XXV - AS TREVAS VEM À LUZ

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- Sê mais que bem-vinda, alteza! - Lorde Urgannus diz reverenciando a princesa que adentra o palácio, agora completamente desconhecido aos seus olhos.

As paredes, colunas e vitrais chegam a ser vertiginosos de tão altos, e apesar de toda elegância nas cores douradas das arestas metálicas da mobília de aspectos barrocos e bávaros, tudo parece claustrofóbico aos olhos de Regina e dos que a acompanham, enquanto os magos os conduzem até uma grande sala de visitas, onde um imenso banquete os aguarda.

- Como podeis contemplar, - Urgannus diz sorrindo e em tom agradável, enquanto as portas enormes do saguão se abrem para um ambiente de arquitetura gótica e de tons dourados.
Tudo é precisamente iluminado e aconchegante. A mesa de mármore a perder de vista e ladrilhar por grandes cadeiras acolchoadas, onde dezenas de serviçais sorridentes aguardam ordens, para servir aos hóspedes.

- Tudo foi preparado para vossa chegada, alteza! - Villannard conclui o raciocínio de Urgannus acenando para que os convidados adentrem o recinto e sintam-se à vontade.

- Lamento dizer que nada neste lugar estranho me agrada! - Regina diz semicerrando os olhos.

- Mas, alteza! - O mago Calixtes toma a palavra, preparamos até um banquete para honrar-vos.

- Assim como este lugar, que temos preservado e protegido até agora, e... - Urgannus conclui num tom mais apreensivo, porém é interrompido:

- Preparado? - Regina indaga sorrindo enquanto os magos se entreolham, porém aparentando esperar por semelhante reação da recém-chegada.
- Protegido? - A princesa continua questionando e aumentando a rispidez em sua fala:
- Para minha chegada? Estás falando sério, Urgannus?
- Certamente! - Urgannus dissimula, mas ela o fulmina com os olhos enquanto redargue colocando as mãos sobre a mesa, sobre a qual se nega a sentar:
- Diríeis isto às dezenas de milhares de seres míticos e mágicos que este conselho gradativamente expulsou deste reino durante as últimas décadas?
Às fadas retiradas de seus arbustos e carvalhos, aos grifos expulsos das montanhas, às sereias e hidras afugentadas dos rios e lagos, aos tróus expulsos das pontes que guardavam, aos centauros que protegiam as florestas, ou aos ogros enxotados dos pântanos?
- A Magia precisa ser bem cuidada, Vossa Alteza. - Villannard diz reverenciando Regina - Ela não pode estar em quaisquer mãos, e...
- Primeiramente... - Regina diz olhando com desprezo para a maga - Sou sua rainha, e exijo ser tratada como tal, e em segundo, recolha-se à tua insignificância, pois eu não dirigia-me à ti.
- Como ousa? - A maga grita ameaçando atacar Regina, porém é contida pelos demais magos, enquanto Urgannus, de forma articulada, toma a palavra:
- Mas, Vossa... Majestade. O que sugeris?
- O que sugiro, não! - Regina diz caminhando até a Sala do Trono, seguida por Nannis, Griphyus e a comitiva que a acompanha.
- Ordeno! - Ela fala enquanto Villannard, ainda ressentida é retirada do ambiente.
- Vim, pelo Reclame Real, Urgannus. E aproveitando este ensejo... Deponho a partir de agora, este famigerado conselho de todas as suas funções.
- Mas, - Urgannus diz preocupado, enquanto todos ainda caminham pelo longo corredor que leva à Sala do Trono - Vossa Majestade precisa compreender que fizemos o melhor para vós todos.
- O melhor? - Regina para às portas da Sala do Trono. - Manipular meus pais, avós, e os monarcas que os precederam?
Decidir arbitrariamente quem detém a magia, por pura prepotência e preconceito? - Ela agora começa a aumentar o tom de voz, enquanto seus olhos começam a brilhar e alguns fios finíssimos de fumaça negra saem de seu corpo. Usurpar meu lugar de direito é ainda conjurara está abominação ao meu redor, desfigurando e apagando as memórias e o legado que meus antepassados tanto lutaram para construir neste reino?
Isto sim, Lorde Urgannus... - Regina grita segurando o mago pelo colarinho com a destra esmurrando as portas da Sala do Trono com a esquerda, fazendo com que estas simplesmente desabem com o impacto.
- Magia Sombria.... - O mago sussurra assustado ao ver os olhos da princesa se tornarem azuis e flamejantes, enquanto suas roupas transformam-se magicamente: A capa vermelha fica ainda maior e esvoaçante, enquanto a armadura dourada converte-se nalgum tipo de malha negra e metálica que cobrem-lhe todo o corpo.
- Hipócrita! - Regina diz ainda segurando-o pela gola de sua túnica - Acaso achas que não notei o quanto estás mais jovem?
Então, não ouses julgar-me por tal ou qual uso de magia faço agora, Urgannus.
- Queira perdoar-nos, Majestade... - O mago ainda pede que ela o solte, quando Regina olha para o trono no topo duma escadaria circular de mármore ao longe e vê... Iluminada pelos raios de sol que adentram os vitrais duma grande abóbada, uma figura deitada de lado, e com as pernas esticadas e cruzadas sobre a lateral do assento que agora substitui os três tronos que deveriam estar naquele mesmo lugar.

[ UDG/F2 ] ORIGENS. Antes do "Espelho, Espelho Meu"Onde histórias criam vida. Descubra agora