Capítulo 31

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- Elas mentiram o tempo todo, como pude acreditar que minha própria irmã mentiria assim pra mim. Tanta gente envolvida nessa confusão, pessoas sumindo por todos os cantos dessa cidade, que pra falar a verdade é muito estranha. Um lugar tão discreto porém abriga tanta coisa em oculto, tento entender o que acontece aqui, mas quanto mais tento mais fico confuso. Esses encapuzados que surgem do nada e ameaçam todo mundo, motivo deve haver pra agirem assim, mas o que será? Agora, uma pulga que tá na minha orelha é que, se a Marisa estava usando uma capa no meio daquela floresta perto da caverna, sabendo que corre perigo qualquer um que se aproxima dela e ela foi sem temer mal algum, só pode que ... a Marisa é uma deles, ela é também uns dos encapuzados. Mesmo ela sabendo que eu não aprovaria tal atitude, eu nunca ia me opor, posso não concordar mas nunca iria fazer algo para prejudica. Sinceramente não sei mais, se é certo ou errado. Minha sanidade mental se esvaiu no exato momento em que pisei aqui. Quem tá falando a verdade? Quem está mentindo? E por que o sequestro de tanta gente? Lana, Olímpia, Talles (que pra todo mundo morreu, mas o corpo era de outra pessoa e assim se comprovou que ele está vivo, só não se sabe aonde), Selinha, Kaíque, Paula e por aí vai ... !! Nomes e nomes, vidas e vidas, e ninguém sabe nem se estão vivos. Parece até aquelas franquias de ficção, um segredo sobrenatural escondido por seletas pessoas e as demais no mundo são excluídas, como no universo da Marvel, em X-Men: mutantes e seres humanos comuns, uns portadores de dons e outros apenas mortais sem poder algum, e a luta pra manterem firmes o legado de tais. Pelo menos sabemos que essa franquia é uma ficção, não tem semelhança alguma com a realidade, agora Camaquã e seus vultos que correm pelos becos e vielas como sombras sempre atrás das pessoas, ouvindo tudo e sabendo o que se passa por esses quatro cantos , é real. As vezes eu tento me colocar no lugar desses indivíduos, e para pra entender as atitudes tão bruscas e brutais, mistério e suspense que ondeia no ar a cada vez que são vistos, e em todas as vezes eu não entendo porquê sequestrar pessoas, provocar acidentes, incêndios e explosões, e ainda dificulta mais o entendimento é que as pessoas que estão "investigando" são as principais suspeitas de terem envolvimento nos acontecimentos. Darah foi encontrada com sua roupa suja de pó de serragem e vestígios de concreto momentos depois que a casa de Alex explodiu. Marisa simplesmente nem apareceu em casa ou na rua nesse mesmo dia. Quando saí do banho momentos antes da bomba explodir Serena tinha sumido também. E agora? As três tão no paredão, e depois de ouvir a conversa delas, só confirmou o que eu já suspeitava, elas estão entre eles ou são eles: os encapuzados!!! - disse Pedrinho virando o copo de cerveja, na tentativa de digerir tudo o que ouviu da conversa das garotas, espremia seus olhos e em seguida os abria apenas querendo acordar desse vasto pesadelo, e sua mente uma decisão estava a ser decidida. Ele contaria a polícia tudo o que ouviu? Ou permaneceria em silêncio, e incobreria sua irmã e suas amigas? Vidas estão em jogo, e um depoimento pode mudar o curso do futuro.
- Eu não sei como deve estar a tua mente diante disso tudo, eu no teu lugar estaria surtando, mas na minha opinião Pedro tu deve contar tudo o que ouviu a polícia, a gente não pode fazer muita coisa, aliás podemos estar sendo ouvidos nesse exato instante, mas não devemos ficar quietos diante dessa opressão, sequestrar pessoas é crime, fora tudo o que essa gangue já fez. Mesmo sendo composta por pessoas "boas" merecem pagar pelo que fizeram, e quanto mais serem denunciados mais serão expostos, e não vão ter pra onde correr. Essa cidade tem que acordar pra isso, senão for agora, quando será? E aí? Quem será a próxima vítima? Eu? Tu? Os estudantes do Mário Quintana? As prostitutas? Beatas? Médicos? Cidadãos camaquenses? Todos somos alvo, precisamos agir, isso tá longe demais, antes que seja tarde vamos agora. - Mel disse numa expressão determinada, pondo a mão na mesa, e o olhando fixamente a Pedrinho.
- Sei lá sabe, tudo é uma loucura, o que parece certo é errado, e vice versa. Só queria que tudo terminasse, e pudesse enfim ficar em paz, quando morava com meu pai, era um inferno, pensei que quando viesse pra cá tudo seria diferente, mas não é, tá cada vez pior, e agora com ele aparecendo tô pressentindo a catástrofe.
- Pera aí, ele tá vindo pra cá? Aquele cara da praça? Me conta essa história! E venha o que vier, eu vou estar do teu lado!
- Só te conto se tu me contar uma coisa.
- O que ?
- O que aconteceu no dia que a Camila morreu que fez tu sumir o dia inteiro e só apareceu horas mais tarde toda atônita, aérea e esquisita? Principalmente quando perguntaram sobre a filha da Camila?
- Pedrinho! Eu não quero falar disso!
- Eu sei que tu quer contar, mas não consegue, não tem coragem, isso tá te sucumbindo ! Eu só conto quem é aquele cara se tu me contar o que aconteceu naquele dia! - diz Pedrinho se exaltando.
- Por favor!!! Eu não quero ter que lembrar tudo o que aconteceu!!! -  diz Mel começando a chorar. As lágrimas envolvendo seu rosto e trêmula.
- Conta! Isso tá te matando, ou tu tira de uma vez aí de dentro ou isso acaba contigo de vez! - falando em alto de voz, na cabeça de Mel a cena se passava com ela lembrando as palavras de Camila, e do seu ato.
- A filha da Camila não morreu!! - diz Mel com respiração ofegante - Ela não morreu! Foi diagnosticada com febre amarela, e possivelmente será deficiente auditiva, minha mãe quando soube rejeitou a criança, disse pra jogá-la até no rio menos que ficasse ali, que a menina era a culpada da morte da Camila, e que seria um estorvo pra família. Eu não pude fazer nada, quem sou eu? Sou de menor, não tenho nem pra onde ir, quem dirá cuidar de uma criança. Foi aí que me lembrei de Camila. Ela havia ido em uma cartomante tempos antes do parto acontecer, e a mesma previu que Camila não iria prosseguir com a menina nos braços, outra pessoa assumiria sua guarda, e consecutivamente mudaria a vida da pequena. Camila deveria fazer com que sua mãe não a pegasse, pois a menina morreria, e isso seria confirmado caso a protetora da criança insistisse em ficar com ela ali. E a protetora era eu. Se eu tivesse insistido minha mãe cometeria uma loucura e a menina já doente morreria. Por isso não pode insistir em ficar com ela, por que a Cartomante também disse que na mesma noite em que a menina fosse levada para lá sua vida chegaria ao fim pois Edna a jogaria no lixo. Camila ouvindo tudo aquilo me disse antes de morrer, que a mãe não aceitaria a criança e eu deveria levar ela pra longe até a dor dela passar e assim agir mais consciente. Levei a criança até uma cidade vizinha e lá a entreguei num circo, nós braços de uma cigana que trabalha no mesmo, a cigana não perguntou uma só palavra apenas pegou a criança e disse que a cuidaria e amaria com a própria vida, e a cigana é a Cartomante. O futuro da pequena já estava escrito, eu não iria conseguir interferir, por mais que me doesse eu sabia que era o que tinha de ser feito. Me culpo todos os dias por isso, se eu tivesse feito algo, conversasse com minha mãe mais calma talvez ela entenderia, só espero que Mariléia esteja bem.
- Meu Deus, eu não tô acreditando. A previsão, o futuro e o destino entrelaçados como um, e a menina apenas sendo levada pela maré da vida. Camila sempre soube o que iria acontecer ela se preparou e te escolheu como a protetora da menina, ela sabia que só você teria a coragem de fazer isso. Só tu teria essa capacidade de enfrentar sem voltar atrás, de independente como estivesse não iria fugir da raia. Mel tu não teve culpa, tinha que acontecer, no futuro tu vai ver que valeu apena ter deixado o destino acontecer do que brigar com ele. Mas quem é Mariléia?
- É fácil falar quando não é com você, não quero ser grossa contigo só estou nervosa. Apesar de me arrepender todos os dias ao me acordar ao dormir eu sei que ela está muito melhor do que estivesse aqui. Mariléia é nome da filha da Camila, durante toda a gestação ela dizia que a guria se chamaria assim Mariléia. Ela até tinha encomendado uma toalha de banho com esse nome bordado. Ela estava tão feliz com ela, sua felicidade transbordava quando a viu pela primeira e última vez. Agora você já sabe de tudo, não tenho mais o que esconder nem omitir de ti. É tão bom poder te falar tudo, me sinto tão mais leve, e a culpa saiu da minha alma. Mas agora eu quero saber de ti, quem é esse cara? E o que tem a ver com teu pai?
- Que nome lindo, cativante. Te entendo agora, porque sempre tava aflita, se sentindo mal. Te entendo, eu sabia que precisava desabar para se sentir melhor. Enfim... é uma longa história ... - disse Pedrinho e começava a explicar tudo a Mel e a mesma arregalava os olhos em surpresa com o que ele dizia.

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