Imaginei que o processo fosse menos complicado. Mas tive que aguardar e fazer tudo o que as autoridades me pediram. Ainda bem que o Flávio me acompanhou em tudo...
Passaram um tempo investigando todas as provas contra a Heloíza que entregamos a eles. Eu ainda tive que ir ao Departamento de Polícia algumas vezes para explicar várias coisas. Interrogaram a minha vida de cabo a rabo, sem esquecer nenhum detalhe.
Que saco! Eu só queria acabar com isso tudo logo e conhecer os meus pais... O baque ainda era recente, não tinha nem uma semana que eu descobri que não sou filha de quem me criou, mas mesmo assim, eu já tinha uma vontade enorme de encontrar com a minha família biológica. Muitas pessoas estariam confusas no meu lugar, querendo dar um tempo antes, esperar a poeira abaixar, mas eu não.
Imagine passar a vida inteira chamando de "mãe" uma pessoa que te despreza friamente e quer acabar com a sua vida (em todos os sentidos). Você passa anos desejando uma família que te dê amor, carinho, atenção, quer ser importante na vida de alguém, dar qualquer motivo de orgulho. E de repente, você descobre que essa pessoa que sempre te descartou não é a sua mãe, e que há uma família que te amou e te procurou desde o dia que você nasceu. Não sei para você, mas para mim soou como um milagre divino.
Não demorou muito para que a notícia se espalhasse na mídia. Em todo o lugar lia-se "Alícia Corrêa pode ter sido encontrada após dezoito anos de buscas.".
Logo que terminaram de investigar as provas, contrataram um advogado público que entrou em contato com o casal, dizendo que tudo se encaixava com o caso deles e se quisessem, poderiam realizar o teste de DNA. Disse o advogado que os dois nem pensaram antes de responder que sim. E aí, já sabe... Com a emoção deles, imagino, a notícia caiu na boca do povo e estourou nas redes sociais. A única coisa que pedi era que meu nome e minhas fotos não fossem divulgados antes do resultado do teste... Eu tinha altíssimas esperanças, mas nunca se sabe. Se meu nome é espalhado por aí e descobrem que não passou de um engano, eu fico marcada pelo resto da vida como "A Alícia Corrêa impostora".
Minha vida já havia mudado na escola. Muita gente soube do que aconteceu lá no Emissário, foi uma notícia que se espalhou por toda a Baixada Santista. Pessoas que nunca nem tinham olhado na minha cara, vieram me perguntar sobre, querendo saber como era a minha vida com a minha "mãe". Eu não queria dizer ainda que ela podia nem ser minha mãe, mas respondi a verdade. Falei que era abusiva, cruel, e que me fez sofrer a vida toda. Acabei ficando mais conhecida no colégio, e foi uma sensação muito engraçada. Um dia você é só mais um, no outro, é quase uma celebridade respondendo às imprensas.
Fiquei morando na casa do Patrick durante esse tempo. A avó dele me recebeu com todo o carinho, fez questão de continuar me ajudando nesse momento complicado. O Flávio queria que eu continuasse lá com ele, mas eu não quis atrapalhar os meninos que já estavam acostumados com a mesma rotina há tanto tempo. O apartamento era pequeno, ter mais uma pessoa ali mudaria tudo. Sem contar que três homens morando sozinhos precisam do seu espaço, né?
Mas mesmo assim, eu não parava lá. Eu ia ver o Flávio todos os dias, tanto para resolver os assuntos burocráticos, quanto para passear. Era legal quando juntávamos a turma toda para passear. Eu, o Flávio, os meninos, as namoradas deles, e o Patrick, que não era tão sociável assim, começou a sair com a gente também. Uma coisa que me deixou muito feliz foi ele e o Flávio se tornarem amigos. Não tinha mais indiretas, farpas, nada. Pelo contrário, eles conversavam bastante. Parece que foi só a nuvem negra ir embora da minha vida, que tudo começou a ficar ensolarado como deveria...
Aproveitei bem esse tempo enquanto esperava ser contatada para finalmente ir fazer o teste. E quando eu menos esperei, esse dia chegou. Não demorou tanto, mas para quem está ansioso, sempre parece uma eternidade.
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Um Novo Conto de Rapunzel
Roman d'amourRaquel tem um sonho: ir ao show da sua banda favorita que se apresentará pela primeira vez no Brasil, bem no dia do seu aniversário. Porém, realizá-lo não é tão fácil quando se tem uma mãe rigorosa que nunca lhe deu liberdade, proibindo-a de sair de...