XIX

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Maria estava sentada no sofá do lado de Matthew, Diego estava em um sofá ao lado dele e olhava atentamente para o recém descoberto irmão. Naquela casa, Odete era a mais calma, como se estivesse esperando por isso a um bom tempo e soubesse que o filho roubado um dia iria voltar.

— Aqui está — anunciou ela entrando na sala segurando um bandeja com várias xicaras.

Diego se levantou para ajudar a mãe.

— It's pure coffee, you don't drink pure coffee * — sussurrou Matthew no ouvido dela e em inglês. ( * É café puro, você não bebe café puro. )

— It's your mother you just found, I won't say I don't want — respondeu no mesmo idioma e em um tom baixo (* É sua mãe que você acabou de encontrar, não vou falar que não quero.) — Obrigada — agradeceu em português e em um tom normal, assim que Diego a entregou a xícara quente.

Odete se sentou em uma cadeira na frente deles e ficou admirando Matthew toda sorridente.

— Meu Matheus — choramingou com as mãos no coração — Vejo que seus pais tentaram continuar com o nome que te dei.

Matthew não respondeu e não expressou nenhuma reação, estava apático.

— Desculpa — pediu colocando a xícara na mesa — Não quero falar do meu nome, quero saber o que aconteceu.

Odete respirou fundo e deu uma leve fungada, queria fugir daquela terrível pergunta. Diego pareceu não gostar da atitude dele, ameaçou se levantar e até falar alguma coisa, mas um sinal da mão de Odete ele se sentou e fechou a boca.

— Imagino quantas coisas se passaram na sua cabeça — comentou também colocando a xícara na mesa.

— Você me abandonou ? — a voz dele estava rouca, estava prestes a chorar, ele começou a procurar a mão de Maria e quando a encontrou deu um leve suspiro de alívio.

— Nunca, nunca faria isso — Maria sentia a dor na voz dela, sentia a saudade daquilo que ela nunca teve e o desejo de ter o filho ao seu lado — Eu engravidei de um namorado aos 17 anos , seu avô não aceitou e tentou fazer com que eu abortasse. Não deixei e tive a proteção da minha mãe naquele momento. Mas quando entrei em trabalho de parto, ele ajudou a parteira — Ela deu uma pequena pausa para tomar fôlego e não tentou segurar as lágrimas a deixando cair por todo seu rosto — Eu não consegui te ver, você deu um pequeno choro e parou, ele saiu te carregando e voltou sem você. Me falou que você tinha morrido — aquilo tinha sido difícil para ela, ela não conseguiu se controlar e começou a soluçar, Diego olhava para mãe pronto para ampará-la assim que necessário, Maria controlava o choro soltando apenas algumas fungadas e Matthew olhava para o nada. — Me perdoe meu filho.

Matthew se levantou e saiu da casa, os outros três se olharam sem saber o que fazer.

— Eu falo com ele — avisou Maria se levantando.

Quando saiu encontrou ele olhando para além do pasto que tinha ali, caminhou até ele e lhe deu um abraço por trás, era daquilo que ele precisava, se deixou aliviar naquele abraço e libertou tudo que estava segurando a 20 anos, se livrou da dor, da dúvida, do remorso, da raiva, tudo estava saindo junto com aquelas lágrimas.

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