Capítulo 33

7 0 0
                                    

- Acabou Marisa. Eles vão nos descobrir e não temos pra onde ir. Chegou o momento, e apesar de ainda essa cidade não estar pronta pra descobrir o segredo da gruta e como eles nos chamam os "encapuzados" que na verdade é a Irmandade, os Guardiões de Camaquã, não há o que fazer, e sim de se aceitar - a voz de Serena estava embargada.
- Tantos de nós morreram pra guardar aquela caverna. E hoje restaram tão poucos de nós. Em saber que fizemos pra proteger a humanidade dela mesma. Dói, cada vez que lembro tudo o que aconteceu. De tantas complicações e confusões para ser realizado os desaparecimentos, os desastres, os confrontos. Tudo para que Camaquã não virasse uma Serra pelada. E agora somos acusados de tanto mal, sendo que, eles é quem começaram tudo. A ambição das pessoas levaram às ruínas. Como a Torre de Babel, destruída pelos próprios criadores - Marisa com um olhar profundo deita a cabeça nas costas do sofá e ali as duas ficam à espera, talvez seja o fim dos guardiões, mas é chegado o momento em que as cartas serão reveladas e não ficará pedra sobre pedra.

Horas depois.

Ketlen chega no restaurante onde se encontraria com aquele desconhecido, este mesmo que se dizia estudar juntamente com ela no Mário Quintana. Ao chegar, seu olhar varre o local, seu nervosismo impedia que suas mãos ficassem tranquilas e sossegadas, pelo contrário elas soavam como nunca. E se coração batia descompassado. Um garçom segue ao seu encontro e lhe guia até uma mesa mais ao fundo do salão. Ket se senta arrumando a sua calça que sem querer acabou prendendo em uma das pernas da cadeira, com medo de rasgar ela a faca da mesa, olha em volta, ninguém percebendo nada abaixa se e corta o fio que a prendia na mesma. Aliviada, e praticamente em baixo da mesa, alguém lhe pergunta o que aconteceu. No exato instante ela tenta decifrar de quem era a voz, como era seu rosto e de se realmente fosse aquele rapaz que sem informação alguma se mantinha tão secreto, reservado, um verdadeiro mistério.
Na verdade, talvez fosse isso no que mais a atraía nele, esse constante enigma de sua identidade. Sem precisar mostrar pra alguém, ou se exaltar pelos amigos que tem ou por sua estatura. Ketlen estava cansada de conhecer pessoas que por fora eram incríveis, mas por dentro eram desprezíveis e vazias. Não de assuntos ou de expressões, mas de empatia, de humanidade e humildade. Levando consigo que muitas pessoas levam vidas perfeitas apenas em uma rede social, e que fora dela é o caos. A beleza rotulada, status requisitado. Do que adianta ter tanta fama, prestígio e dinheiro quando o importante é aquilo que habita dentro de você e não fora dele. Cansada de jogos, de falsas verdades, de filtros. Independente de quem fosse, mesmo podendo ser aquele que ninguém nunca conversa por dizerem que ele é estranho, e daí? Todo mundo tem uma mania ou lado esquisito. Um belo foda-se às aparências, às críticas e aos preconceitos.
Ket fecha os olhos, levantasse, põe suas mãos sobre a mesa, ergue seu rosto e abre os olhos, contemplando a pessoa que estava ali, e o choque foi tamanho porque pela primeira vez ninguém estava usando uma máscara, um número desconhecido, uma palavra código, estão cara a cara, olho no olho.

- Achou que eu não vinha? Desculpa a demora, bem na hora que estava saindo de casa esbarrei no meu pai, ele se desequilibrou, foi se segurar em mim pra não cair, e aí eu caí junto com ele. Hahaha. Mais um vez desculpa, depois da separação, ele anda muito aéreo e desligado, mas tá tudo bem. Bom, chega de te entupir de tanta coisa, acho que fiz um pequeno nó na sua cabeça - a pessoa com um meio sorriso aguarda a fala de Ket, a mesma ainda está sem palavras.
- De todas as pessoas daquele colégio eu nunca acharia que fosse você, realmente. Tô chocada então me perdoa se eu me expressar meio atrapalhada.
- Capaz, tá tudo bem. Eu confesso que também estou desse mesmo jeito. Sempre conversamos apenas por mensagens e sinceramente achei que você nunca ia querer falar comigo pessoalmente - disse sentando se do outro lado da mesa.
-  E realmente se nós não tivéssemos conversado antes por mensagem eu não acreditaria que a mesma pessoa é você Jaqueline.
- Pois é, sei que minha amizade com a Fernanda sempre contribuiu pra uma barreira entre nós nas aulas. Não só com você, como com a Melissa, Pedro, Fátima, Nando e você. Eu nunca me aproximei por causa da Fefa. Ela sempre brigava comigo pra não me misturar, e em devoção aos anos de amizade eu sempre a obedeci, e deixei que o preconceito dela sobre vocês viesse a ser a minha linha de pensamento. E me afastasse de ti e dos teus amigos por serem pessoas ruins. Quando na verdade era eu que convivia com uma pessoa ruim e quase que me transformo em uma. É avassalador quando pára pra entender as coisas pelo que são e não pelo que dizem. Quando você ouve os dois lados, as duas faces da moeda. Sem ter uma opinião formada antes mesmo de ter todas as informações. É como um leque que se abre, a te apresenta uma infinidade de possibilidades e principalmente de atitudes. Sempre deixei que os outros decidissem o que eu deveria pensar ou com quem estar. E quer saber? Foda-se eu decido com quem converso, com quem fico e saio. Por isso parei pra entender mais minha mãe e vi que ela está tomada de razão de ter se separado do meu pai. E hoje minha convivência com ela é muito melhor de que quando ela ainda estava casada com meu pai.
- Quem diria. Todos nós temos uma história, todo mundo chora, sente dor, se arrepende de algo, se apaixona, caí e aprende a levantar. O que difere é de como se faz isso. E você não é diferente de ninguém merece uma chance como todos de descobrir seu lugar no mundo. Fico feliz de poder conhecer essa Jaqueline.
- Grata. E sabe de uma coisa, eu quis me encontrar num lugar mais vago com você pra termos mais privacidade nas nossas conversas, e sobre tudo te contar uma coisa.
- Pode parecer loucura mas mesmo não sabendo com quem eu estava falando eu amei conversar com você, todo esse mistério valeu a pena.
- Ketlen... - as bochechas de Jaqueline coram.
- Sim?
- Eu tô apaixonada por você, e mesmo com medo de talvez você não me quiser, eu gosto muito de ti. Tu me deu a chance que ninguém me deu de ser aquilo que quero ser por mim mesma, e nunca me julgou. E falando sério eu te daria um beijo agora.
- E o que você está esperando? - Ket sorri, segura na nuca de Jaqueline, a aproxima de seus lábios delicadamente e deposita um beijo longo e lento.
- Acredita que é a primeira vez que beijo uma menina depois que me descobri lésbica? - diz Jaque com um sorriso bobo.
- Jura? Que honra pra mim. Quando você descobriu que eu era?
- Tem um tênis seu All Star branco que tem uma bandeira lésbica pintada.
- Creio que me entreguei - disse rindo.
- Se contar comigo, também me entreguei com me declarei pra você.
- E saiba que a recíproca é verdadeira - as duas se olham e logo fazem seus pedidos e continuam a conversar.

Guardiões de CamaquãOnde histórias criam vida. Descubra agora