Um Novo Conto de Rapunzel

Capítulo 26 - Flávio

Flávio: Eu já soube de tudo o que aconteceu. Você pode não acreditar em mim, mas eu garanto, Raquel, o que quer que aquela menina no banheiro tenha dito a você, é mentira. Eu sei que agora você me odeia, não vai acreditar em uma palavra minha, mas eu estou sofrendo tanto quanto você com isso. Raquel, eu sou apaixonado por você desde o dia que te conheci. Eu só não havia percebido... Mas não soube administrar bem o meu sentimento, e acabei criando uma confusão sem tamanho. Vou entender se nunca mais quiser falar comigo, mas quero que você saiba que independente de qualquer coisa, nunca conheci garota como você. E nenhum boneco de coleção é mais importante que isso. Eu queria nunca ter visto esse boneco no seu quarto... Todas as vezes que eu fui até aí e quase morri para subir aquela corda, nossas piadas, a sua alegria naquele show, tudo isso significou muito para mim. E aquele beijo, Raquel... Vai ficar guardado em mim para sempre. Bom, pode ser que você acabe nunca lendo essa mensagem, mas por favor, se ler, me responda qualquer coisa só para que eu tenha certeza de que você chegou bem em casa. Essa é a minha maior preocupação agora. Espero que um dia, você me entenda...

Eu não esperava que aquela mensagem fosse vista, quanto menos respondida. Mas precisei expressar o que eu estava sentindo, mesmo que em palavras tão confusas, e ainda sem explicar um terço da importância que ela tinha para mim.

- Será mesmo que ela te bloqueou? - O Marcos perguntou.

- Não dá para saber. Ela não tem mais acesso à internet, as mensagens não chegam de qualquer jeito. Fora que eu nem sei se ela chegou mesmo em casa. Ela desapareceu lá no meio. Como eu vou ter certeza de que uma menina que nunca andou nem por outro bairro, conseguiu voltar para casa sozinha de outra cidade?

Até o Marcos e o Luiz estavam preocupados. Desde que acordei, não parei de falar sobre tudo o que havia acontecido no dia anterior. Fui do início maravilhoso ao final trágico. E os dois concordaram comigo, a Raquel não tinha a menor condição de voltar sozinha.

Já não me importava tanto o fato de ela não querer me ver nunca mais. No momento, eu só queria me certificar de que ela estava bem.

Depois de dizer tudo o que eu precisava para a Sara, saí da arena em busca da Raquel. Segui o caminho todo de volta olhando pela rua procurando por um vestido lilás com uma mochila e uma trança loira, mas não encontrei nada. Na estação de metrô, perguntei aos seguranças e expliquei todas as características dela, mas nenhum me deu uma resposta positiva. Segui o caminho de volta, sempre perguntando e olhando para todos os lados esperando encontrá-la durante alguma baldeação, mas foi em vão. Minha última esperança era achá-la na rodoviária, porém, também não tive sucesso. Perguntei nos guichês de todas as companhias de viação, ninguém se lembrou dela pelas características que eu descrevi. O que eu faria?

Comprei minha passagem de volta e não voltei em paz no ônibus. Além da preocupação, a angústia de ela não querer mais nem estar no mesmo ambiente que eu, me consumia. Chegando em casa após a viagem péssima de ônibus, liguei para ela, mandei mensagem, mas nem sinal de vida. Ela provavelmente não me responderia mesmo naquele dia, então achei que o melhor a fazer era chorar e dormir. Ou pelo menos tentar...

Levantei no outro dia já tentando contatá-la de qualquer jeito. Mas tudo seguia na mesma. Continuei tão nervoso quanto antes, e os meninos me deram todo o apoio moral do mundo. Me ouviram o dia todo... E o melhor, trouxeram o Cam para dentro do apartamento na tentativa de que eu ficasse melhor.

O Cam ficou quieto deitado no meu colo enquanto eu fazia carinho na cabeça dele. Pareceu sentir a minha dor e ter embarcado na minha melancolia. Fora o Luiz e o Marcos, eu não podia desejar companheiro mais fiel que o Cam...