Capítulo 8 - Flávio

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Que noite mais louca. Pareceu até um daqueles sonhos sem pé nem cabeça que você acorda pensando "que bizarrice foi essa?". Mas ao mesmo tempo, esse sonho era bom, e você não queria ter acordado tão rápido.

Jamais imaginei que seria salvo naquele momento tão desesperador. E menos ainda que conheceria alguém tão legal.

Nunca conheci uma garota com personalidade igual à Raquel. Ela não sai de casa, não tem muito contato com as pessoas, mas é extremamente autêntica, sem frescura, tem senso de humor e extrovertida demais. E além de tudo, curte ficção e coleções. É meio que o melhor amigo que eu gostaria de ter.

Nós nos divertimos bastante conversando sobre os nossos gostos e sobre a vida em geral, até a mãe dela aparecer e eu ter a brilhante ideia de me esconder dentro da piscina.

A minha roupa ficou encharcada, não teve jeito. Eu tive que me secar e vestir um moletom velho dela e uma calça de pijama. Não eram do meu tamanho, obviamente, mas numa situação dessas, isso não tem muita importância.

Assim que conseguiu parar de rir da minha cara, ela me perguntou por que eu não me escondi de baixo da cama, como o Patrick, amigo dela, faz toda vez que a mãe dela resolve entrar lá. Me senti a pessoa mais burra do planeta, mas custava ter me dado essa ideia antes de eu mergulhar naquele gelo?

Assistimos a alguns episódios de Zombies of Vietnam, comentando cada cena, claro. Inevitável.

Eu fiquei um pouco receoso de deitar na cama dela para assistir à série. Não é toda a garota que recebe um estranho no quarto e se sente confortável em dividir a cama com ele, mesmo que seja apenas para assistir uma série. Mas ela me deu toda a liberdade do mundo quanto a isso.

Quando começamos a pegar no sono, achamos que era melhor não corrermos mais riscos, então coloquei um travesseiro e um tapete felpudo em baixo da cama, e ali mesmo eu dormi.

Na verdade, não sei se duas horas de sono pode ser considerado "dormir". Eu acordava a todo momento. Apesar de eu estar bem escondido, a adrenalina continuava a mil. Sabe-se lá o que poderia acontecer.

Ao perceber que já era de manhã, achei melhor ir embora. Quanto antes eu saísse dali, melhor. Para minha surpresa, a Raquel já estava acordada também e me acompanhou até o terraço, me ajudando com a corda para descer pelo parapeito. É assustador descer por aquilo, acho que é pior do que subir.

Não pude ir embora sem pegar o número de telefone dela. Nós não podíamos perder o contato de jeito nenhum. Não conseguimos terminar a série juntos em uma só noite, mas continuaríamos a comentá-la por mensagens. E ela adorou a ideia. Mesmo só tendo acesso à internet de vez em quando.

Chegando ao chão do terreno, levei um leve susto ao ver que os dois garotos ainda estavam lá. Porém, dormindo na grama, para a minha sorte. Nem deu para imaginar o quanto eles beberam.

E o Cam continuou ali firme e forte me esperando. Já estava acordado e pronto para ir embora. Olha, eu devo muito a esse cachorro... Por causa dele, vivi uma das maiores aventuras da minha vida e ainda fiz uma amizade nova. Duas, se for contar com o Patrick. Se bem que ele não conversou muito comigo...

Eram seis e meia da manhã, e por mais que eu tivesse adorado tudo aquilo, eu já não via a hora de chegar em casa para dormir de verdade. Após quase meia hora pedalando (sim, a Raquel mora longe), cheguei em casa, e o Marcos e o Luiz estavam prontos para sair.

- Cara, onde você estava? - O Luiz perguntou. - O Marcos acordou e você não estava no quarto. Ele me acordou preocupado, nem precisei de despertador hoje por causa disso. Você não é de fazer isso, está tudo bem?

Um Novo Conto de RapunzelOnde histórias criam vida. Descubra agora