XXIV

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Empatia é você se colocar no lugar do outro, compreender e sentir o que uma pessoa está sentindo em diversas situações. Mas uma pessoa que tem empatia também pode acreditar em outra coisa, que sua dor não pode se comparar a dor do outro, sua perna quebrada pode doer menos que o dedo cortado com papel, um não está sentindo a dor do outro e não pode mensurar o tamanho.

Outro exemplo é a dor de um aborto, Matthew não conseguia sentir o que Maria estava sentindo dopada dentro do hospital Israelita Albert Einstein, desacordada e passando por diversos exames. E ela, não iria conseguir sentir o que ele estava sentindo, escorado em sua moto do outro lado da rua, olhando o imponente hospital do lado de fora, imaginando as piores coisas, sentindo o vento gelado da cidade de São Paulo a noite e sem poder ver o amor de sua vida.

Ambos, desacordados ou não , estavam passando por situações difíceis e inexplicáveis.


Assim que Maria caiu nos braços de Matthew, na casa dela, acabou, pouco tempo depois, desmaiando de dor ou de medo. Miguel e Anastasia, literalmente, enxotaram Matthew para fora e saíram com a Land Rover Velar preta em alta velocidade. O rapaz mal pensou, apenas montou em sua moto e a acelerou o máximo que deu, seguindo o carro. Assim que chegaram no hospital, Maria estava acordada, chamou pelo amado, que tinha chegado minutos depois, ele correu até ela mas o máximo que conseguiu foi tocar sua mão, ela foi arrastada para dentro e Miguel deu uma ordem bem direta a todos os seguranças. Não deixa Matthew entrar.


Ele não iria desistir, já estava ali a mais de 5 horas, tinha visto que a cada 2 horas os seguranças trocavam de posto deixando a entrada liberada por 1 minuto, e ele ia se aproveitar disso.


Se aproximou da entrada do hospital de mansinho sem chamar atenção, estava escondido atrás de uma pilastra, conseguia ouvir a porta abrindo e fechando conforme as pessoas entravam e saiam, escutou um barulho de rádio e prestou atenção.

— Erick, P2 — avisou uma voz rouca através do rádio — Lucas P1.

Matthew se estreitou e deu uma olhada para o grande segurança loiro, esperou ele dar uns passos para longe, contou até 3 e entrou pela porta automática, até cheiro daquele lugar era diferente dos outros hospitais que já tinha entrado.

Ela olhou rapidamente pelo lugar e foi em direção a emergência. A cada médico, enfermeiro, faxineiro, ou qualquer outro com um uniforme que passava perto ele se escondia ou virava o rosto, estava andando como uma barata tonta, não sabia se localizar naquele lugar e se pedisse alguma informação iriam reconhecer ele e Miguel o expulsaria. Ele precisava ver Maria.

Estava agoniado, se sentia sufocado, sentia o ar sendo puxado dele, ouvia um zumbido no ouvido e o coração palpitando, estava tendo um ataque de pânico. Ótimo para situação. Ele correu para o lado, encontro na cafeteria do lugar, estava com várias pessoas, alguns médicos, pessoas de nariz em pé, todo tipo de gente, claro, todo tipo de gente com dinheiro.

Parou em uma parede e ficou tentando retomar a calma, saber que poderia nunca mais ver Maria está o matando, ele precisava novamente olhar naqueles olhos únicos dela, aquele sorriso meigo, seus longos cabelos loiros, seu cheiro. Ele precisava apenas de mais um pouco dela.

Quando estava um pouco melhor deu uma olhada pelo lugar, encontrou o olhar de um segurança nele, sentiu o corpo voltar a formigar, de maneira delicada ele aproveitou um grupo de enfermeiros entrando no local e saiu fazendo o segurança o perder de vista, mas assim que virou um corredor esbarrou em alguém que soltou um gritinho chato. Era uma mulher alta, seus olhos eram grandes e de cor indecifrável como o de Maria, tinha cabelos escuros até o queixo e um ar levemente superior, usava um moletom de uma faculdade e uma calça jeans rasgada, tinha olhos cansados e muitos anéis nas mãos, que combinavam com o extravagante par de brincos que usava.

Matthew fechou os olhos já esperando algum segurança o arrastar dali.

—Matthew ? — chamou ela com um leve sotaque britânico.

Ele arregalou os olhos encarando a menina de cabelos escuros, que o olhava da mesma maneira.

— Quem é você?

— Clara — respondeu como se fosse algo que ele deveria saber — Clara Boop. — repetiu fazendo ele arregalar ainda mais os olhos. Era a irmã de Maria, depois de descobrir isso ele percebeu algumas semelhanças nas duas, principalmente nos olhos — O que está fazendo aqui Miguel está quase colocando toda polícia de São paulo atrás de você, ele quer te matar, você tem que ir...

— Não, não sem ver ela — avisou negando veemente com a cabeça — Você não devia estar em Londres ? — perguntou, ele não queria saber nada sobre a moça, queria saber de Maria, mas ver ela ali o incomodou, por que ele sabia o que poderia significar.

— Semana de recesso da faculdade, estava na Argentina quando minha mãe me ligou — contou alisando o moletom da universidade de Durham. — Mas garoto, você precisa ir embora se meu pai te ver aqui...

— Me ajuda — suplicou olhando no fundo dos olhos, naquele momento, verdes dela — eu só quero ver ela uma vez e depois a deixo em paz.

Clara olhavam para ele com uma mistura de sentimentos, sabia que o relacionamento dele e de Maria tinha trazido grandes problemas para irmã, mas sabia que ambos se amavam de maneira inexplicável. Mesmo longe ela mantinha grande contato com a caçula, tentava dar bons conselhos. Tinha passado por situação parecida a uns anos atrás, tinha se apaixonado por um rapaz qualquer, mas era coisa boba, mesmo assim Miguel acabou com a vida dele e praticamente a baniu do país.


— Clara, por favor, é tudo que te peço. Eu preciso ver Maria.

Ela respirou fundo e colocou os cabelos atrás das orelhas, se inclinou um pouco para ele.

— Ela está no 6 andar, ala norte, 679 — avisou em um sussurro — quando você estiver no andar vai ver todos nós , eu distraio os meus pais e você entra. Não vou conseguir te ajudar sair, mas seja rápido.

Matthew coçou a cabeça bagunçando os cabelos — Como vou conseguir entrar no andar sem que me reconheçam ?

Ela deu de ombro e jogou a cabeça para o lado — Tente se vestir como enfermeiro.

— Desculpe, mas Clara não estamos em um filme. — lembrou levemente irritado.

— Exatamente por isso vai ser mais fácil. — falou apontando com o longo indicador para uma porta ao lado deles, estava aberta e com algumas roupas.

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