Ela entendeu finalmente que todas as palavras ditas não faziam sentido, ele não entendia uma palavra que dizia. Precisava ensina-lo seu idioma. Sabia que outros povos não falavam o mesmo que sua tribo, como um espirito negro iria entender suas perguntas? Se perguntava ela, tudo começou a fazer sentido. No fundo do seu coração existia a esperança de um dia rever sua mãe novamente e que talvez Xohis pudesse ajudar ela. Na esperança de acreditar que o pássaro poderia ser um ser do bem, mas mal Ilema teria conhecimento que muitas espécies já sofreram extinção em suas mãos.
Cinco meses se passaram. O Pássaro e a menina se tornaram cada vez mais próximos, ela focou em ensinar ele o idioma. E ele já entendia algumas frases, ela trazia objetos e ensinava as palavras de cada tipo para ele, começando pelo seu alfabeto. Se tornando a primeira em sua tribo a ensinar. Com suas mãos e movimentos ensinava cada significado de palavras de ação, com um pedaço de vara, desenhava alguns desenhos para facilitar, o pássaro aprendia rápido. Ela se divertia, e ria. Todos esses momentos ajudaram a se sentir menos sozinha com as divergências que aconteciam em sua vila; guerras, a perca da sua mãe, o afastamento de seu pai. Tudo isso era sofrido demais para carregar sozinha.
Ilema já tinha seus dezessete anos, seu corpo era bonito, bem estruturado e cinturada. Seus olhos verdes eram tão belos que chamavam a atenção da maioria dos meninos da tribo. Seu cabelo negro estava longo chegando até a bunda, além disso era uma mulher muito inteligente. Sempre formulando novas estratégias para as mulheres da vila, e seu talento para ensinar era incrível. A guerra que pairava no ar havia acabado, a sua tribo tinha vencido. Tantos longos anos de dores. Crianças órfãs de seus pais, mulheres viúvas. Ilema se pergunta porquê sua espécie fazia isso, e ela tentava encontrar a resposta. Se tornando a cada dia uma mulher de questionamentos, uma mulher que dúvida, acredita, e quer buscar melhorar.
O tempo passou e as aulas estavam diferentes, dessa vez era Ilema quem aprendia. Com ele aprendendo seu idioma a comunicação entre os dois se tornou mais fácil. Suas perguntas eram enigmáticas e misteriosas, elas carregadas de curiosidade. Ilema se sentia cada dia mais próximo da visão de grandes façanhas, pela manhã Ilema passava com ele, durante a tarde iria ajudar nos afazeres da vila. Durante suas viagens, sua mentalidade se tornou diferente das outras pessoas, seu padrão de beleza era diferente em relação a tudo que acontecia a sua volta, seu senso crítico estava alto.
As pessoas não ligavam muito para as suas palavras, diziam que mulheres deveriam se manter silenciadas e com a sua perspectiva aberta para o campo, em nutrir seus homens e realizar os seus desejos. Ela se perguntava por tudo que acontecia, o porquê as mulheres serem as únicas responsáveis pelos serviços de alimentos, enquanto os homens descansavam e comiam, mulheres poderiam ser caçadoras também.
Com o fim da guerra, a tribo começou a prosperar melhor. O semblante que o povo carregava de tristeza foram transformados, mas as cicatrizes pelas perdas ainda eram visíveis.
— Eles venceram, as mortes acabaram — disse ela, que estava sentado próximo da gaiola.
— Interessante, e o que vai vir a seguir?
— A paz, as mortes vão acabar e toda a dor e sofrimento que passamos com as perdas, irão embora. Finalmente poderia ver mais meu pai, estar próximo dele. Talvez assim a gente possa viver o que mamãe sempre quis. –
— Perca? — perguntou o pássaro em dúvida.
— Sim, perca é quando alguém muito próximo morre e se encontra com os espíritos, e só podemos ver eles na outra vida. Porém nunca mais poderemos ver eles agora.
Depois de tanto tempo preso, ele se interessou pelas palavras que a menina dizia. Percebeu como seu corpo crescia de tantas formas espontânea. Gostava das palavras que ela o lhe ensinava. Nunca imaginaria como dois seres ficam junto e davam origem a outro ser. Talvez isso seja melhor do que hibernar, pensou ele. Vou aproveitar o maior tempo que estou aqui e aprender o máximo sobre essa raça misteriosa. Talvez Pai, o seu caminho até esse planeta tenha um significado maior para a existência.
— De onde você veio, cadê seus irmãos? Você tem pai?
O silêncio pairou no lugar, e ele não a respondeu.
— Entendo, você também os perdeu. – disse Ilema, então baixou a cabeça e ficou olhando para o chão, lembrando de sua mãe preparando o café da manhã. Aquela lembrança não saia de sua cabeça, do cheiro forte do café, das fragrâncias feitas pelo ensopado de coelho.
Ele começou a pular eufórico batendo nas paredes.
— Tá bom, não quer falar sobre isso — disse ela. Ela mostrou uma joia que ganhou. —, olhe, não é linda? Ganhei de um amigo de meu pai.
— Realmente é, sua tonalidade é de vários aspectos diferentes. Cores imperceptíveis para os olhares. O que é isso?
— São esmeraldas — disse ela com um tom não muito alegre. —,estou recebendo vários presentes da maioria dos meninos da tribo, só foi fazer um tanto de idade. A maioria das jovens de nossa idade já estão comprometidas. Mas eu não quero isso — exclamou Ilema. —,daqui dois dias eu volto aqui para gente conversar.
Ela se levantou,deu os primeiros passos em direção a saída da Cabana.
— Não, espere – disse Xohis, o pássaro.
— Eu preciso ir – respondeu ela docilmente olhando para os olhos de Xohis.
Saiu por uma porta improvisada para sua altura, tinha crescido muito para se esgueirar pelo buraco que tinha na parede. Respeitando sua vontade, seu pai começou a respeitar sua entrada na cabana e não considerava como perigo. Ele achava que o pássaro agora, era só um abrigo para descansar a mente.
Quando Kahnor entrou na cabana para ver por si mesmo, o pássaro estava quieto. Em seu pensamento o pássaro era indefeso, não poderia fazer nenhum mal a Ilema, sabia que não poderia se comunicar com ela. Claro que Kahnor notou suas visitas todos os dias. Entendia que o sofrimento das guerras poderia causar para uma jovem menina, e perder a mãe tão cedo fez com que se isolasse mais ainda. As raízes da árvore anciã são forte, sempre irá protege-la. Então proibir de visitar ele, só iria trazer mais sofrimento.
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Manto Vermelho - Ascensão
FantasyE se a história do nosso passado fosse diferente? nos mostraram a verdade, os Deuses realmente eram astronautas. Acompanhe a trajetória do surgimento da primeira civilização humana, e a origem dos poderes sobrenaturais que rodeiam esse novo universo...