CAPÍTULO XXVI (DUDA)

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~ Eduardo

Desde que era criança, nunca gostei de flores. É mais como um trauma do que não gostar. E, apesar de minha mãe amar, ela evitada dentro de casa, pois sabia que eu ficava apavorado quando via ela. Após adulto, piorou, pois sempre me lembra a morte dos meus pais. As brancas, eram as preferidas da minha mãe... uma pena ela nunca ter tido uma, pois seu amor por mim, era maior que o seu amor por flores. Ela dizia que as brancas significavam paz e pureza. Já o meu pai, achava incrível as pretas. Elas são raras e significam recomeço. Talvez por isso, preto seja a cor do luto, não por ser triste, mas por significar um recomeço.

Enquanto minha mãe era um doce de pessoa, meu pai era o oposto. Durante minha infância e adolescência, ele foi horrível. Além de um viciado em álcool, ele ainda batia em minha mãe, quando ela não queria bancar seu vício. Ele era meu herói, mas conforme eu crescia, eu menos deixava de vê-lo assim. A partir do momento em que pude revidar as agressões, eu o fiz.

Em uma das vezes, ele fora agredi-la e eu intervir. Nesse caso em especial, o soco que iria pegar nela, pegou em mim, causando a minha cicatriz. Foi nesse momento, que ele caiu em si. No outro dia, ele pediu desculpas e jurou nunca mais beber, mas a merda já estava feita, eu o odiava e jurei, que se ele encostasse um dedo nela, ou em Amélia, a qual era um bebê, eu o mataria.

De fato, ele nunca mais bebeu e todas às vezes que tentou se reaproximar de mim, eu me afastei mais ainda. Com isso, um amigo me levou em uma corrida de rua e eu fiquei encantado com aqueles carros, com o barulho, o cheiro dos pneus queimando. Tudo me encantou. Como um inconsequente, eu roubei um carro para correr. Eu mal sabia dirigir, por isso, além de perder a corrida, fui preso por furto de carro. Eu não queria preocupar minha mãe, mas alguém comunicou a meu pai e logo ele fora me soltar. Ele não disse nada, apenas me olhou com um olhar amistoso e fomos embora.

Eu poderia tê-lo perdoado como mamãe pediu, mas como perdoar 18 anos de maus tratos? Não é fácil.

Quando Amélia tinha 5 anos, minha mãe descobriu o câncer na medula óssea ao nível avançado. Nesse mesmo ano, descobri ser soro positivo. Não culpo a pessoa que sai, pois eu fui inconsequente em não usar camisinha. Tudo aconteceu tão rápido, o quadro da minha mãe piorando, meu pai tendo recaída pela tristeza. Muitas noites ouvi minha mãe implorar pela morte, pois os remédios não davam conta da dor que ela sentia. Dois meses depois ela faleceu. O meu mundo desabou naquele momento, quando eu soube da notícia. Meu pai teve uma recaída grande e quase fatal. Eu o ajudei, ao mesmo tempo, que trabalhava e cuidava de Amélia, a qual ainda tinha 5 anos. 1 mês depois, meu pai faleceu de overdose, me deixando com uma menina pequena para cuidar.

O meu mundo havia acabado. Mas eu não podia desistir, Amélia dependia de mim. Precisei me virar em seu pai e mãe. Aprendi a cuidar dela, não apenas como crianças, mas como uma menina. Foi difícil no início, mas como amor, tudo se arrumou. Minha mãe e meu pai tinham reservas e eu as usei com muita dor. Comprei um carro, tanto para transportar Amélia para os lugares, quanto para correr. Minha se tornou algo esgotante, mas que eu gostava. De manhã, enquanto Amélia estava na escola, eu era mecânico, a tarde eu cuidava dela e a noite, eu corria para ganhar dinheiro e esfriar a cabeça.

Amélia fora um amor de criança, ela não insistia nas coisas e mesmo assim, eu a mimei. Ela era a minha úncia família, então, tudo que eu queria, era que ela pudesse ter uma vida dentro da normalidade. Minha irmã, apesar de nova, entendia que nossos pais haviam partido. Aos 12 anos, ela fora diagnosticada com leucemia linfoide crônica. Eu achei que morreria quando ouvi o diagnóstico, mas ela tinha chances, pois estava no estágio inicial ainda. Logo começamos as sessões de quimioterapia. Foi horrível ver sua tristeza ao ver seus cabelos caindo após várias sessões. Eu quis absorve toda a sua dor. Eu fiquei careca quando ela decidiu raspar os cabelos. Perdi meus pais, mas não iria a perder também.

Em uma das corridas, conheci Estela... ou melhor, Patricinha. Ela fez meu coração bater mais forte a partir do momento que me olhou dos pés a cabeça. Há anos eu não tinha aquela sensação, no início eu fiquei assustado, mas logo, ao conversar com ela, apesar dá esnobes, ela se mostrou alguém legal. Saímos algumas vezes e eu decidi pedi-la em namoro. Tudo estava incrível, até eu deixar uma merda acontecer e rompermos o namoro. Eu queria tirar minha vida, eu fui muito idiota. Perdi a mulher que amava, por um descuido meu.

Logo conheci Bárbara, um dos motivos de me manter mais afastado dela, pois, antes eram amigas, mas, misteriosamente deixaram de ser amigas. Ela me apresentou seu irmão e nossa vibe bateu. Ele amava carros e corridas e isso nos aproximou mais, logo estávamos namorando, mas o relacionamento dos dois eram estranho. Quando estávamos os três, o que acontecia muito, eu mais parecia um intruso, do que namorado dele. Contudo, Bárbara me deu apoio emocional e financeiro, por isso, quando voltei com Estela, não deixei de falar com ela, mas ela estava estranha.

Com Estela, tudo parecia dá certo. Até consegui uma vaga para concorrer como piloto da Mercedes. Óbvio que sei que ela conversou com o cara que me avaliou e eu deixei claro para ele, que se fosse considerado a conversa dos dois, eu estaria fora. O cara sorriu e disse que via potencial em mim e que ela fora apenas a lanterna, que serviu para me iluminar. Ela odiaria ouvir isso. Com certeza, ela procuraria ele e bateria nele. Contudo, meu sonho, assim como, foi lançado para fora da pista. Pensei em Amélia e Estela, quando o carro capotou e perdi a consciência. Quando acordei, ou pelo menos penso assim, vi que estava em um local diferente, cheio de flores coloridas.

O sol é quente, mas sem ser demais. Pássaros cantam ao longe, mas um "bip" constante me deixa agoniado. Além do som dos pássaros, ouço alguém falar ao longe, uma voz familiar, mas que não consigo definir de quem seja.

Não sei há quanto tempo estou aqui e nem como vim parar, pois eu ando, ando e ando e nunca me canso. Do mesmo modo, que nunca acho nada. Só há eu aqui. O que faço aqui? Eu não sei.

— Eduardo, volta para mim... — Alguém fala. Me viro apressado e encontro uma mulher de cabelos vermelho e olhos azuis encantadores com a mão estendida para mim. Isso, meu nome é Eduardo! Como pude me esquecer de algo assim?

Duda, vem comigo, bebê. — Outra chama, surgindo atrás de mim. Essa é loira e com olhos cor de âmbar.

— Quem são vocês. — Transito meu olhar de uma a outra.

— Sou eu amor... Estela. — A ruiva fala. Lembro dela... a minha Patricinha. Sorrio e estendo meu braço.

— Sou eu, Bárbara. — A outra fala e eu travo.

— Barbie... — Me viro para ela. Enquanto Estela está com um semblante triste, Barbie sorri.

Fico dividido entre elas. Qual escolho? Por que devo escolher uma delas? Ambas estão com a aura fraca. Enquanto Patricinha tem uma aura branca ao seu redor, Barbie tem uma preta. Branco é paz e preto, é recomeço. Eu preciso recomeçar ou de paz?

— Ele nem me pediu em noivado. — É a voz de Estela. Me viro para ela. — Talvez ele não estivesse pronto. — Sua expressão é serena.

Sorrio e corro até ela. Eu sempre estive pronto, mas não sabia se você estava pronta, amor. Sempre será você, não importa quantas vezes eu tenha que escolher, você é a minha única escolha. Bárbara solta um grito estridente, mas só minha Patricinha é quem importa.

— Você aceitaria? — Pergunto, enquanto tento segurar sua mão, que agora é apenas uma leve brisa. Eu consegui?

Patricinha (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora