Ela chegou em casa ainda pensando em Matthew, pegou seu celular e olhou o instagram de Catarina, já tinha diversos stories dos dois. Viu que tinha várias mensagens dela e de Davi. Ignorou tudo. Queria apenas deitar. Tirou as botas e se jogou na cama. Quando estava conseguindo relaxar, ouviu um barulho. Se sentou na cama alarmada e ouviu novamente, era na sua sacada, abriu as portas de vidro e quase foi acertada por uma pedrinha.

— Ai — se assustou.

— Desculpa— ela reconheceu a voz e foi até a sacada. Era ele, era Matthew.

Ela ficou boquiaberta ao ver ele ali, um pouco assustada, será que ele seguiu ela ? Mas ela se lembrou do endereço do seu livro, era óbvio que ele viu.

— Desce aqui. — pediu

— Não.

Ela olhou pro relógio na cabeceira da cama, já marcava 23h50. Seus pais já estavam dormindo. Olhou de novo e o garoto parecia impaciente.

— Eu não vou descer — insistiu

— Por favor Maria, só 5 minutos. Só queria conversar com você.

Ela olhou para ele, olhou para porta, olhou para ele de novo e era como se outra pessoa invadisse o corpo dela, ela pegou uma blusa de lã, colocou seu sapato e desceu as escadas. o quarto dos pais estava fechado, ela desceu devagar e saiu de fininho pela porta da cozinha. Caminhou até ele e parou na sua frente, olhando, precisando de instruções. Era uma mistura de animação com medo.

— É a primeira vez que faz algo escondido ? — perguntou olhando aparência assustada da menina.

— por que acha isso ?

— Você está tremendo, olhando para os lados procurando algo e com um olhar de maluca.

Ela parou e controlou a tremedeira, ficou olhando pra ele de um jeito ainda pior.

— Para por favor — pediu rindo e tocando os ombros dela.

Ela olhou o toque e gostou de receber. mas algo dentro dela fez ela recuar.

— Então? O que você faz aqui? — perguntou cruzando os braços.

— Tinha seu endereço no livro

— Sim, mas por que veio até aqui?

Ele pareceu ser pego de surpresa, tinha esquecido de pensar em uma resposta pra essa pergunta.

— Posso te mostrar uma coisa? — perguntou ignorando totalmente a pergunta dela.

Maria não sabia explicar o que estava acontecendo, ela olhava pra casa e olhava pro garoto que tinha a mão estendida para ela. Ela sabia qual era o certo, mas não conseguia resistir o convite dele. Aceitou a mão dele e se deixou ser levada por ele.


Eles foram o caminho todo em silêncio. Subiram até o metrô, ele pagou uma passagem para ele e eles embarcaram, Maria tinha andado poucas vezes de metrô e adorou. eles desembarcaram na liberdade.



— Liberdade? — perguntou acompanhando ele

— Onde eu moro — falou sorrindo — está tendo uma feira Japonesa agora.

— A noite? — perguntou, mas ele não precisou responder. Assim que saíram do metrô ela já viu várias pessoas e tudo ainda mais enfeitado — Uau.

— Legal né ?

Maria nunca tinha ido lá, estava maravilhada, estava tudo brilhando com luzes, tinha várias pessoas passeando. Ela se encantou. Foi uma noite/madrugada incrível para os dois.

Eles foram passear, enquanto andavam Matthew mostrava os principais pontos do bairro. Eles andaram por toda feira, Maria se divertiu como nunca. Queria experimentar tudo e quando achava algo ruim e queria cuspir Matthew tirava sarro dela. Eles se divertiram muito.

Matthew morava em um prédio preto bem em frente ao metrô, era bem simples. Ele convidou ela para entrar e ela aceitou. Era um apartamento pequeno, estilo um loft. Ele contou que comprou o lugar e só tinha um cômodo mais o banheiro e ele usou tudo que sabia e construiu outro "andar" assim ficou maior e muito mais aconchegante.

— Você tem talento — comentou Maria admirando o apartamento dele

— Obrigado, por isso escolhi estudar arquitetura. Eu sinto uma felicidade incrível quando projeto alguma coisa — comentou sorrindo — mas nem tudo são flores, é bem difícil conseguir algum estágio e então tenho que ficar no vista até conseguir algo melhor. Ajuda a pagar as contas. — Maria prestava atenção em cada palavra que ele dizia, a pronúncia correta mas as vezes enrolada era algo muito fofo — Vem, quero te mostrar uma coisa

Ela aceitou e os dois saíram do apartamento, subiram pela escada de incêndio e ficaram no terraço.

— Nossa — surpreendeu se Maria, ela conseguia ver tudo dali, São Paulo todinha e até o Ibirapuera. ela não conseguia tirar o sorriso do rosto.

— Meu cantinho particular — disse se apoiando no parapeito

— Como você veio para cá ?

— ah, eu estava entediado ai...

— Não — interrompeu ela rindo — Para o Brasil.

— Ah, vim procurar minha mãe— falou, mas viu que ela queria mais — Eu sou adotado, meus pais biológicos são brasileiros. Minha mãe me falou que toda a situação foi meio ilegal, que quando eles estavam no nordeste um senhor tentou me jogar fora, algo assim e minha mãe me resgatou. E eu só queria conhecer minha mãe biológica, quem sabe saber o porque disso tudo — seu olhar era longe, mas não triste.

— Eu sinto muito — disse tocando o braço dele.

— Tudo bem — disse e ela sabia que era verdade — Eu fui e sou muito feliz — eles ficaram se olhando por um tempo em silêncio e apenas sorrindo, aquilo era bom e não adiantava nenhum dos dois negar.

— É melhor eu ir embora — disse Maria desviando o olhar — o metrô ainda funciona ?

— Não vou deixar você voltar de metrô né — ele respondeu como se Maria o tivesse ofendido — Eu tenho uma moto, velha mas funciona, eu te levo.


Ela aceitou e eles foram, ela tinha um pouco de medo de moto mas se sentiu segura com Matthew. Eles chegaram bem rápido na casa dela, Maria estava se sentindo estranha por entrar escondido. Mas muito feliz.

— Entregue — brincou Matthew.

— Você pode voltar aqui amanhã ? — perguntou Maria — No mesmo horário que veio hoje.

— Claro — concordou — Mas o que vamos fazer ?

— Surpresa — disse e antes de entrar pelo quintal se virou para ele — Venha sem jantar e bem arrumado.


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