplumado e olhando em seus olhos, porém sem sequer mover os lábios.
- Como fez isso? - O grifo ainda indagava, quando ela explicou, porém dentro da mente dele:
- Eu adormeci por dez anos, caro amigo e agora sei que aquilo não foi um mero torpor.
Não apenas meus cabelos ou minha pele mudaram, algo maior, despertou em mim.
Por muito tempo, meu próprio pai disse que eu jamais vi o estranho artefato do qual ainda lembro ter tocado naquele navio, e que permitiu-me ter uma visão na qual minha própria mãe, liberava algum tipo de poder transcendental que o mesmo continha.
É como se... Existisse não apenas um único medalhão, sim... ( Era um medalhão) que encontramos naquela embarcação repleta de corpos, e sim outro que deveria ser encaixado nele para liberar todo o poder que, naquela visão... Transformou uma mera camponesa vestida de trapos numa guerreira de armadura ainda mais imponente do que a construída para mim desde que assumi o comando dos exércitos de meu pai.
E agora acredito que herdei algo mágico e poderoso de minha própria mãe, mas agora preciso descobrir o que é, custe o que custar. Você está comigo, Griphyus, meu caro amigo?
- Sempre estarei, Regina! - o grifo disse abraçando a princesa com suas asas enormes.
- Maravilha, agora preciso ir a um lugar ainda porta, esta chave abrirá.
- Onde? - Griphyus questionou.
- A voz da qual falei, proferiu um enigma: " A chave que abre todas as portas agora está às mãos da mais bela de todas. Encontrai o tesouro ocultado em meio a valiosos despojos guardados."
- Mas isto não está claro, alteza? - o grifo constatou. - Seja lá quem ou o que for a tal voz que mencionais, certamente referiu-se à Sala do Tesouro do Reino.
- Ocultado... Em meio a valiosos despojos guardados. É claro! - Regina disse sorrindo.
- Oh não! - Griphyus diz apreensivo. - Realmente queres fazer isto, Regina?
A sala só pode ser aberta pelo rei, pela rainha ou pelo Conselho dos Magos.
- Aqueles abutres? - A princesa rosnou. - Tenho a chave em minhas mãos e abrirei aquela porta, Griphyus. Virá comigo, ou não?
- Certamente que irei Regina, mas como pretendes convencer ao próprio mago Urgannus? Ele... - o grifo ainda falava, quando um pássaro preto agitou-se numa grande gaiola ao fundo, porém caindo por não conseguir ruflar as asas corretamente.
- Oh, Céus! - Griphyus disse caminhando pelo quarto enorme da princesa, até onde estava aquele corvo salvo por Regina quando caiu do céu sobre os juncos da lagoa, nos jardins do palácio. - Ele está melhor?
- Está sim! - Regina disse sorrindo, e abrindo a gaiola da qual o corvo saiu, empoleirando-se numa grande penteadeira ao lado de um grande espelho.
- Depois de tratar-lhe os ferimentos nas asas, eu apenas o prendi para que não se metesse em alguma encrenca, já que corvos adoram coisas brilhantes, não é mesmo?
- Permita-me dizer que agradeço por todo o cuidado para comigo... - o pássaro disse com uma voz que aos ouvidos de Regina e Griphyus de repente soou indubitavelmente conhecida, enquanto sacudia e arrumava suas penas viçosas.
- Minha filha!
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[ UDG/F2 ] ORIGENS. Antes do "Espelho, Espelho Meu"
RomancePorque ser apenas a "Mais Bela" quando se pode ser a "Mais Poderosa?" " Forçada a fugir de inimigos que fazem parte duma terrível tramóia para usurpar seu reino, uma jovem princesa orfã encontra um estranho espelho mágico, através do qual atravessa...