XV

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Os dias pareciam estar cada vez mais longos, as horas e os minutos se arrastavam, o teto branco e com detalhes em gesso do quarto de Maria eram uma grande tela para sua imaginação. Conseguia ver com clareza seus momentos com Matthew, que eram destruídos por alucinações dele com zilhões de garotas. Tinha descoberto que ele foi para o Rio e isso apenas ajudou a piorar tudo.

Já tinha bem mais de uma semana que Maria se quer saia do quarto, podia ouvir os pais questionando a saúde mental dela, por de trás da porta podia ouvir Angelica choramingando enquanto fazia diversas comidas, tudo para tentar animar Maria. Nada funcionava, ela só queria ficar fitando o seu teto e sentindo o coração se despedaçar cada vez mais.

Sabia que logo os pais iriam tomar alguma medida desesperada e tinha razão, em um dos dias infelizes dela, Catariana apareceu.

— Uau, você está acabada — comentou a ruiva entrando no quarto, Maria, ainda deitada apenas a olhou por um segundo — Sua mãe ligou, está desesperada. Ela me deixou entrar. — Contou se aproximando e se escorando no pilar da cama da amiga — Bom, ela teve que me deixar entrar, afinal a empregada me olhou com tanta raiva, suponho que ela já saiba o que aconteceu — Maria olhou para amiga segurando o pilar.

— Ela disse que não se deve confiar em alguém de cabelos vermelhos — falou sem muita emoção, foi a frase mais longa que ela disse a dias.

— Ela tem razão — concordou com um riso fraco nos lábios. O silêncio reinou por um tempo e elas apenas se olharam — Me desculpe

Maria não disse nada, apenas a encarou. Sentia que era um pedido verdadeiro, mas não tinha motivação para nada.

— Maria — chamou a ruiva se sentando ao lado dela — você não pode se deixar ficar assim ! Você sempre tem que sair por cima.

— Catarina, apenas me deixe — implorou já sentindo os olhos arderem.

— Não ! — exclamou tirando os sapatos — Fui uma amiga terrível sempre e agora vou mudar isso — avisou e se aninhou ao lado dela — Se você quer ficar aqui e vegetar, okay, vamos fazer isso.

Maria deu um breve sorriso enquanto as lágrimas dominavam seu rosto, Catarina viu ela chorando e abraçou, não disse nada apenas a abraçou por um bom tempo. Quando se sentiu sem lágrimas, se levantou e foi limpar o rosto a ruiva a seguiu até o banheiro.

— Ele mexeu realmente com você né? — comentou sem maldade alguma — Eu sinto muito.

— Está tudo bem, obrigada — agradeceu forçando um sorriso, que saiu como uma careta.

— Ma, eu falei sério — começou sentando a amiga na privada e limpando o rosto dela — Você não pode ficar assim, tem que ter ser ao contrário. Você tem que fazer ele rastejar.

— Catarina, ele não está em São Paulo — anunciou fechando os olhos para não voltar a chorar.

— Eu o vi ontem — disse e isso fez com que Maria arregalasse os olhos.

— Onde? — perguntou quase gritando.

— Ei, calma...

— Onde Catarina? — insistiu exaltada.

— Na Augusta — contou como um pouco de medo da amiga — Estava saindo do Cine Itaú — continuou observando Maria andar de um lado para o outro — sozinho — anunciou vendo o olhar de louca dela.

Ali, no banheiro, naquele segundo, Maria planejou uma dúzia de planos, um mais alucinante que o outro.

— Maria?

— está tudo bem — começou olhando para ela — Amanhã vou para escola prometo — concluiu com um sorriso mais falso que aquela frase.

Depois disso a loira praticamente expulsou a amiga, iria dar um jeito de encontrar Matthew amanhã, ela sabia que estava passando um seleção de filmes franceses, os favoritos deles, sabia que o rapaz iria todos os dias.

E assim foi, ela acordou na manhã seguinte muito disposta, foi como uma manhã novamente comum na casa dos Boops, a diferença foi o caminho que fez, ao invés de ir para escola foi para o Cine Itaú.

Ficou lá por tanto tempo que viu comércios abrindo e os primeiros funcionários indo almoçar. Bem depois da hora do almoço avistou Matthew descendo a rua, o coração dela quase pulou da boca, ele estava abalado, dava para ver. Maria se escondeu e viu ele comprando o ingresso, foi até a mesma vendedora e fez cara de santa.

— Oi — cumprimentou — Meu irmão já passou por aqui ? — indagou fazendo a moça arqueas uma das perfeitas sobrancelhas — Ele é mais alto, tem cabelos castanhos e arrepiados, olhos doces — descreveu gesticulando.

— Ah, o outro rapaz. Ele acabou de entrar .

— ah, obrigada vou tentar ligar para ele — comunicou pegando o celular — preciso fazer um trabalho da escola e esqueci o filme que ele escolheu.

— Não precisa ligar — falou a moça de um jeito simpático — o filme já esta começando, vou te dar o ingresso.

— Ah, vai me ajudar tanto. Muito obrigada — agradeceu entregando o dinheiro para ela que sorriu e entregou o ingresso.

Maria voou para sala, assim que entrou a primeira coisa que procurou e a primeira coisa que encontrou foi os olhos de Matthew, estavam arregalados e com um brilho que superava o da tela na frente deles. Ela sorriu e ele retribuiu.

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