Capítulo 28 - Flávio

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Pedalei como nunca. Confesso que quase fui atropelado, mas não me importei. Nada importava. Ela queria me ver! Queria conversar comigo! Ela não me odiava. Pelo menos não da forma que eu pensei. Que bom que enviei aquela mensagem...

O Cam quis ir junto, mas dessa vez, eu não o levei. Quanto menos eu me atrasasse para vê-la, melhor.

Cheguei no terreno e encostei a bicicleta no muro como sempre. Mas ao pegar o celular para avisar da minha chegada, vi que a corda já estava jogada. Que estranho. Se bem estou certo, parecia arriscado deixar a corda ali antes de eu chegar com a mãe da Raquel podendo aparecer a qualquer momento.

Por via das dúvidas, mandei mensagem perguntando se podia subir, e na mesma hora ela visualizou e pediu que eu subisse.

Não perdi tempo. Escalei aquela corda mais rápido do que qualquer outra vez. Foi cansativo, mas a minha vontade de vê-la era maior que qualquer coisa.

Pulei o parapeito para dentro sorrindo, mas meu sorriso se esvaiu mais rápido do que eu imaginaria. De fato, alguém estava me esperando com um celular na mão mandando mensagens para mim. Mas não era a Raquel.

- Você chegou rápido, hein? Nem deu tempo de eu terminar o meu vinho.

A mãe dela, Glória, me olhava sarcasticamente sentada em uma das cadeiras de piscina tomando uma taça de vinho com um garrafão ao lado no chão.

Paralisei. Olhei para os cantos procurando pela Raquel, mas ela não estava em lugar nenhum. Éramos só eu e aquela mulher. A Raquel não exagerou quando contou que ela é intimidadora... Os olhos verdes - que claramente eram lentes - semicerrados olhando para o fundo da minha alma e as sobrancelhas curvadas me causavam calafrios. Que mulher assustadora.

- Você deve ser a Dona Glória, não? - Eu não sabia muito o que falar diante daquele impacto. - Muito prazer, eu sou o...

- Eu sei quem você é. Que maravilha finalmente conhecer o marginal que sequestrou a minha filha.

É, e a Raquel também estava certíssima quando disse que ela era louca.

- Marginal? Senhora, acho que houve algum mal entendido. A sua filha...

- Eu não pedi explicação! - Me interrompeu novamente. - Flávio, não é? Meu querido, eu quero que me diga quem você pensa que é para invadir a minha casa por tanto tempo visitando uma jovem menor de idade e se achando no direito de tirá-la de mim quando ela faz dezoito anos?

Ou ela não sabia do que havia realmente acontecido, ou se forçava a entender outra coisa. Eu não tirei ninguém dela. A Raquel que quis a minha ajuda para fugir, e sendo ela já maior de idade no dia de seu aniversário, eu a ajudei. E eu não invadi lugar nenhum, ela me ofereceu ajuda quando eu corri perigo, e depois, todas as vezes que eu a visitei foi com o seu consentimento. Tentei explicar exatamente com essas palavras, mas a Glória não quis me dar ouvidos.

- Não preciso que você se justifique. O que eu precisava saber, eu já sei. Li toda a sua conversa com a Raquel aqui no celular dela. Aliás, duas antas se merecem, não é mesmo? Só sabem falar de zumbi. Patéticos...

- Onde está a Raquel? - Perguntei mais sério, tentando disfarçar o fato de estar ofendido com o comentário.

Provavelmente, a Raquel não viu aquela mensagem e nem tinha a intenção de me perdoar. Foi a mãe dela que me respondeu, e acredito que se dependesse dela, a Raquel nunca veria o que eu escrevi.

- Não interessa! Você não vai ver a Raquel nunca mais! Entendeu? - Ela se levantou inclinando-se em minha direção de forma ameaçadora.

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