XXVI

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Seu reflexo no espelho mal mostrava por tudo que passou, mesmo um pouco pálida, ela estava com os cabelos em uma trança lateral, usava um vestido tomara que caia bem soltinho, qualquer um que olhasse para ela diria que no máximo ela estava com a ressaca da noite anterior e não que tinha acabado de passar por um aborto.

Maria mal se reconhecia, não apenas por estar abalada pela situação, mas por que não conseguia se ver como antes. Olhava para o quarto e mal reconhecia as próprias coisas, tudo estava igual mas ela estava diferente. Ela foi tirada de seus pensamentos com duas batidas na porta.

Clara colocou a cabeça para dentro do quarto com um grande sorriso. — Oie.

Maria olhou para irmã pelo reflexo do espelho e sorriu tristonha.

— Marinha — murmurou entrando no quarto e fechando a porta atrás de si.

A mais nova se sentou na cama e esperou a irmã se juntar a ela e aninhar em seus braços.

— É muita coisa pra eu aguentar — assumiu enxugando uma solitária lágrima que caia de seu olho.

Clara a apertou mais em seu colo — Quem disse que você tem que aguentar sozinha ? — Ela fez um carinho na cabeça dela antes de fazer a pergunta — Conseguiu falar com Matthew?

Clara pode sentir a respiração de Maria mudar, sentiu a tristeza da irmã.

Maria alcançou o telefone na mesa e verificou se tinha alguma mensagem ou ligação, não tinha nada. — Não. — Ela respirou fundo e se desencostou no peito de Clara — Eu só não consigo entender... Por que ele fez isso ?

— Maria, as coisas não são sempre como sonhamos. — Maria se virou para irmã com um olhar perverso — Okay, eu sei que você passou por muita coisa. — concordou levantando as mãos — O que temos que entender é que essa nossa vida é diferente de todo resto, nós somos a exceção e não pessoas como Matthew.

Maria voltou a se deitar — Eu sei...

— Então meu bem, e um mundo com tanta pressão que assusta qualquer um, estamos acostumadas só isso — Clara continuava fazer carinho na cabeça da irmã — E tem outro ponto, nosso pai. Ele deve ser o homem mais assustador desse mundo, é sério. E você tem que levar isso em conta, não estou defendendo Matthew, apenas dizendo que entendo esse afastamento.

— Clara, ele me deixou sozinha depois de perder um bebê, não tem como entender isso e muito menos aceitar. Ele nunca me amou.

— Ele esperou do lado de fora do hospital por tanto tempo, arriscou ir para prisão apenas para te ver um momento e quando ele falou comigo estava tão desesperado para te ver que chegava doer. — contou Clara ainda fazendo carinho — Talvez, essas não sejam atitudes de alguém que não te ame.

Maria respirou fundo e fechou os olhos, não queria pensar naquilo, ainda doía saber que poderia nunca mais ver Matthew, na verdade ainda estava em dúvida se queria ve-lo ou não afinal foi abandonada por ele.

— Ele aceitou dinheiro do papai para ir embora — acusou se levantando da cama — Nunca vou perdoar isso.

— Às vezes o que precisamos é conversar, só isso. Sei lá tente achar ele e colocar os pingos nos "i".

Maria olhou para Clara com os olhos marejados e negou com a cabeça.— Não quero ver ele.

— Marinha...

A mais nova deu as costas para irmã e tampou o rosto com as mão — Por favor Clara, preciso de um tempo sozinha. — a morena tentou argumentar mas foi impedida — Por favor.

Clara obedeceu e saiu do quarto dela cabisbaixa. Desceu as escadas lentamente enquanto descia indo para sala se focou em um topo da cabeça com cabelos castanhos claros que a esperava no andar de baixo.

Assim que a ouviu descendo se virou para ela, seus olhos castanhos estavam avermelhados e úmidos, as mãos estavam inquietas e mal conseguia se manter parado por um minuto.

Clara o olhou com compaixão.

— Como foi ? Como ela está ? Ela já melhorou ? Ela sabe que estou aqui ? Você falou o que para ela? — metralhou o jovem.

— Matthew, calma — pediu o segurando pelos braços, só assim ele parou — Ela melhorou, mas está péssima né.

— Ai meu Deus, o que eu fiz com ela — Ele já estava chorando novamente, e andava de um lado ao outro esfregando a cabeça.

— Calma por favor — implorou se acelerando também. — Olha, você tem que subir lá, contar a verdade para ela e se despedir direito. Você tem que ir lá...

— Clara, você acabou de me dizer que ela está péssima, se eu for lá e dizer tchau de novo vai só piorar, não posso estragar ainda mais a vida dela.

— Matthew, você não estragou a vida dela. — afirmou olhando no fundo dos olhos dele.

— Olha o que aconteceu com ela, onde tudo isso é bom para Maria ? — insistiu se afastando — Eu...eu... Apenas garante que ela seja feliz, por favor.

— Não faça isso...

— Adeus Clara!

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