Capítulo 13 - Raquel

88 9 2
                                    

Não consegui me concentrar na aula, e olha que eu me esforcei muito. Nem sei o que eu escrevi no caderno. Apenas olhei para a lousa e copiei. Já era de se esperar que eu ficasse assim, era o dia da resposta do sorteio mais importante de todos, não adiantava nada fingir que não estava ansiosa. Tentei ao máximo não criar expectativas, mas era impossível. Eu sabia que noventa e nove por cento das minhas chances era de que eu não ganhasse nada, porém, se ainda existe aquele um por cento, você automaticamente o transforma em esperança total. Pelo menos, eu sou assim. Não consigo deixar de colocar expectativa em algo que eu quero muito que aconteça.

Levei o celular para a escola, e olhava de dez em dez minutos para saber se o resultado já estava disponível, mesmo com o aviso do site de que provavelmente, só sairia à tarde. Eu já estava ficando aflita, eles precisavam adiantar, se não, eu só poderia olhar quase de madrugada no celular do Patrick, isso se ele fosse mesmo me ver.

Para piorar, o dia era um daqueles em que parece que o tempo não passa. Parecia que era só para que a minha ansiedade aumentasse.

Sendo a escolhida por alguma força do universo para que as coisas sejam sempre mais difíceis para mim, o resultado não saiu de manhã e eu fui para casa sem resposta nenhuma após uma manhã improdutiva de estudos que eu desperdicei à toa.

Sentei à mesa para almoçar, e a minha mãe, que almoça comigo só de vez em quando, resolveu aparecer dessa vez. Eu ensaiei para falar com ela desde que entrei no carro quando foi me buscar. Seria o destino, talvez? Se fosse, eu precisaria usar as palavras certas para fazer valer a tentativa. Não é fácil enrolar a minha mãe, mas tudo se consegue se fizer do jeito certo.

- Se serve! - ela disse colocando a bandeja com o frango na minha frente e sentando-se para comer seu prato vegetariano diário.

Eu me servi, dei umas garfadas e esperei um tempo para de fato falar o que eu queria.

- Mãe...

- O que? - ela perguntou olhando para o prato ignorando a minha imagem. Estava com o humor daquele jeito, eu podia sentir... mas quando é que não estava?

- Eu... eu queria muito pedir uma coisa, mas não sei se você deixaria.

Ela bateu com as mãos na mesa, me olhou irritada, e disse:

- Se for me pedir para ir àquele show de novo, eu juro que eu...

- Não! - falei o mais rápido possível - Não é sobre o show.

Ela diminuiu o fogo que parecia sair pelas suas narinas e voltou a olhar para o seu prato.

- Fala, então! O que é?

- Então... Não é uma coisa muito absurda, e é só por hoje, eu prometo. Eu juro que não peço...

- Desembucha, Raquel! Que saco! Demora meia hora só para pedir uma coisa, parece aqueles mendigos.

Por um momento pensei que talvez eu pudesse ter noção de como os mendigos pedem as coisas se eu saísse mais e os visse na rua. Mas, deixei passar, não era hora de reclamar da minha prisão no ouvido dela.

- Eu queria que você me deixasse ligar a minha internet. Só hoje.

Ela me olhou inexpressiva. Parece sempre estar ironizando alguma coisa, e nunca sentindo nada. Não sei explicar. Juro que queria entender...

- Para que? - Perguntou.

- É para um trabalho. - Inventei - Preciso fazer uma pesquisa hoje à tarde, e tenho que entregá-la amanhã.

Um Novo Conto de RapunzelOnde histórias criam vida. Descubra agora