Capítulo 08. O Renascimento

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Ela que por tanto tempo permaneceu ali presa, dentro daquela cápsula, submersa por um líquido transparente que mantive por todos aqueles anos o equilíbrio do seu corpo. Descobrindo aos poucos as novas sensações, agindo por puro instinto e lutando por sua própria vida. Ao longo daquela noite, movimentos involuntários e constantes eram dados ai dentro.
    O líquido dificultava os movimentos das suas mão e pés, havia algo em seus braços e pernas que lhe penetravam as veias, acarretando dores excessivamente incômodas, a cada movimento simples que dava.
A dor bastou, para que fizesse os seus olhos finalmente se abrirem, piscou repetidas vezes, tentando adequa-se aquela circunstância. Observou a sua volta e o que conseguia ver era somente borrões, continuou se movendo, tentando a todo custo um espaço maior. Sem sucesso, sentiu algo a sua frente, sobre o seu rosto dificultando o movimento da sua cabeça. Elevou  suas mãos a boca e retirou o respirador que tanto incomodava, mas na sua completa inocência, acabou por engolir muito daquele líquido aquoso, fazendo com que ela se sufocasse por não conseguir prender a respiração.
Abriu e fechou os olhos  por diversas vezes, sentindo pela primeira vez o desespero e o medo da morte, invadir o seu interior. Naquele momento sentiu uma junção de coisas novas as quais nunca havia sentido antes.

Tocou o vidro a sua frente, e por um segundo esqueceu-se do desespero, apreciou o toque dos dedos em uma superfície sólida, estranhou de imediato, mas ao mesmo tempo sentiu algo reconfortante. Ela percebeu que algo ainda provocava desconforto, algo a mais estava causando dores em suas pernas e braços. Removeu as agulhas com rapidez, experimentando a pequena e momentânea sensação de liberdade, mesmo que não soubesse ainda exatamente o que significava se livre.
Naquele exato momento, sentiu-se tão sufocada e presa, que novamente havia sentido o desespero, sentiu uma necessidade demasiada de respirar. Simplesmente por instinto debatendo-se dentro da cápsulas acabou atingindo com força o vidro a sua frente, na luta pela sobrevivência os instintos movem o corpo, e ela conseguiu estilhaçar um dos vidros metálico mais resiste do mundo, sem precisar se esforçando muito.

***

Na noite anterior, antes de voltar para casa e depois da descoberta dos planos absurdos do pais, Olívia havia desconectado o tubo responsável por introduzir sedativos na cobaia, havia também reclinado a cápsulas para a vertical, de modo que fizesse com que  Violeta ficasse totalmente de pé ali dentro. Tudo era parte do seu plano e naquela altura a questão era tempo, ela iria precisar de tempo e sobretudo precisaria está bem, então cogitou uma última vez receber o sangue de Violeta, com a desculpa de ficar bem para ajudá-la, mas não conseguiu, sua consciência pesava só de imaginar a possibilidade.

A noite havia sido longa para Olívia, as dores se espalharam por todo o corpo, ela já não conseguia mais dormir direito. Seu estado de saúde estava extremamente ruim, de modo que para se locomover era preciso apoiar se em algo. E a simples tarefa de todos os dias, subir e descer o pequeno lance de escadas da própria casa, havia se tornado um grande impasse na vida dela. A falta de um medicamento eficaz, resultou em um impacto severo,  castigando cada pedacinho do seu corpo com dores continuas e intensas, levando ela lentamente a morte de dentro para fora.

A senhora que também descia a escada naquele manhã, segurou-lhes o braço esquerdo, dando apoio para que ela não despencase escada a baixo. O Homem que tinha por volta dos seus 50 anos, estava a frente das duas. Mantinha os braços  cruzados, maneando a cabeça negativamente, desaprovando as escolhas da filha.
Ele observou tudo em silêncio, até que aquele silêncio todo fora quebrado por Lúcia.

_ Você sabe que me dói ver você assim, filha?! – A voz era baixa e triste.

Ela não se deu ao trabalho de tentar explicar suas razões, então permaneceu em silêncio, sabia que qualquer discussão seria inútil.

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